terça-feira, 29 de março de 2016

Cabana do Inferno (2016)

Cabana do Inferno (Cabin Fever, EUA, 2016)
Diretor: Travis Z
Elenco: Gage Golightly, Matthew Daddario, Samuel Davis, Nadine Crocker, Dustin Ingram, Randy Schulman, George Griffith, Tim Zajaros, Aaron Trainor, Louise Linton, Laura Kenny, Derrick Means, Jason Rouse, Benton Morris, Teresa Decher.
SINOPSE: O filme começa quando um grupo de cinco amigos decide passar o fim de semana em uma casa na floresta. Planejando cerveja e farra, eles encontram um ermitão portador de um vírus que parece comer sua pele. O causador da doença, então, infecta alguns dos cinco, fazendo com que os sadios ajam com paranoia e hostilidade contra os doentes, criando o clima de suspense.









(Suspiros)...Remakes. Sempre que sai a notícia de que alguma refilmagem está sendo produzida os fãs das obras originais ficam em polvorosa. E na maioria das vezes com razão. O mais curioso nos últimos anos é a quantidade de refilmagens que vêm sendo produzidas, notadamente no gênero horror. Se a ideia de um remake per si já parece desnecessária, imagine então quando uma refilmagem se propõe a seguir exatamente o mesmo roteiro da obra original. Pior: A diferença entre o original e sua reimaginação é de apenas 12 anos. Ainda fica pior: aquela velha desculpa dos americanos de executar um remake por causa do idioma não há, já que ambos os filmes foram feitos em língua inglesa. Para piorar mais um pouquinho: A obra original não é considerada um clássico absoluto do gênero (embora este que vos escreva seja um grande fã).


Estou falando de Cabana do Inferno, que em 2002 lançou o nome de Eli Roth no mundo da sétima arte, rendendo bem nas bilheterias americanas e trazendo de volta uma pegada violenta e desbocada aos filmes de horror. Não por acaso, o filme gerou uma sequência e um prequel nos anos que seguiram e assentaram um terreno firme para que Roth continuasse desenvolvendo suas ideias em película.

Rapidamente, para quem ainda não conhece a trama: Cinco jovens amigos em férias da faculdade partem para uma remota cabana na floresta onde logo descobrirão que um estranho vírus se espalha entre eles, cuja infecção se dá pela esfolação da pele de dentro para fora. Conduzido pelo ilustre desconhecido Travis Zariwny (notado mais por seus trabalhos como design de produção), o longa segue basicamente o mesmíssimo roteiro escrito por Randy Pearlstein e Roth em 2002, incluindo os mesmos diálogos e a mesma estrutura narrativa. Curiosamente, as poucas mudanças escolhidas pelo novo diretor envolvem a retirada radical de todas as piadas e humor negro que permeavam o original, além da remoção de palavrões mais pesados e a inclusão de um didatismo irritante, que, aliás, vem se tornando uma constante em filmes do gênero atuais. Repare, por exemplo, na cena onde o grupo de jovens para num pequeno armazém antes de seguir para o chalé. No original, o dono, Velho Caldwell (nessa versão, substituído por um Novo Caldwell) alerta breve e casualmente os jovens com a frase: Se forem à floresta, tenham muito cuidado, ao que Karen responde: Por que, o que há na floresta?. E o assunto morria ali mesmo, com o dono da loja mudando subitamente de assunto, criando no público uma sensação de curiosidade e também mostrando um esperto uso de ironia de Roth, já que em 100% dos filmes de horror é óbvio que a floresta não representa lugar seguro. Já no remake, o personagem Caldwell dá praticamente uma aula sobre virologia aos jovens, alertando da maneira mais detalhada possível, acabando com qualquer mistério e recaindo num tom genérico.


Roteiro à parte, é justamente numa refilmagem que o diretor faz toda a diferença. Mesmo que Eli Roth venha derrapando filme após filme, é um realizador com estilo próprio e com genuíno tesão pelo gênero, fato que conferiu à sua versão uma identidade própria mesmo com todo o tom de homenagem daquele filme. Não somente, mas a maior parte daquele filme funcionava muito bem. A trilha sonora oitentista de Nathan Barr junto às composições do mestre Angelo Badalamenti, a maquaigem da KNB e o elenco carismático ajudavam, é claro. Em oposição, este filme conta com atores novatos que parecem aborrecidos em seus papeis, não trasmitindo emoção nenhuma e precisando constantemente demonstrar que estão atuando, usando diversas muletas de interpretação, como maneirismos com o rosto, caretas e poses diversas. A diferença no elenco resulta em personagens rasíssimos, enquanto no longa original eram, ao menos, bidimensionais e criavam empatia com o espectador.

