As Fábulas Negras (Brasil, 2014)
Diretores: Rodrigo Aragão, José Mojica Marins, Joel Caetano, Petter Baiestorf
Elenco: Hugo Firme Fraga, Diego Fernandes, Arthur Medeiros, Arthur Marcel, Carol Aragão, Milena Bessa, Walderrama dos Santos, Tiago Ferri, José Mojica Marins, Markus Knoká, Ana Carolina Braga, Cesar Souza, Eldon Gramlich, Daniel Boone, Margareth Galvão, Kika Oliveira, Reginaldo Secundo, Marcia Coqueiro, Mayra Alarcón, Dora Dadalto, Alicia Moreira, Sara Lima, Fonzo Squizzo, Giovanni Coio, Elias Aquino, Foca Magalhães e Alzir Gabriel Vaillant.
SINOPSE: Um grupo de crianças embarca numa aventura macabra povoada com personagens do imaginário popular brasileiro – lobisomem, bruxa, fantasma, monstro e Saci. Com o encontro antológico entre quatro dos nomes mais importantes do terror nacional: Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão.
Um Banho de
Sangue no Folclore Brasileiro
Como
observa a pesquisadora Laura Loguercio Cánepa em sua tese Medo de quê? - Uma
História do Horror nos Filmes Brasileiros (Campinas, 2008), causa
estranheza que numa cultura de fantasia rica como a brasileira – cheia de
mitos, lendas, um belo folclore, superstições e religiosidades – o cinema, ou a
ficção de horror nunca tenha alcançado a popularidade como ocorre em outros
países, mesmo com o espectador de cinema brasileiro um dos que mais consome
horror (vindo de fora). Sem querer entrar nos vários motivos que levaram a essa
situação, pode-se dizer que somente com o cineasta José Mojica Marins, em 1963,
com o icônico À Meia-Noite Levarei sua Alma, o gênero finalmente
ganhou as telonas brasileiras, mas ainda assim, somente nas duas últimas
décadas é que ele voltou com força, através da coragem de realizadores que com
pouca grana (ou mesmo nenhuma) fez com que o cinema de horror alcançasse até
mesmo festivais mundo afora. Estou falando de nomes como Dennison Ramalho,
Petter Baiestorf, Rodrigo Aragão, Joel Caetano, Felipe M. Guerra, nomes que os
aficionados brazucas com certeza devem conhecer.
Dentre
esses nomes, um dos mais prolificos desses realizadores, o capixaba Aragão, fez
algo de se admirar em 2014. Reuniu alguns nomes dessa galera do mal (incluindo
Mojica) para dirigir uma antologia que, para todos os efeitos, se torna um
marco na virada do gênero que vai render muito ainda em nosso cinema – As
Fábulas Negras. Dividido em cinco histórias, o longa explora algumas lendas
brasileiras, subverte outras e ainda cria algumas, que como toda antologia,
padece de irregularidade entre uma história e outra, mas ganha na agilidade,
pois rapidamente passamos de um conto ao próximo. Entre os curtas, quem guia o
roteiro são quatro meninos que, enquanto brincam e percorrem uma mata, vão
assustando-se com suas imaginações e causos que contam uns para os outros.Vamos
a eles:
O
Monstro do Esgoto – Rodrigo Aragão: Um caricato prefeito corrupto desvia
verbas do saneamento básico da cidade que administra, sem saber o monstro –
literalmente – que acaba criando. Do ponto de vista técnico, o primeiro
segmento é muito competente: A direção de Rodrigo Aragão não é engessada e
explora diferentes ângulos de câmera e recursos cinematográficos como pouco se
vê no cinema amador. O elenco, no entanto, fica devendo, sendo em sua maioria
bastante amador, bem como o roteiro que contém alguns diálogos e situações
pouco inspiradas. O gore rola solto, e a maquiagem e os efeitos visuais
são realistas a ponto de virar o estômago, efeitos usados aqui sem a menor
parcimônia. (***)
Pampa
Feroz – Dirigido por Petter Baiestorf: Uma releitura da lenda do Lobisomem,
numa fazenda do Sul do País. Avaliação: Todo aquele lance da armadura
parece deslocado de sentido na trama, bem como a trilha sonora que acompanha o
momento em que o personagem a apresenta, mas tirando isso, é o curta mais
interessante, inclusive do ponto de vista de elenco, apresentando atuações
homogeneamente profissionais e competentes, numa nova versão da lenda do
lobisomem. O animatrônico do lobisomem é muito bom e a maquiagem
igualmente competente (****)
O
Saci – José Mojica Marins: Uma menina filha de pais religiosos sempre
recebe o aviso de um velho pai de santo para respeitar as criaturas da floresta
enquanto caminha por ela. Avaliação: O design da criatura que
representa o saci, com seus olhos arregalados e boca arreganhada, é
sinistríssimo e realmente assusta. Ainda conta com uma participação mais que
especial do diretor José Mojica Marins e nudez gratuita para ninguém botar
defeito. Em seu desfecho consegue até mesmo abrir espaço para uma interpretação
mais psicológica. (****)
A
Loira do Banheiro – Joel Caetano: Mais uma releitura, desta vez do mito que
assustou toda uma geração dos banheiros escolares nacionais: A Loira do
Banheiro. Avaliação: Contando com um prólogo eficiente, observa-se que
Caetano também possui grande noção de técnica cinematográfica, extraindo boas
atuações de seu elenco, bem como uma visualização espacial bastante inteligente.
Alguns elementos, como o personagem de Hugo, funcionário deformado do
internato, remetem diretamente à época dos filmes góticos, de castelos malditos
e bruxaria. Maquiagem também bem boa. (****)
A
Casa de Iara – Rodrigo Aragão: Novamente Aragão na lista na história que
encerra o filme, sobre uma mulher traída que encontra um meio pouco ortodoxo de
vingança. Trama bastante súbita, acaba não deixando espaço para um envolvimento
com os personagens, em detrimento de um belo visual (**).
Contando
com mais acertos do que erros, As Fábulas Negras entretém enquanto cinema de
horror, e quantas vezes você leitor já teve experiência parecida.
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