domingo, 20 de setembro de 2015

Willow Creek (2014)

 Willow Creek (EUA, 2014)
Diretor: Bobcat Goldthwait
Elenco: Bryce Johnson (Jim), Alexie Gilmore (Kelly)
SINOPSE: Jim e sua namorada Kelly estão em Willow Creek, Califórnia, para retraçar os passos dos pesquisadores do Pé-Grande, Patterson e Gimlin, que em 1967, gravaram o mais famoso filme do lendário monstro. Kelly é cética, está apenas interessada em passar tempo com seu namorado entre trabalhos como atriz. Jim, um crente, esperar capturar suas próprias imagens, então sua câmera está sempre gravando. 











Não sou lá muito chegado a filmes que utilizam a estratégia do found footage nem a do mockumentary. Além de tais formatos estarem mais do que desgastados com dezenas de lançamentos todos os anos, a maioria deles de qualidade duvidosa, a impressão que tais filmes deixam frequentemente é a de que tudo não passa de uma desculpa para a falta de orçamento ou de boas ideias. Não é o caso certamente de Willow Creek, primeiro longa de horror escrito e dirigido pelo comediante Bobcat Goldthwait, embora nem pareça que o território fantástico é novidade para o cineasta, já que o resultado não deve nada a exemplares contemporâneos, inclusive se destacando em vários aspectos de outros similares.




Bebendo diretamente na fonte narrativa do sucesso A Bruxa de Blair (1999), o roteiro acompanha o casal de namorados Jim (Johnson) e Kelly (Gilmore) que partem de carro para a exótica cidade turística cujo tema é o famigerado Pé-Grande. Desde pinturas e estátuas em "homenagem" ao bicho, até sanduíches em formato de pegada, tudo no local remete à famosa lenda norte-americana. Particularmente apesar de ouvir falar muito em filmes e séries estadunidenses sobre o tal pé grande, nunca cheguei a ter medo ou curiosidade sobre a criatura, principalmente pelo fator geográfico, é claro; no entanto, o filme realmente é capaz de criar certa curiosidade sobre o monstro humanoide gigantesco. O que Jim quer é ir para o local onde supostamente uma vez foram gravadas aparições do pé-grande por Patterson e Gimlin (1967), e provar a existência do monstro também usando seu equipamento de vídeo.


E já que falamos no parágrafo anterior daquele outro filme de 1999, é bom esclarecer aos leitores que assim como naquele filme, essencialmente nada acontece durante os curtos 80 minutos de projeção de Willow Creek. No entanto, a direção de Goldthwait consegue tornar tudo mais leve, a ponto de não nos importarmos com o fato de que o filme não possui nenhum grande acontecimento (até próximo ao desfecho, claro). Contribui para o bom ritmo da trama a química perfeita entre o casal protagonista, que realmente convence em sua intimidade como pessoas reais com diálogos que provavelmente qualquer um de nós levaria naquela mesma situação, creditando realismo ao que se assiste, aspecto essencial quando tratamos dos subgêneros utilizados pelo filme.



Entretanto, como estamos falando de terror, é bom avisar que o desfecho pode não agradar aos mais conservadores, já que a construção lenta da dinâmica entre os personagens (incluindo aí um plano-sequência que dura impressionantes 18 minutos, que considero genial) entrega uma conclusão abrupta e misteriosa, ainda que ao longo do filme sejam dadas ligeiras pistas que podem ajudar a entender o significado das imagens finais. Independentemente da avaliação do espectador, no entanto, é bastante palpável o clima de tensão e suspense levantado na sequência derradeira, de modo que fiquei gratamente surpreendido por um found footage que, apesar de investir em terreno conhecido, consegue inovar em linguagem e tom, a sua própria maneira.




sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Colinas de Sangue (2009)

Colinas de Sangue (The Hills Run Red, EUA/Bulgaria, 2009)
Diretor: Dave Parker
Elenco: Sophie Monk (Alexa), Tad Hilgenbrink (Tyler), William Sadler (Concannon), Janet Montgomery (Serina), Alex Wyndham (Lalo), Ewan Bailey (Sonny), Danko Jordanov (Babyface), Mike Straub (Gabe), Hristo Mitzkov (Jimbo), Raicho Vasilev (Babyface como ator), Itai Diakov (Babyface jovem).
SINOPSE: Você conhece a história. Aquela sobre a festa mais violenta e sanguinolenta de todas; aquela feita nos anos 80, mas misteriosamente perdida. Avance no tempo até hoje: jovens fãs do terror buscam por um lugar secreto onde o filme foi rodado, esperando encontrar pelas históricas cenas. Mas o que eles descobrem é que aquele épico banho de sangue é muito mais que um filme. É real. E agora eles são as mais novas estrelas "contratadas". © Warner Bros







