quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Linha Mortal (1990)

Linha Mortal (Flatliners, EUA, 1990)
Diretora: Joel Schumacher
Roteiro: Peter Filardi
Elenco: Kiefer Sutherland (Nelson), Julia Roberts (Dra. Rachel Mannus), Kevin Bacon (David Labraccio), William Baldwin (Dr. Joe Hurley), Oliver Platt (Randy Steckle), Kimberly Scott (Winnie Hicks), Joshua Rudoy (Billy Mahoney), Benjamin Mouton (Pai de Rachel), Aeryk Egan (Nelson Jovem), Hope Davis (Anne Coldren), Jim Ortlieb (Tio Dave), John Duda (David Jovem)
SINOPSE: Estudantes de Medicina fazem experiências com a vida após a morte, provocando a morte clínica com a ajuda dos colegas. Cada um tenta ficar do "outro lado" o maior tempo possível, até que o experimento gera uma inesperada consequência.







Algumas linhas não deveriam ser cruzadas...”

Em Linha Mortal, um fio narrativo simples, mas com bastante potencial, percorre a trama. O estudante de medicina Nelson (Sutherland) está obcecado com a ideia de descobrir o que ocorreria após a morte, já que para ele, religião e filosofia falharam nesse ponto. Para tanto, se reúne com alguns colegas, Rachel (Roberts), Joe (Baldwin), David (Bacon), e Randy (Pratt) para por seu plano em prática. Sua ideia envolve, de maneira controlada, provocar sua própria morte e, com o auxílio dos amigos, ser ressuscitado, buscando desse modo retomar as prováveis experiências ocorridas após a morte. Embora aparentemente bem sucedido, o experimento faz com que Nelson e seus colegas retornam à vida com experiências e memórias tão vividas quanto traumáticas. 
Beneficiado por um forte elenco, estrelas ainda jovens, o longa dirigido por Schumacher (Os Garotos Perdidos, Por um Fio, Número 23) faz escolhas interessantes. Por mais óbvio que seja o conceito inicial, por exemplo, o filme jamais cede ao óbvio ou mesmo ao horror gráfico, como fez, por exemplo, recentemente um clone seu, Renascida no Inferno (2015). Investindo em planos que frequentemente dão closes nos rostos dos atores, e numa montagem de cortes rápidos, a trama deixa o espectador frequentemente apreensivo, nervoso e empático nas experiências nas quais os estudantes morrem, nunca temos certeza se de fato voltarão à vida. O longa ainda traz uma fluidez que faz parecer que há sempre algo ocorrendo, nunca caindo no tédio.
O roteiro de Filardi (Jovens Bruxas) também opta por se distanciar do didatismo, não se preocupando em fornecer respostas nem aos personagens e nem mesmo ao espectador, uma escolha acertada se levarmos em conta que diante de um cenário no qual alguém morre e volta à vida, nenhuma resposta faria sentido e ninguém saberia explicar os motivos das sinistras experiências do pós-morte.
Aliás, essa é outra característica interessante do filme. Ao não dar explicações, fica a cargo do espectador na maior parte do tempo inferir, por exemplo, qual a natureza das memórias e experiências causadas pela morte e ressurreição das personagens. Sem nunca apelar para eventos explicitamente sobrenaturais, o roteiro prefere apostar em traumas comuns e mundanos que são facilmente apropriados por qualquer espectador, sentimentos de culpa, vergonhas ou traumas relacionados à infância e juventude daquelas pessoas, fazem com que não seja necessário nenhum monstro de outro mundo para sabermos que, na ótica do longa, aqui se faz e aqui se paga, e nossas piores memórias sempre nos perseguirão. O horror explícito é substituído por sentimentos humanos e isso gera de maneira surpreendente momentos comoventes, como aquele da “revelação” da personagem de Roberts. Se pecam em algum momento, Schumacher e Filardi o fazem desperdiçando o talento do ator Oliver Pratt num personagem raso e que serve como um dispensável alívio cômico na trama.
Denso e ao mesmo tempo jovial, Linha Mortal é um dos esquecidos bons exemplares do cinemão fantástico dos anos 1990.


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