Estrela Radiante (Brasil, 2013)
Diretora: Fabiana Servilha
Elenco: André Ceccato, Fabio Neppo, Valdano Sousa, Débora Muniz
Maquiagem: Fritz P. Hyde
SINOPSE: Um humilde homem do campo tenta entender o que aconteceu com seu amigo após este entrar em contato com um estranho objeto que caiu do céu.
Quando assisti pela primeira vez ao curta-metragem Estrela Radiante, durante o festival de aniversário de 13 anos do Boca do Inferno, impressionei-me com a técnica apurada, que diferenciava o curta dos demais exibidos naquele dia, não menos fantásticos. Além da técnica, durante e após o filme algo que não saiu de minha cabeça foram elementos do curta que remetem ao acidente radiológico que sempre me intrigou e assustou, envolvendo a contaminação com Césio-137, ocorrida no Brasil em 1987. Nele, um aparelho utilizado para radiografia contendo o elemento em sua forma radioativa foi encontrado por catadores em uma clínica desativada e aberto, liberando o composto responsável por contaminar toda uma região e causar a morte a curto e longo prazo de várias pessoas. Além do trágico evento, parte da trama também me lembrou do ótimo conto Eu Sou o Portal, de Stephen King, que lida com um astronauta tomado por um patógeno alienígena.
O enredo do curta segue um humilde homem do campo (André Ceccato), contando com a ajuda de um único amigo (Fábio Neppo), que o visita e lhe dá apoio, enquanto os outros habitantes da vila o excluem do convívio por ele ter sido tomado por um mal não identificável, que o deixa adoecido e cheio de feridas asquerosas pelo rosto e corpo (aliás, palmas para o trabalho de maquiagem de Fritz P. Hyde, conhecida figura no cinema nacional independente e diretor do impressivo Moroi). Merece menção a participação, ainda que curta, da veterana Débora Muniz, atriz de filmes como Perversão e Encarnação do Demônio.
Cuidando com muita atenção de todos os detalhes, a produção investe num crescendo de tensão e suspense, beneficiada pela trilha incidental bastante discreta e por planos cuidadosos e frequentemente longos que permitem estabelecer uma identificação do espectador com o que está ocorrendo, algo que seria prejudicado caso a diretora-produtora-roteirista, ao lado da montadora Fabiana Santos Ferreira, optassem por cortes rápidos.
Filmado com um orçamento muito modesto, feito em esquema de guerrilha e com muita força de vontade de Servilha, o curta extrai de todos os envolvidos um trabalho admirável, com destaque para a atuação de entrega de Ceccato, premiada no Festival ArtDeco, e a fotografia de Neo Distortion, que explora muito bem as luzes naturais, sombras e as paisagens do cenário campestre. O desfecho misterioso e arrepiante encerra de maneira correta todo o bom trabalho que vinha sendo apresentado até então.
Fabiana Servilha vem mostrando-se como uma das maiores promessas do horror nacional (nos curtas, ela já é uma realidade) e mal posso esperar para acompanhar os próximos trabalhos da talentosa cineasta paulistana.
NOTA: Crítica publicada originalmente no site Boca do Inferno
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