O Presente (The Gift, EUA, 2015)
Diretor: Joel Edgerton
Elenco: Joel Edgerton (Gordo), Rebecca Hall (Robyn), Jason Bateman (Simon), Allison Tolman (Lucy), Tim Griffin (Kevin 'KK' Keelor), Busy Phillips (Duffy), Adam Lazarre-White (Ron).
SINOPSE: Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) casaram há pouco tempo e estão muito felizes até o dia em que ele reencontra Gordo (Joel Edgerton), um colega de escola. Um segredo do passado dos dois vem à tona e Robyn se sente cada vez mais insegura perto do companheiro.
"Nem todo presente é bem vindo"
Em um dado filme X, um personagem
obscuro do passado do protagonista aparece de surpresa, e você como espectador
logo desconfia que tal personagem está em busca de algum tipo de vingança,
embora ele soe amigável. E o filme atende tais expectativas. Há um cachorro que
pertence aos protagonistas, e você logo deduz que algo acontecerá ao animal, e
o roteiro atende essa expectativa. Você espera jumpscares em momentos
inoportunos, e o longa atende tal expectativa. Você espera algumas reviravoltas
na trama, algumas das quais você até mesmo não tem dificuldades em adivinhar. E
no filme acontecem várias. Quantas vezes o leitor já viu algum filme contendo todos os elementos listados acima? Provavelmente
várias, assim como eu. Então podem imaginar qual não foi a surpresa deste que
vos escreve ao assistir a um filme que tinha tudo para cair nas mesmas
armadilhas do gênero, mas que dribla (ou ainda, usa com maestria) várias das
convenções do thriller de vingança, conseguindo atingir o espectador em
cheio, vacilando em raríssimos momentos.
O Presente conta o sina do
casal Robyn (Hall) e Simon (Bateman) que, recém mudados para os subúrbios de Los Angeles por causa do emprego do marido, recebem a inesperada
visita de Gordo (Edgerton) que se trata
de um antigo colega de escola de Simon, embora este pareça a princípio nem se
lembrar daquele. Eis que então Gordon começa a presentear frequentemente o
casal, bem como visitar a residência deles sem nunca ter sido convidado, e sua
gentileza e cuidado excessivos fazem o casal (especificamente o marido) desconfiar do
sujeito, que parece ter algum tipo de conta para acertar com o personagem de
Bateman.
Beneficiado por um elenco
homogeneamente inspirado, com destaque para Rebecca Hall, O Presente
consegue prender o espectador mesmo contando com um início formulaico e até
previsível. Mas ao construir a dinâmica entre aquelas pessoas, o roteiro de Joel Edgerton (que também atua e assina a direção em seu primeiro longa) não só fornece pistas sobre o caráter de cada personagem, mas também permite
que o próprio espectador brinque de detetive e antecipe alguns acontecimentos
que virão posteriormente, algo que poderia estragar o entretenimento, embora
acabe acontecendo justamente o contrário, devido às sutilezas com que alguns
desses detalhes aparecem. Repare, por exemplo, nas várias ocasiões em que Simon está em reuniões sociais com Robyn e como ele sempre toma a frente da mulher,
raramente permitindo que ela fale por si só, revelando seu caráter machista e
superprotetor, que será importante no desenrolar do terceiro ato da trama.
E por falar em terceiro ato, se
torna incrível como o clímax leva a sério o conceito de suspense e é construído
com elegância e cuidado pelo diretor-roteirista Edgerton. Mesmo que alguns consigam adivinhar de
antemão o que está por vir, é de se admirar a coragem na construção de um
desfecho tão perverso (e coeso) para os padrões hollywoodianos, que consegue
tirar o longa de um potencial lugar-comum. A conclusão a que consegui chegar é
que O Presente deve soar como obra-prima para aqueles menos acostumados
às convenções do gênero, e que mesmo aqueles mais escolados devem admirar a
engenhosidade do roteiro em conseguir transformar um suspense que em mãos menos
hábeis se transformaria num monótono passatempo genérico.
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