O que o leitor procura quando vai assistir a um filme de horror de maneira descompromissada, buscando apenas diversão? Violência com muito gore e efeitos de maquiagem práticos, nudez gratuita, humor negro, tensão, mistério, um vilão original? Se isso bastar, então Colinas de Sangue, longa de 2009 distribuído diretamente para vídeo, cumpre bem o seu propósito de entreter o espectador, mesmo aquele menos chegado às convenções de gênero. Curiosamente, é justamente quando o longa tenta bancar o pretensioso é que se dá mal. Mas falemos disso mais adiante.

A ideia do longa, originada dois anos antes de sua concepção, a partir de um argumento original do diretor Dave Parker e até mesmo de um trailer falso, esperou um longo tempo até que a Warner, usando seu "selo independente" Warner Premiere (também responsável por Contos do Dia das Bruxas) embarcou no projeto e juntamente com a Dark Castle (produtora responsável por filmes como A Casa de Cera e Navio Fantasma) levantou um pequeno orçamento e contratou um elenco majoritariamente americano para a produção (o filme foi filmado na Bulgária) que teve contribuições no roteiro de David J. Schow (O Corvo, O Massacre da Serra Elétrica 3), John Dombrow (Vespas Assassinas) e John Carchietta.


De início bastante promissor e até mesmo empolgante, a trama segue o obstinado Tyler (Hilgenbrink), um jovem fanático por filmes de horror, em especial de um longa independente dos anos 80 que ganhou fama de amaldiçoado após ser banido nos cinemas após sua única exibição, devido ao seu conteúdo gráfico, junto com esse fato aparentemente todos da equipe e elenco, incluindo o diretor Concannon (Sadler), sumiram do mapa, e nenhuma cópia nunca foi encontrada. Tyler parte então em busca de Alexa (Monk), filha do diretor do filme perdido e que estava presente no trailer do filme, e descobre que a tal moça é stripper em um boate e viciada em drogas. Como que por milagre, o rapaz não só tira a moça daquela vida, como também a convence a partir com ele, sua namorada Serina (Montgomery) e seu melhor amigo fura-olho, Lalo (Wyndham) numa viagem com destino às locações onde ocorreram as gravações do filme maldito. Chegando lá, claro, algo indica que o filme não está finalizado e os jovens serão as mais novas estrelas a morrer pela arte.

Ao mesmo tempo em que o roteiro é esperto ao subverter algumas convenções de gênero, como aquela do assassino que nunca morre, mesmo quando atingido, ou outra em que um dos heróis tenta convencer o vilão, fingindo ser seu amigo; acaba demonstrando extrema fragilidade em vários pontos, principalmente a partir dos 60 minutos de projeção, quando se transforma numa confusa salada narrativa sem um pingo de ritmo. Pior: Ainda exibe enormes rombos de lógica interna e ainda tenta explicá-los através de flashbacks desnecessários e diálogos expositivos, que só não são mais constrangedores graças ao talento do ator William Sadler. Vale ainda a menção desonrosa à inserção, ainda que pontual, de um CGI grotescamente mal feito.



Entretanto, antes de desandar completamente o filme apresenta boas surpresas num elenco homogeneamente bom, exceto, talvez, pelo protagonista Hilgenbrink, que se revela um canastrão com suas caras e bocas e uma risada extremamente forçada. Por outro lado merece destaque a ótima sacada que ocorre na cena do acampamento. Pena que a partir desse ponto, pouca coisa consiga manter o interesse no longa, uma vez que aquilo que era até então um passatempo tenso e bem construído, se transforma num pretensioso metafilme que não chega a lugar algum. Se o espectador ignorar tais pontos e embarcar na divertida viagem, não deve se decepcionar, ainda que fique um sentimento de que o resultado poderia ser infinitamente superior caso o longa seguisse a premissa inicial.






