*Artigo originalmente elaborado em comemoração aos 15 Anos do site Boca do Inferno
Em geral quando o
público aficionado por horror quer conferir um longa do gênero, a
ida até os vários multiplexes existentes no país não costuma
ajudar muito. Relativamente pouco frequentes nas salas nacionais,
filmes de terror quando chegam são, em geral, aqueles bancados por
grandes estúdios que não mantém regularidade na qualidade (não é
raro que os cinemas brazucas se entulhem de remakes e fórmulas
prontas). Além disso, não é raro o gigante atraso com que algumas
produções chegam ao Brasil. Alguns exemplos incluem o remake de O
Massacre da Serra Elétrica (2003) que só aportou por aqui em
2005 numa estreia discretíssima. Mais recentemente tivemos mais duas
produções de qualidade atrasadas e lançadas sem alarde: Corrente
do Mal e Boa Noite, Mamãe. Para além do atraso e da
escolha duvidosa dos distribuidores que decidem quais filmes
estrearão nos cinemas daqui, filmes do gênero costumam ficar
pouquíssimo tempo em cartaz. Tudo isso gera, claro, inúmeras obras
que passam despercebidas pelos fãs, e não fosse a Internet, tais
filmes ficariam certamente no limbo, já que muitas vezes sequer em
home video algumas produções – geralmente independentes e
de baixo orçamento – acabam vendo a luz do dia.
Como forma de
homenagem e comemoração aos quinze anos do maior site de Horror do
Brasil, listamos agora quinze produções de fantasia, suspense e
horror que foram lançadas no novo milênio e que merecem ser vistas
ou revisitadas pelo leitor, apesar (ou justamente) de serem pouco
conhecidas.
Lucky McKee é um
nome conhecido no circuito independente de horror, tendo inclusive
participado como um dos diretores do projeto Mestres do Horror (o
segmento Criatura Maligna). Nenhum de seus filmes chegou aos
cinemas brasileiros (nem mesmo A
Floresta,
bancado pela Sony e distribuído em DVD no Brasil). May, sua
obra-prima que vem ganhando ao longo dos anos um status cult,
acompanha a vida da solitária personagem-título (Angela Bettis),
uma moça desajeitada e tímida que se apaixona pelo boa-pinta Adam
(ou melhor, por suas mãos). May logo descobre, no entanto, que
ninguém é perfeito por completo, somente algumas partes são. Um
sensível drama psicológico misturado ao slasher, inspirado em
Frankenstein
e Taxi Driver, tudo embalado por uma trilha deliciosa de
indie rock e por composições melancólicas de Jaye-Barnes-Luckett.
Este drama
sobrenatural em forma de mockumentary vem direto da terra dos
cangurus. Investindo num ótimo elenco desconhecido, o longa escrito
e dirigido pelo australiano Joel Anderson acompanha o luto da família
Palmer, que após sua filha Alice (Talia Zucker) morrer afogada numa
represa local enquanto nadava, começa a ver sua vida entrando em
parafuso. Fotos tiradas após o acidente parecem mostrar a presença
de Alice, mas não espere algo do naipe do tailandês Espirítos.
A pegada de Lake Mungo é diferente, mais voltada para um
constante clima de depressão, pesar e mistério, já que logo
descobrimos que nada é o que realmente parece. O curioso é a
sensação desagradável que o longa deixa no espectador após seu
desfecho, mesmo não sendo um filme de horror no sentido estrito.
Ah!, e as referências a Twin
Peaks não são por acaso...
Berberian
Sound Studio (2013)
Peter Strickland
escreveu e dirigiu este verdadeiro tributo ao horror giallo italiano
da década de 70, com Toby Jones (O
Nevoeiro) no papel central de um técnico
de som (foley) britânico que é convidado para ir até a Itália
para trabalhar nos efeitos sonoros de um violento filme de horror.
