Direção: Marjane Satrapi
Elenco: Ryan
Reynolds (Jerry/Mr. Whiskers (voz)/Bosco (voz)), Gemma Arterton (Fiona), Anna Kendrick (Lisa), Jacki Weaver (Dra. Warren), Ella Smith (Alison),
Paul Chahidi (Dennis Kowalski), Stanley Townsend (Xerife Weinbacher), Adi Shankar (John), Sam Spruell (Dave), Valerie
Koch (Mãe de Jerry), Gulliver McGrath (Jerry jovem), Paul Brightwell (Padrasto de Jerry), Alessa Kordeck (Sheryl), Michael
Pink (Jesus), Ricardia Bromley (Sheila Hammer).
SINOPSE: Jerry é um cara bacana que chama a atenção das garotas. Mas há um
problema: ele conversa com o gato e o cachorro da casa. Mr. Whiskers, o
felino, convence o protagonista a matar as mulheres com quem sai.
Contém
pequenos spoilers
Combinar gêneros
tão antagônicos como a comédia, o horror visceral e o drama
psicológico é uma tarefa um tanto difícil. Como Stephen King
escreveu uma vez sobre tais gêneros na literatura, em mãos inábeis
uma comédia pode tornar-se um lamento fúnebre e o terror provocar o
riso involuntário. Felizmente quando a mistura é bem feita, temos
geralmente uma grata surpresa. Esse é o caso de As Vozes,
filme cuja trama é centrada na pequeníssima cidade de Milton, onde
o operário de uma fábrica de banheiras, Jerry (Reynolds) em
constante acompanhamento psiquiátrico, acaba ficando obcecado por
Fiona (Arterton), uma colega de trabalho, enquanto ouve os conselhos
de seu gato e cachorro de estimação, que funcionam para ele quase
como figuras do anjinho (o cão) e diabinho (o felino). Os problemas
de Jerry começam quando um encontro amoroso toma um rumo
inesperadamente mórbido.
Dominado
por cores fortes, a começar com o pink
berrante nos detalhes, uniformes e até mesmo nas empilhadeiras da
fábrica onde Jerry trabalha, o desenho de produção de Udo Kramer
(Caçadores de Emoção: Além do Limite)
cria para o filme uma estética de mundo da maneira como o personagem
enxerga, deixando claro ao espectador que a maior parte do que vemos
se constitui numa fantasia criada pela mente problemática do
protagonista, forçando inclusive uma aproximação psicológica com
o rapaz, como também executado no remake de
Maníaco (naquele tínhamos até mesmo a câmera subjetiva para ilustrar tal efeito). E
a escolha do ator ajuda muito nessa identificação e empatia. Aqui
Ryan Reynolds entrega uma de suas melhores performances, num papel
que requer muitas nuances de interpretação. Repare, por exemplo,
quando seu personagem explode no consultório de sua psiquiatra (a
ótima Jacki Weaver) e logo em seguida exibe um comportamento mais
calmo; já em outros momentos demonstra genuína ternura com a
personagem de Anna Kendrick, ou um pesar profundo ao se lembrar de
seu problemático passado; convencendo igualmente em todos esses
momentos. Vale lembrar ainda que Reynolds foi o responsável pela
dublagem das vozes do título. Ainda no elenco, homogeneamente
interessante, temos Gemma Arterton como um genuíno interesse
romântico, que apesar de nunca chegar a ser tridimensional, convence
com seu charmoso sotaque britânico e carisma. Já Kendrick emprega
mais uma vez sua meiguice no papel de Lisa, uma carente, porém
apaixonada colega de Jerry.
O
mais surpreendente em As Vozes,
no entanto, é o equilíbrio perfeito entre o cômico e o trágico
com que Satrapi (do premiado Persepolis)
dirige o roteiro de Perry (responsável por, veja só, Atividade
Paranormal 2). Em um momento,
quando Jerry ouve batidas na porta de seu escuso lar, damos
gargalhadas ao ouvir seu cão Bosco correr ao local dizendo "Eu
levarei a bala por você, Jerry"
ou "Eu
te dou cobertura",
sob protestos do gato
Mr. Whiskers. Já em outro instante, quando o protagonista abre sua
geladeira e percebe o que de fato se encontra lá dentro, somos
imediatamente transportados para a cruel realidade junto com o
personagem. Funcionando muito bem até os créditos finais (quando
até mesmo Jesus Cristo é visto dançando Sing a
Happy Song) e embalado
por uma trilha sonora deliciosa de Olivier Bernet, o longa se
configura como uma elegante comédia dramática, já que por trás
das animadas vozes que preenchem o filme, encontra-se um pesado drama
sobre uma mente perturbada.
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