Curiosidades:
  • Cinco latões com sangue falso, de 55 litros cada, foram usados na cena do trailer inserido no filme que mostra, literalmente, as colinas correndo sangue;
  • O diretor Dave Parker não conheceu o elenco até dois dias antes de começarem as filmagens;
  • O cenário da fazenda foi reaproveitado de outro filme;

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O Amuleto (2015)

O Amuleto (Brasil, 2015)
Diretor: Jeferson De
Elenco: Maria Fernanda Cândido, Bruna Linzmeyer, Daniel Filho, Regius Brandão, Michel Melamed.
SINOPSE: No passado, numa pequena praia em Florianópolis, duas jovens acusadas de praticar feitiçaria foram queimadas vivas na floresta. Nos tempos atuais, os jovens Diana, Alex, Paulinho e Marcinha vão a uma festa que acontecerá na mesma floresta, mas se perdem. No dia seguinte, dois são encontrados mortos e o terceiro segue desaparecido, sendo que Diana é a única sobrevivente e não se lembra o que aconteceu. Vídeos gravados encontrados nos celulares das vítimas podem ajudar a polícia a desvendar o caso - ou complicar ainda mais o mistério.








 
O gênero fantástico, como regra, sempre foi raridade no cinema nacional. Esse cenário vem mudando e atualmente a situação é promissora, tanto no cinema de bordas e independente, onde já temos nomes bem estabelecidos como os cineastas Rodrigo Aragão, Dennison Ramalho, Petter Baiestorf, entre outros, e também no cinema que chega aos multiplexes, exemplificado em tempos mais recentes nos longas Isolados e Quando Eu Era Vivo, ambos lançados no ano passado, e de O Amuleto, longa do paulista Jeferson De (Bróder) que em certos momentos, lembra outro terror nacional, Desaparecidos, algo nada bom em termos de referência.

O longa segue o tradicional início de apresentar um breve prólogo que se passa num tempo distante, no qual temos a narração da personagem Elisabete (Maria Fernanda Cândido) e que mostra um homem (que aparentemente não sabe falar, já que inexplicavelmente fica gritando a todo momento) levando duas mulheres para um sacrifício no meio da mata. No presente, em Florianópolis, o investigador Carvalhão (Regius Brandão) encontra um carro abandonado e manchado com sangue numa estrada de terra cercada por mata. Logo ele encontra nas proximidades Diana (Bruna Linzmeyer) desacordada e que parece ter sido a única sobrevivente de um grupo de quatro amigos que estavam no carro indo para uma festa na noite anterior. A partir daí o roteiro se divide em acompanhar o que aconteceu aos quatro amigos no dia anterior ao mesmo tempo em que paralelamente mostra a nada eficiente investigação policial, que ainda conta com o suspeitíssimo investigador Reginaldo (Michel Melamed) que parece ter um interesse escuso no caso, em especial em Diana, ela também cheia de mistérios relacionados ao passado de sua família.

Apesar de relativamente bem fotografado e iluminado, o filme se arrasta ao longo de uma duração até curta de 81 minutos, e utiliza a duvidosa técnica de acompanhar passado e presente de maneira simultânea, algo que por si só já dilui qualquer tentativa de suspense. No entanto, o pior defeito de O Amuleto é mesmo seu roteiro, repleto de incoerências, momentos nonsense e diálogos constrangedores. Em determinado momento da trama, por exemplo, um dos personagens passa mal e decide sair do carro, no entanto, em vez de fazer suas necessidades ali por perto mesmo, se embrenha na floresta procurando, talvez, por um banheiro químico, algo que faz com que os outros personagens acabem em busca dele, não sem antes uma delas ligar para o celular do rapaz, e ouvindo ruídos estranhos, julgar que ele deve ter achado o lugar da tal festa a pé (!!!!). Depois de desligar o telefone, ela solta a pérola: Sei lá, entendi nada, ai, vou fazer xixi.

Falhas do roteiro à parte (ou nem tanto), a tentativa de criar uma complexidade envolvendo o tal mistério do amuleto também é deficiente. Não há em nenhum momento tensão genuína que caracterize o filme como um autêntico thriller e as pistas deixadas ao longo da projeção gritam por atenção, a tal ponto que quando a revelação da trama finalmente ocorre, tudo já está tão manjado, mesmo pelo espectador mais desatento, que dificilmente alguém se surpreenderá. As atuações ainda são canastríssimas, e mesmo as caras mais conhecidas no elenco ficam engessadas em papeis rasos.

Embora involuntariamente funcione como vitrine para um gênero que tem tudo para aparecer cada vez mais nos cinemas do Brasil, O Amuleto é mais uma dessas tentativas que morrem na praia.



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