Levando-se a sério demais, o remake ainda conta com sua trilha vários [vrammmmmsss] que fazem parecer que estamos assistindo a algo muito dramático e grandioso. Algumas das  composições de Kevin Riepl ainda tentam emular algumas das músicas do original, sem sucesso. Contando com uma estética que se assemelha exatamente a filmes de horror pós-2010, o filme continua assumindo uma pseudo-grandiosidade desnecessária, tentando conferir significado na montagem de videoclipe e na (falta de) caracterização de alguns personagens, como os caipiras que dessa vez são tratados como vilões potenciais homicidas desde o início da trama, em vez de apenas esquisitões como no outro filme.

Ganhando facilmente o rótulo de remake mais desnecessário da história (senão o pior), Cabana do Inferno levanta novamente a questão da necessidade real desse tipo de filme, quando nem a motivação caça-níquel é atendida.



segunda-feira, 28 de março de 2016

Camisa de Força (2005)

Camisa de Força (The Jacket, EUA/Alemanha, 2005)
Diretor: John Maybury
Elenco: Adrien Brody, Keira Knightley, Kris Kristofferson, Jennifer Jason Leigh, Kelly Lynch, Brad Renfro, Daniel Craig, Steven Mackintosh, Brendan Coyle, Mackenzie Philips, Laura Marano, Jason Lewis, Richard Dillane, Anthony Edridge, Angelo Andreou, Jimmy Fleischer.
SINOPSE: Jack Starks (Adrien Brody) é um veterano da Guerra do Golfo que retorna à sua cidade natal, após se recuperar de ter recebido um tiro na cabeça. Jack sofre atualmente de amnésia, sendo que após ser acusado de ter assassinado um policial é recolhido a um hospital psiquiátrico. Lá o dr. Thomas Becker (Kris Kristofferson) faz com que Jack tenha drogas experimentais injetadas em seu corpo, como parte de testes para um novo tipo de tratamento. Imobilizado em uma camisa de força, Jack constantemente é trancado por um longo tempo em uma gaveta de cadáveres, no necrotério da clínica em que está. Completamente drogado, a mente de Jack consegue se projetar para o futuro, no qual conhece Jackie Price (Keira Knightley) e descobre que ele próprio irá morrer daqui a 4 dias.



 
Sou um fã ardoroso de trabalhos que envolvem a temática de viagens no tempo, também admiro bastante o trabalho de Adrien Brody e Keira Knightley e de narrativas não convencionais. Mas me decepcionei com esse Camisa de Força, coprodução entre Estados Unidos e Alemanha de 2005, que justamente conta com um elenco estelar, uma direção estilosa e uma temática ambiciosa, que, no entanto, não consegue colocar todas essas peças em harmonia, resultando num trabalho que infelizmente soa frio e raso demais para sua proposta inicial.


O roteiro de Massy Tadjedin é centrado na experiência pós-traumática do combatente na guerra do Golfo Jack Starks (Brody) que, ferido mortalmente na cabeça, parece voltar à vida milagrosamente e volta a sua cidade natal com lapsos de memória. Após vagar a esmo pelas paisagens nevadas da Virginia e pegar carona com um estranho (Renfro), o veículo é parado por um policial que acaba assassinado, com as suspeitas recaindo todas sobre Starks. Considerado mentalmente incapaz de responder criminalmente pelo crime, Starks é levado a um hospital psiquiátrico onde acaba caindo nas mãos de um misterioso psiquiatra (Kristofferson) que usa o protagonista numa terapia experimental que o leva a experimentar estranhos transes durante os quais Starks acaba viajando para o futuro e prevendo sua morte em quatro dias, além de conhecer Jackie (Knightley) que poderá ajudá-lo. Daí começa a clássica corrida contra o tempo para descobrir como ele morrerá e quais as consequências no futuro de se alterar o presente.

