Desde que o filme passou a contar com trilha de áudio sincronizado, um novo interesse passou a surgir no cinema, gerando novas discussões, problemas, críticas e possibilidades. Ou indo até mesmo antes disso, o assunto já era presente, uma vez que mesmo nas projeções mais antigas, onde não havia trilha incorporada à película, orquestrações já faziam parte dos espetáculos, onde músicos acompanhavam a exibição do filme (e às vezes, eles estavam presentes até mesmo durante as filmagens), ajudando a estabelecer a atmosfera para aquela obra. Claro, muitos se lembrarão de filmes de horror e suspense clássicos, silenciosos. Mesmo assim uma rápida pesquisa nos mostra que o clássico Nosferatu (1922), por exemplo, teve uma trilha exclusivamente composta para ele, feita pelo músico alemão Hans Erdmann. Mas sem querer entrar no mérito de discutir se o cinema seria o que é hoje se não tivesse som ou trilha sonora, pretendo nesse artigo mostrar trilhas sonoras inesquecíveis para o cinema horrorífico, trilhas essas que geralmente ajudaram não somente a estabelecer o clima de um filme, mas também sua identidade e se tornaram indissociáveis dos personagens vilanescos, das vítimas, dos momentos de tensão e dos arrepios sentidos nas telas do cinema. Gêneros dos mais famigerados, o horror e o suspense de horror sempre encontraram um sábio uso das composições para ajudar na geração de medo, pavor, angústia, sustos, calafrios. Eis aqui então uma lista que não pretende ser definitiva, mas em vez disso apresentar os belos acordes de composições que ajudaram o cinema de horror a se tornar ainda mais especial para nós fanáticos.
Para a lista não ficar muito extensa, aqui vai o meu TOP 25 com grandes trilhas de horror e suspense:
25. Premonição
Shirley Walker (falecida em 2006) foi uma das raríssimas compositoras mulheres no cinema. Frequentemente presente em filmes de horror e ficção científica, Shirley Walker compôs para vários trabalhos da produtora New Line (A Vingança de Willard, a série Premonição) e também para filmes como Memórias de Um Homem Invisível e Fuga de Los Angeles, onde foi parceira de John Carpenter. No primeiro filme da popular cinesserie, Walker entrega uma trilha simplesinha, mas extremamente eficiente e onipresente na trama, que faz dos créditos iniciais e da sequência do acidente momentos ainda mais tensos e inesquecíveis.
Nathan Barr (True Blood e Hemlock Grove) trabalhou junto com Angelo Badalamenti (sim, ele mesmo, parceiro habitual de David Lynch) e fizeram com que o infame filme de estreia de Eli Roth ganhasse um charme ainda mais especial. Os destaques ficam para duas composições de Badalamenti, "Red Love" e "Good Kisser". Mestre é mestre.
Sou suspeito para falar. Amo o filme de estreia de Lucky McKee. Inteligente, com aquele charme de filme indie, muito bem estruturado e atuado (Angela Bettis ❤), combina inteligentemente o drama com o horror psicológico (e às vezes gráfico). Tudo isso embalado pela trilha sonora alternativa dos Breeders e The Kelley Deal 6000. Mas o destaque na trilha fica mesmo por conta das composições originais de Jaye Barnes Luckett que exploram de maneira magnífica a mente perturbada e solitária do personagem-título.
22. Re-Animator
Livremente baseado na obra do mestre H. P. Lovecraft, o cult dirigido por Stuart Gordon ficou marcado pela perfeita combinação entre horror e humor. Essa mistura também está presente na ótima trilha de Richard Band (Do Além, Sonhos na Casa da Bruxa).
21. O Silêncio dos Inocentes
Um dos poucos filmes do gênero aclamado pelo Oscar, o thriller de Jonathan Demme estrelado pelos grandes Jodie Foster e Anthony Hopkins também contou com uma discreta, porém essencial trilha composta pelo talentoso músico Howard Shore (habitual parceiro de Peter Jackson, David Cronenberg e ganhador de 3 prêmios da Academia).