Prestando homenagem também ao respeitável e essencial trabalho dos
artistas do som no cinema, Berberian é um metafilme
inteligente que deliciará os fãs do cinema de gênero italiano.
Vem do Canadá
esse filme que traz uma abordagem diferente para o já saturado
subgênero dos mortos-vivos. Passando-se quase exclusivamente numa
estação de rádio, na qual o apresentador (Stephen McHattie) tenta
entender o que se passa no lado de fora conforme depoimentos
incoerentes, gritos e confusão tomam conta da transmissão. O longa
é um inteligente filme de horror no qual tudo pode acontecer.
Found
(2012)
Scott Schirmer é
o diretor deste filme de baixíssimo orçamento (8000 dólares para
ser mais preciso) sobre um garoto fanático por filmes de terror e
que suspeita que seu irmão mais velho pode ser um serial killer
de verdade. Gráfico e brutal na representação da violência, Found
foi banido na Austrália e acabou gerando o também recente e
violento Headless, o filme dentro do filme em found.
Por
Trás da Máscara: O Surgimento de Leslie Vernon (2006)
O consenso do site
agregador de críticas Rotten Tomatoes é que esse longa
americano é um mockumentary inteligente que apresenta uma homenagem
sangrenta, divertida e obviamente apaixonada pelo gênero slasher.
Na trama somos apresentados a um pacato morador de uma cidadezinha
que por trás de sua aparência tem sonhos muito peculiares. Ele
pretende seguir os passos de seus ídolos, tais como Freddy Krueger,
Jason Voorhees e Michael Myers, tornando-se o próximo grande maníaco
fatiador. Fazendo uma verdadeira autopromoção, Leslie Vernon
permite que uma equipe de documentaristas tenha acesso exclusivo a
sua vida e aos seus planos assassinos.
Divertido, ágil,
angustiante, original, referencial, Espinhos baseia seu
roteiro numa situação simples. Um casal em viagem romântica é
atacado e sequestrado por um perigoso fugitivo, mas a coisa fica feia
mesmo quando aparece um parasita sedento por sangue, que incorpora o
corpo de suas vítimas. Escondendo-se num posto de gasolina
abandonado, o grupo deverá se unir para sobreviver à criatura...e a
eles mesmos.
Um eco-horror
found footage mockumentary? Dirigido por Barry Levinson (Assédio
Sexual, Rain Man)? Isso mesmo. Cymothoa Exigua é
um parasita nojento e estranhíssimo, mas que felizmente só afeta
peixes, devorando a língua do hospedeiro e se alojando no local,
funcionando como uma língua viva e se alimentando do que o peixe
come (Argh!). Mas em The Bay o tal bicho sofreu uma mutação
devido à atividades industriais e foi o responsável pela morte de
mais de 700 pessoas, peixes e passáros na cidade de Claridge,
Maryland, em Julho de 2009. Pelo menos é isso que o falso
documentário mostra nas filmagens reveladas três anos após o
incidente. Imagens grotescas e tensão permeiam o eficiente
longa-metragem.
New French
Extremity não pode faltar em uma lista de filmes obscuros.
Julien Maury e Alexandre Bustillo dirigem esse longa sobre uma mulher
grávida, Sarah (Alysson Paradis) recentemente envolvida em um grave
acidente de carro que tirou a vida de seu marido. Sozinha em casa na
noite da Véspera de Natal, ela recebe batidas na porta de uma
estranha que descobriremos ser nada amigável e parece querer apenas
uma coisa: o bebê dentro de Sarah. Criticado por alguns por ser
gratuito, uma coisa é certa; sangue em profusão e imagens
aberrantes são aliadas a um bom clima de tensão nessa obra que não
é para fracos de estômago.
Esse filme muy
estranho tem como protagonista Pauline (Annalynne McCord, de Dia
dos Mortos), uma colegial meio perturbada
que pretende ser uma cirurgiã. Os sonhos bizarros e sanguinolentos
de Pauline encontram eco na vida real, quando ela decide perder a
virginidade com um sujeito escroto que sempre a perseguiu na escola.