Dirigido com estilo pelo britânico Maybury (um nome pouco frequente no cinema), o longa investe num virtuoso trabalho de câmera e luz que emite significados por si só. Repare, por exemplo, como o presente frio, depressivo e problemático de Starks é ressaltado por uma grande dessaturação na fotografia enquanto ocorre um contraponto com as cores supersaturadas quando o protagonista viaja para o futuro. Infelizmente, todo esse trabalho esconde um roteiro pouco inspirado, fragilimo em alguns momentos. Alguns diálogos são tão expositivos que beiram o constrangedor, como no primeiro diálogo entre Jack e Jackie ou no momento em que a equipe do Dr. Becker se questiona se Starks está mesmo morto, e após este piscar os olhos, Dr. Becker tem a brilhante conclusão de que o rapaz realmente não morreu (ooh!). No entanto, nada é pior do que a forçada inclusão no roteiro de um romance caidaço entre os personagens de Brody e Knightley, que não passam nenhuma química que justifique, por exemplo, a frouxa cena de sexo que ocorre no segundo ato.

Apesar de terminar de maneira satisfatória e respeitando sua lógica interna, Camisa de Força é uma obra que apesar das boas intenções, é pouco profundo em sua própria ambição narrativa.


sexta-feira, 11 de março de 2016

A 5ª Onda (2016)

A 5ª Onda (The 5th Wave, EUA, 2016)
Direção: J. Blakeson
Elenco: Chloë Grace Moretz (Cassie Sullivan), Matthew Zuk (homem ferido com crucifixo), Maria Bello (Sargento Reznik), Maika Monroe (Ringer),  Liev Schreiber (Coronel Vosch), Gabriela Lopez (Lizbeth), Bailey Anna Borders (Julia), Nick Robinson Ben Parish/Zumbi), Ron Livingston (Oliver Sullivan), Maggie Siff (Lisa Sullivan), Zackary Arthur (Sam Sullivan), Charmin Lee (Sra. Paulson), Parker Wierling (Jeremy), Tony Revolori (Dumbo), Terry Serpico (Hutchfield), Derek Roberts (Soldado Parker), Talitha Bateman (Teacup).
SINOPSE: No futuro, a Terra começa a sofrer uma série de ataques alienígenas. Na primeira onda de ataques, um pulso eletromagnético retira a eletricidade do planeta. Na segunda onda, um tsunami gigantesco mata 40% da população. Na terceira onda, os pássaros passam a transmitir um vírus que mata 97% das pessoas que resistiram aos ataques anteriores. Na quarta onda, a adolescente Cassie Sullivan (Chloë Grace Moretz) vai ter que descobrir em quem pode confiar.




"Nem mesmo a presença de Chloë Moretz salva este exemplar genérico de ficção científica distópica do mar de clichês no qual o longa se transforma"



Fui assistir a A 5ª Onda, longa americano que estreou em Janeiro, sem saber exatamente o que esperar, mas precisamente sem esperar nada. Não havia visto o trailer e nem mesmo lido a sinopse. Mesmo para alguém que não criar expectativas, o filme acaba sendo um decepcionante e fútil blockbuster teen que recai nos mesmos erros de filmes contemporâneos do mesmo gênero sem, no entanto, atingir êxito em nenhum dos temas que brinca de propor.

Baseado no best-seller de Rick Yancey e dirigido no piloto automático pelo semidesconhecido J. Blakeson (responsável pelo roteiro de O Abismo do Medo 2), o filme possui como principal chamariz a presença da estrela Chloë Grace Moretz (cujo trabalho particularmente aprecio bastante), mas nem mesmo ela consegue tirar o longa da mesmice. A atriz interpreta a protagonista Cassie Sullivan, que vê a Terra se transformar num semi-deserto destroçado por um cenário apocalíptico, após alienígenas invadirem inicialmente de maneira discreta o planeta e atacarem paulatinamente através de ondas, conforme o título do longa indica. Tais ondas incluem doenças pestilentas e uma queda global de eletricidade. Agora orfã, a jovem Cassie tem que lutar para resgatar seu irmão das mãos de um escuso exército ao mesmo tempo em que deve lidar com a presença constante dos invasores.

Sugerindo, pelo menos a princípio, uma complexidade narrativa que consegue instigar nos primeiros momentos, o roteiro escrito a seis competentes mãos (Akiva Goldsman, oscarizada; Susannah Grant, indicada pela Academia; e Jeff Pinkner) acaba partindo para soluções fáceis num  eixo temático que remete, ao mesmo tempo, a A Hospedeira e Crepúsculo, referências pouco saudáveis. Preferindo se transformar num romance adolescente em vez de uma genuína distopia, A 5ª Onda recai no limbo de adaptações literárias xaroposas adolescente do século XXI. E pelo que parece, será uma trilogia...


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