Um dos poucos filmes do gênero aclamado pelo Oscar, o thriller de Jonathan Demme estrelado pelos grandes Jodie Foster e Anthony Hopkins também contou com uma discreta, porém essencial trilha composta pelo talentoso músico Howard Shore (habitual parceiro de Peter Jackson, David Cronenberg e ganhador de 3 prêmios da Academia).
O filme de estreia de Clive Barker, surreal e impactante, gerou um status cult e milhares de fãs para o universo da trama, gerando uma franquia gigante (até agora, com nove filmes). Se a trilha do primeiro filme já era diferenciada, composta pelo especialista no gênero, Christopher Young, o segundo capítulo mantém a estética onírica e a trilha é ainda melhor, com destaque para o poderoso main theme, Second Sight Séance
Novamente Chris Young na lista. Desta vez com um horror de 2012 estrelando Ethan Hawke, Young inova em suas composições, numa música sinistra e constantemente enervante, que combina harmonicamente sintetizadores, sussurros e instrumentos de percussão
O título de horror talvez mais conhecido no mundo (embora a maioria nunca tenha visto o original) ficou marcado por sua crueza, também presente na trilha sonora original, composta por Wayne Bell e pelo próprio diretor, Tobe Hooper.
O primeiro exemplar da enorme franquia do assassino Jason Voorhees (até agora, com 12 filmes), claramente copiado inspirado pelos slashers que vieram antes dele (notadamente Halloween), ficou marcado também pelo mais famoso "acidente musical" em trilhas de horror, quando o compositor Harry Manfredini usando seu Echoplex acabou criando o sinistro som "ki ki ki ma ma ma", um eco derivado de "kill her mommy, kill her", pronunciado no filme por uma demente Pamela Voorhees (Betsy Palmer). O som acabou virando uma das marcas da cinesserie.
O perturbador exemplar do horror inglês estrelado por Christopher Lee conta com trilha composta pelo músico Paul Giovanni e que remete de certa forma a conspirações e ritos religiosos. Creeeeepppyyy!
Os sintetizadores estão de volta à lista na trilha composta pelo ganhador do Oscar, Jerry Goldsmith (Alien, Jornada nas Estrelas) para o clássico de Tobe Hooper e Steven Spielberg.
Não gosto do filme. Por várias razões. Os porquês ficam, talvez, para outro artigo. Entretanto, dentre as qualidades do polêmico longa, a trilha de Riz Ortolani se destaca com folga. Com composições melódicas que combinam perfeitamente à natureza selvagem e outras mais furiosas, Ortolani é um dos motivos pelos quais vale a pena assistir (ainda que somente uma vez) a esse exemplar mais famoso do ciclo do canibalismo no cinema italiano.
Neste obscuro exemplar de horror sobrenatural oitentista, uma mulher alega sofrer um constante assédio (sexual) de uma entidade demoníaca invisível, baseado em fatos reais e no romance de Frank De Felitta, que também assina o roteiro. O destaque, além dos perturbadores ataques da "entidade", fica por conta da trilha composta por Charles Bernstein (A Hora do Pesadelo, A Noite das Brincadeiras Mortais)
Remake do slasher oitentista dirigido por William Lustig, o novo Maníaco não deixou de prestar as devidas homenagens à obra original e à época que aquele filme representava. Um dos pontos nos quais a homenagem se faz presente é na trilha sonora, composta pelo músico francês Robin Coudert (creditado como Rob), que aposta frequentemente em sintetizadores e guitarras distorcidas e presta homenagem ele mesmo à trilhas famosas como da banda Goblin, a de Philip Glass para Candyman (na faixa Wedding Maze) e Wendy Carlos de Laranja Mecânica.
Composta por Alan Splet e pelo próprio diretor David Lynch, a trilha envolve o espectador no surrealismo da trama.