Eles encontram-se num motel e...Bem, digamos que a coisa não vai
como o planejado, com Pauline mudando de atitude e fazendo algo que
ninguém esquecerá.
Found Footage
encontra a Deep Web neste longa dirigido por Zachary Donohue
que mostra a pesquisadora Elizabeth Benton (Melanie Papalia) que
investiga um site conhecido como The Den, uma espécie de
Omegle, procurando investigar o hábito dos usuários do
chat-roulette. Durante um de seus chats aleatórios, Elizabeth
presencia o que julga ser um real assassinato ao vivo. Quando ninguém
acredita nela, Elizabeth busca por conta própria as origens do vídeo
e se embrenha nos redutos mais profundos da Internet, encontrando
mais do que procurava.
Em Erin Island, na
Irlanda, uma equipe de pesca desaparece, baleias começam a aparecer
mortas na costa, um pescador de lagostas encontra uma estranha
espécie com tentáculos em sua armadilha. Ciaran O’Shea
(Richard Coyle) é um policial cujas atribuições geralmente não
passam de lidar com os bêbados locais, geralmente ele mesmo o
embriagado. Junto com a chegada de uma nova policial (Ruth Bradley),
O’Shea deve lidar com um monstro alienígena e a única proteção
para os habitantes locais se encontra no pub. Muito álcool!!!
Comédia e horror ao estilo de Todo
Mundo quase Morto
e Ataque
ao Prédio.
Creep
(2014)
Este recente found
footage minimalista conta o conto de Aaron (Patrick Brice, que
também dirige e roteiriza o longa), um sujeito desempregado que vê
num anúncio a chance de faturar uma graninha. 1000 dólares por um
dia de filmagens. Ele dirige até uma cabana isolada nas montanhas e
descobre que seu contratante (Mark Duplass, também assinando o
roteiro) não é bem quem diz ser e suas intenções podem não ser
tão sinceras. Abrindo mão da sangreira e investindo num tom
psicológico convincente, Creep combina tensão e estranheza
com economia de recursos.
Colapso
no Ártico (2006)
Ron Perlman
estrela esse suspense de horror ambientalista que se passa no Alasca
e acompanha uma equipe encarregada de explorar petróleo que se vê
tormentada por um mal obscuro. Medo, paranoia e insanidade tomam
conta dos trabalhadores após um deles ser encontrado morto.
Dirigido, coescrito, montado e produzido por Larry Fessenden (Pod,
Late
Phases), o longa aposta em criar uma
atmosfera inquietante em torno do clima gélido e de, vejam só, um
poço de petróleo.
The
Snowtown Murders (2011)
A Austrália
aparece novamente na lista com a história de Jamie (Lucas Pittaway),
um adolescente que faz logo amizade com um carismático homem que
logo se tornará uma figura paterna para ele. No entanto, não demora
para que Jamie alimente suspeitas sobre o caráter de seu amigo, que
se trata de John Bunting, o mais famoso serial killer
australiano. Um estudo do mal personificado em uma mente doentia
encontra expressão na ultraviolência das imagens mostradas na tela.
Nem é preciso
dizer que após essa recomendação de quinze filmes, muitos títulos
acabaram ficando de fora. Só de cabeça, mais de 50 títulos
caberiam facilmente aqui. Alguns deles o infernauta pode conferir
neste
outro artigo do Boca do Inferno; outros, como Bubba
Ho-tep (2002), Offspring (2009), The
Woman (2011), Plataforma
do Medo (2004), Possuídos
(2006), Honeymoon
(2014), Headless (2015) e A
Fronteira (2007) entram como menções mais
do que honrosas.
E você, horrornauta? Quais filmes obscuros do novo
século você também incluiria na lista?
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