sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O Herdeiro do Diabo

O Herdeiro do Diabo (Devil's Due, EUA, 2014)
Diretor: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett
Elenco: Allison Miller (Samantha), Zach Gilford (Zach), Sam Anderson (Padre Thomas), Roger Payano (Motorista de Táxi), Vanessa Ray (Suzie), Bill Martin Williams (Ken), Geraldine Singer (Sally), Julia Denton (Natalie), Colin Walker (Stanley), Madison Wolfe (Brittany), Joshua Shane Brooks (Braedon), Aimee Carrero (Emily).
SINOPSE: Logo após o casamento de Jack e Samantha, este casal apaixonado recebe a boa notícia: eles vão ter um bebê. A gravidez chega antes do planejado, mas os dois ficam contentes e começam a se preparar para a chegada do primeiro filho. Samantha começa a ficar cada vez mais tensa, nervosa. Inicialmente, todos acreditam que são apenas os hormônios em transformação, mas logo percebem que uma força maligna se apoderou do corpo dela. 



"Nem todos os milagres vem de Deus"


O herdeiro do diabo não é tão feio quanto pintaram por aí, mas é bastante inofensivo. Funcionando moderadamente como horror, O Herdeiro do Diabo segue a história de um jovem casal, Samantha e Zach McCall (Allison Miller e Zach Gilford) que estão muito felizes com o casamento que acaba de acontecer. Em sua lua-de-mel pela Republica Dominicana, o casal é convidado por um taxista (Roger Payano) para uma festa obscura nos subúrbios da cidade. Após muita bebedeira e uma ressaca para ambos, o casal volta da viagem com uma inesperada surpresa: Samantha está grávida. A felicidade toma conta do casal, com Zach gravando cada momento da gravidez com sua câmera caseira. No entanto, mudanças muito estranhas no comportamento de Samantha podem revelar algo muito mais sério do que problemas comuns da gravidez.


Beneficiado por um uso inteligente do recurso da câmera na mão, os cineastas Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett se mantêm fieis à lógica proposta pelo longa quase integralmente, e encontram maneiras muito orgânicas de acompanharem a sina dos protagonistas através de imagens de câmeras que vão além daquela que o personagem Zach utiliza, com destaque para a cena que se passa no interior de um supermercado e faz uso do sistema de câmeras de segurança do local para mostrar uma das mudanças no comportamento de Samantha. Da mesma forma, o recurso também serve para criar um sentimento de empatia muito eficiente para com o casal protagonista, através de um primeiro ato destinado a mostrar situações triviais daqueles personagens, algo que não se torna cansativo, mas acaba fazendo com que nos importemos com aquelas pessoas.


Porém, se os diretores e a roteirista estreante Lindsay Devlin acertam no formato já saturado por cinesseries como Atividade Paranormal e derivados, o longa possui os mesmos defeitos dos filmes de horror lançados atualmente, como os inúmeros sustos falsos, a maior parte deles baseada no volume estridente da trilha para causar pulos da poltrona do cinema. Além disso, a trama se mostra formulaica e óbvia, previsível desde a mudança de comportamento da mulher, que passa a comer carne, sendo anteriormente vegetariana, até a repentina troca do médico obstetra que cuida da gravidez de Samantha, algo que remete ao clássico O Bebê de Rosemary. Além disso, os diretores criam uma cena gratuita, onde Samantha está na floresta fazendo uma refeição pouco apetitosa, apenas para mostrar efeitos visuais bacaninhas onde pessoas saem voando, algo que a dupla parece gostar, a julgar pelo segmento dirigido por eles na antologia V/H/S. Pontualmente a trama ainda conta com furos pontuais de lógica (Por exemplo, como ninguém nota a movimentação na casa vizinha?) e foge, ainda que raramente, do formato proposto, momentos que podem acabar jogando o espectador para fora do filme. Criando ainda um mistério com certo nível de tensão, mas acabando por um final apressado e um gancho óbvio para uma continuação, O Herdeiro do Diabo fica no meio do caminho, mas é capaz de oferecer um bom entretenimento para os menos exigentes.

