Linha Mortal (Flatliners, EUA, 1990)
Diretora: Joel Schumacher
Roteiro: Peter
Filardi
Elenco:
Kiefer Sutherland (Nelson), Julia Roberts (Dra. Rachel Mannus), Kevin
Bacon (David Labraccio), William Baldwin (Dr. Joe Hurley), Oliver
Platt (Randy Steckle), Kimberly Scott (Winnie Hicks), Joshua Rudoy
(Billy Mahoney), Benjamin Mouton (Pai de Rachel), Aeryk Egan (Nelson
Jovem), Hope Davis (Anne Coldren), Jim Ortlieb (Tio Dave), John Duda
(David Jovem)
SINOPSE: Estudantes de Medicina fazem experiências com a vida após a morte,
provocando a morte clínica com a ajuda dos colegas. Cada um tenta ficar
do "outro lado" o maior tempo possível, até que o experimento gera uma
inesperada consequência.
“Algumas
linhas não deveriam ser cruzadas...”
Em Linha
Mortal, um fio narrativo simples, mas com bastante
potencial, percorre a trama. O estudante de medicina Nelson
(Sutherland) está obcecado com a ideia de descobrir o que ocorreria
após a morte, já que para ele, religião e filosofia falharam nesse
ponto. Para tanto, se reúne com alguns colegas, Rachel (Roberts), Joe
(Baldwin), David (Bacon), e Randy (Pratt) para por seu plano em
prática. Sua ideia envolve, de maneira controlada, provocar sua
própria morte e, com o auxílio dos amigos, ser ressuscitado,
buscando desse modo retomar as prováveis experiências ocorridas
após a morte. Embora aparentemente bem sucedido, o experimento faz
com que Nelson e seus colegas retornam à vida com experiências e
memórias tão vividas quanto traumáticas.
Beneficiado por
um forte elenco, estrelas ainda jovens, o longa dirigido por
Schumacher (Os Garotos Perdidos,
Por um Fio, Número
23) faz escolhas interessantes. Por mais óbvio que seja o
conceito inicial, por exemplo, o filme jamais cede ao óbvio ou mesmo
ao horror gráfico, como fez, por exemplo, recentemente um clone seu,
Renascida no Inferno
(2015). Investindo em planos que frequentemente dão closes
nos rostos dos atores, e numa montagem de cortes rápidos, a trama
deixa o espectador frequentemente apreensivo, nervoso e empático nas
experiências nas quais os estudantes morrem, nunca temos certeza se
de fato voltarão à vida. O longa ainda traz uma fluidez que faz
parecer que há sempre algo ocorrendo, nunca caindo no tédio.
O roteiro de
Filardi (Jovens Bruxas) também opta por se distanciar do
didatismo, não se preocupando em fornecer respostas nem aos
personagens e nem mesmo ao espectador, uma escolha acertada se
levarmos em conta que diante de um cenário no qual alguém morre e
volta à vida, nenhuma resposta faria sentido e ninguém saberia
explicar os motivos das sinistras experiências do pós-morte.
Aliás, essa é
outra característica interessante do filme. Ao não dar explicações,
fica a cargo do espectador na maior parte do tempo inferir, por
exemplo, qual a natureza das memórias e experiências causadas pela
morte e ressurreição das personagens. Sem nunca apelar para eventos
explicitamente sobrenaturais, o roteiro prefere apostar em traumas
comuns e mundanos que são facilmente apropriados por qualquer
espectador, sentimentos de culpa, vergonhas ou traumas relacionados à
infância e juventude daquelas pessoas, fazem com que não seja
necessário nenhum monstro de outro mundo para sabermos que, na ótica
do longa, aqui se faz e aqui se paga, e nossas piores memórias
sempre nos perseguirão. O horror explícito é substituído por
sentimentos humanos e isso gera de maneira surpreendente momentos
comoventes, como aquele da “revelação” da personagem de
Roberts. Se pecam em algum momento, Schumacher e Filardi o fazem
desperdiçando o talento do ator Oliver Pratt num personagem raso e
que serve como um dispensável alívio cômico na trama.
Denso e ao
mesmo tempo jovial, Linha Mortal é um dos esquecidos bons
exemplares do cinemão fantástico dos anos 1990.
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