Mais famosa por contar com a enervante faixa Tubular Bells (que faz parte na verdade de um álbum independente de Mike Oldfield), a trilha do clássico dos clássicos do horror é composta por vários artistas. A trilha inicial, de Lalo Schifrin, foi rejeitada pelos executivos da Warner e por William Friedkin, mas você pode acompanhar abaixo e decidir qual das duas (ótimas) trilhas se adequam melhor ao drama de horror.
O único filme de horror de Stanley Kubrick, conta com composições de Krzysztof Penderecki, Béla Bartók, Wendy Carlos, entre outros, a trilha sonora combina perfeitamente ao clima de horror psicológico da trama em suas composições.
Um dos melhores suspenses de ficção científica de todos os tempos, o filme de John Carpenter guarda um fato polêmico sobre sua (ótima) trilha sonora. Após pedir que o grande Ennio Morricone compusesse a trilha, Carpenter teria modificado a trilha ele mesmo (famoso por compor a música de seus próprios filmes) sem a anuência de Morricone. Entretanto, apesar de ter sido indicada ao Framboesa de Ouro na época, a trilha permanece como uma das mais sombrias e impactantes da década de 80.
Surreal, experimental, misterioso, o novo filme de Jonathan Glazer flerta frequentemente com o horror, o suspense e a ficção científica, e a trilha sonora da compositora Mica Levi vem para adicionar ainda mais ao clima sinistro e misterioso, variando entre composições eletrônicas e robóticas no início do filme e mais melódicas e humanas conforme o filme avança e a personagem muda.
Um dos expoentes da música minimalista, o genial Philip Glass (indicado a 3 Oscar) deu aqui uma de suas únicas contribuições ao gênero (foram três, se contarmos com a sequência Candyman 2: A Vingança, que usou temas de Glass originalmente compostos para o primeiro filme; e a nova trilha composta por ele para o Drácula de 1931) e o resultado foi uma das mais originais e belas trilhas de horror. Composta apenas por piano, órgão e voz, as composições fogem do óbvio e marcam o caráter trágico e poético do anti-herói Candyman, ao mesmo tempo em que sugerem o surreal misturado ao ambiente urbano, em peças que ora se assemelham a contos de fadas (e lendas urbanas) ora marcam o mistério da trama.
O gigante dos mares de Spielberg foi vencedor de 3 Prêmios da Academia, sendo um deles para a enervante música de John Williams. A música ainda ganhou o título de Sexta Melhor Trilha de Cinema pelo American Film Institute (AFI). O main theme até hoje é considerado sinônimo de suspense.
Um dos mais notórios suspenses de todos os tempos, e tendo, talvez, a cena mais copiada, parodiada e refilmada de todos os tempos, Psicose, do grande Alfred Hitchcock ficou conhecido também por sua trilha incidental, composta pelo gênio Bernard Herrmann. Hitchcock chegou a comentar que 1/3 do efeito do filme se deve à trilha sonora. Nada mal para um filme de orçamento limitado.
Um dos mais rentáveis filmes de horror, Halloween custou míseros 325 mil dólares e rendeu 70 milhões nas bilheterias (250 milhões em valores atuais). A trilha sonora, simples e composta apenas por um piano, foi composta integralmente pelo diretor Carpenter, e permanece sombria e sinistra até os dias de hoje.
Composta por Krzysztof Komeda, o parceiro favorito de Roman Polanski e falecido com apenas 38 anos, a trilha não só ajuda a criar o clima demoníaco, misterioso e arrepiante da trama, mas também funciona muito bem mesmo quando a ouvimos fora do filme.
Uma das trilhas mais famosas e a favorita de muitos fãs de horror, além de considerada o melhor trabalho da banda Goblin, a música composta pela banda italiana(a favorita de Dario Argento) é marcada por percussão e sintetizadores que conferem uma aura sinistra em todas as composições, num trabalho que se constitui quase como um personagem extra na obra-prima do cineasta italiano.
E você, leitor? Concorda com a lista? Ou gostaria de adicionar algum outro nome? Fique à vontade para comentar abaixo.
Bons filmes!
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