quinta-feira, 6 de março de 2014

À Meia-noite levarei sua alma

À Meia-noite Levarei sua Alma (Brasil, 1964)
Diretor: José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins (Zé do Caixão/Josefel Zanatas), Magda Mei (Terezinha), Nivaldo Lima (Antonio), Valeria Vasquez (Lenita), Ilídio Martins Simões (Dr. Rodolfo (como Ilídio Martins)), Antonio Marins (Seu Francisco), Laércio Laurelli (voz dublada de Zé do Caixão), Arildo Iruam, Graveto, Robinson Aielo, Avelino Morais, Luana, Leandro Vieira, Mário Lima.
SINOPSE: O cruel e sádico coveiro Zé do Caixão, temido e odiado pelos moradores de uma cidadezinha do interior está obcecado em conseguir gerar o filho perfeito, aquele que possa dar continuidade ao seu sangue. A sua mulher não consegue engravidar e ele acredita que a namorada do seu melhor amigo é a mulher ideal que procura. Violada por Zé do Caixão, a moça quer cometer suicídio para regressar do mundo dos mortos e levar a alma daquele que a violou. A saga de Zé do Caixão continuará em Esta noite encarnarei no teu cadáver.






Zé do Caixão é um agente funerário de um pequeno vilarejo interiorano no Brasil, sua vida gira em torno de gerar o filho perfeito, já que do seu ponto de vista é a única maneira de obter a imortalidade, já que despreza toda e qualquer crença no invisível e no sobrenatural. Enquanto busca seu objetivo, desafia a fé católica, causa medo no povo da cidade e deixa um rastro de violência e mortes.



Se hoje a repugnância moral do personagem Zé do Caixão não tem o mesmo efeito, devido à decadência da maioria das religiões, e ao fato de o próprio Zé ter se tornado uma caricatura não só fora do cinema, mas no próprio universo diegético, devido aos seus exageros de interpretação, é certo que se olharmos tomando o ponto de vista da época, é possível imaginar o enorme impacto que À Meia-noite levarei sua alma teve no público que foi assistir ao filme nos cinemas.



Com Mojica demonstrando coragem e inovação ao construir um vilão que se apresenta
completamente avesso às religiões e à alienação do povo, é curioso ao mesmo tempo constatar que o motto de Zé do Caixão não serve para incitar uma libertação popular, já que o sujeito causa completo medo no vilarejo em que mora, e além disso é extremamente violento e machista, já que não hesita em torturar a mulher quando esta não consegue lhe dar filhos, que é o objetivo principal de Zé durante toda a sua saga, a continuidade do sangue, e da mesma maneira, também assassina o melhor amigo e violenta a noiva dele, sendo perseguido no desfecho pelos seus fantasmas, revelando finalmente o aspecto sobrenatural que o filme não havia mostrado até então. 
Muito hábil ao se aproximar da estética americana ao ter um cuidado especial na construção de cenários e suspense, mas ao mesmo tempo não deixando de lado a cultura e as crendices nacionais, Mojica cria genuinamente o primeiro horror nacional, bem montado, apesar de todas as dificuldades financeiras, e que se torna fundamental para qualquer um que queira entender a história do cinema brasileiro, ainda que pouco valorizado e explorado neste gênero tão fantástico (com o perdão do trocadilho).

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