NOTA: Crítica publicada também no portal Boca do Inferno






Curiosidades: 

Os diretores construiram o filme como um "suspense macabro", e uma "história de amor enervante", em vez de simplesmente um filme de terror, que é como a distribuidora Fox Film acabou "vendendo" o filme.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Matadouro - Parte 2: Prelúdio

Matadouro - Parte 2: Prelúdio (Brasil, 2013)
Diretor: Carlos Junior  
Roteiro: Carlos Junior  
Elenco: Fabíola Antico, Thiago dos Santos, Ana Carolina, Carlos Cesar Gonçalves, Cammila Sanches, Leandro Martins, Brunno Alexandre, Kelly Andrade, DW Douglas, Maicon Amaral, Bruno Henrique Gordon, Ricardo Araújo, Fernando Novaes, Ailton Ricardo, Stephanie Berlini, Laura Marafante, Bruno Diego, Lucas Zanata
SINOPSE: Um grupo de jovens amigos se reúne em uma casa isolada para celebrar uma festa natalina, no entanto, vão percebendo que alguém muito perigoso anda à solta e transformará a festa num dos seus piores pesadelos.






Pouquíssimo tempo após lançar o primeiro capítulo de seu terror independente Matadouro, o cineasta independente mariliense Carlos Junior volta com uma sequência, ou melhor, prequel do filme que foi lançado online e atraiu centenas de fãs de horror para um filme de um gênero que, ainda bem, cada vez mais cresce no cenário amador e independente nacional.
E o filme mostra um claro avanço em relação ao anterior. Logo no início do filme, ou prólogo, temos uma cena que já mostra uma crueza e uma subjetividade que realmente incomodam. Imediatamente depois, somos apresentados ao grupo de amigos, que, já sabemos, serão as próximas vítimas a sofrerem o martírio na nova trama. E novamente, por mais realista que sejam as filmagens e os diálogos entre os amigos, há uma confusão irritante entre as falas do elenco, e em determinados momentos parece que estamos assistindo a um vídeo caseiro entre amigos de escola que acaba chateando, em vez de criar empatia, por mais verossímil que tais filmagens possam parecer, e isso advém em parte do fator entretenimento de filmes desse tipo, já que é preciso delinear minimamente uma dinâmica clara entre os protagonistas, senão o que vem depois é prejudicado, uma vez que o sentimento de empatia no gênero horror, e mais ainda em um subgênero como esse, é fundamental. E ainda que a gritaria e o problemático som (problemas também presentes no primeiro filme) atrapalhem, o rumo da trama é tomado de maneira orgânica, com destaque, por exemplo, para quando a jovem Cammila (Cammila Sanches) apresenta uma atuação realista quando embriagada, criando ali sim uma situação verossímil e interessante. O som, portanto, ainda é o principal problema, mas o diretor-roteirista Carlos Junior aprimora sua narrativa, desta vez se assemelhando mais a um slasher do que a um torture porn, criando uma trama ágil, ainda que já conhecida, a partir da cena em que alguns amigos entram no carro para ir embora, e confesso que me peguei torcendo para que os protagonistas conseguissem fugir no momento em que uma misteriosa figura aparece no meio da estrada, dizendo sozinho “Acelera, meu, acelera!”, sendo gerado nessa cena um sentimento de urgência bastante eficiente.
Matadouro 2 (2013)
A visualização do que está ocorrendo melhora muito neste prequel, já que em comparação com o primeiro filme, nas cenas de tortura tudo fica muito mais visível para o espectador, o que é claramente um avanço, já que não se via quase nada no primeiro filme devido à escuridão em algumas cenas. E por falar nas cenas da matança, elas são bem montadas, deixando-nos ver algumas coisas e escondendo outras, seguindo a linha do primeiro filme, e como comentário extra devo dizer que a agoniante cena onde um gancho é levado a um local pouco “ortodoxo” me lembrou imediatamente de uma cena entre Tony Todd e Virginia Madsen em Candyman, mas não sei se foi coincidência ou uma referência explícita. Em relação as atuações, o destaque no elenco mais uma vez fica para Bruno Diego, que novamente rouba a cena e encarna de corpo e alma seu vilão.
Matadouro 2 (2013)
Finalmente, ainda que apresentando alguns furos, além dos defeitos já mencionados, Matadouro: Prelúdio se torna interessante pelo esquema com o qual foi feito, demonstrando, assim como escrevi em relação ao primeiro filme no meu blog, um envolvimento grande de todos os envolvidos, e, por mais saturado que esteja o já frágil por natureza gênero do filmagens encontradas, o novo filme de Carlos Junior se torna não somente um avanço do próprio diretor, mas também serve como inspiração para um sem-número de cineastas ou aspirantes a cineastas que veem em lançamentos como este a possibilidade da criação artística, mesmo com pouca ou nenhuma grana. Cinema de guerrilha é sempre bom de assistir, e por esse motivo, apesar (ou justamente em função) dos defeitos, Matadouro parte 2: Prelúdio está recomendado.

NOTA: Crítica também publicada no portal Boca do Inferno


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