sábado, 23 de janeiro de 2016

Amaldiçoado (2013)

Amaldiçoado (Horns, EUA/Canadá, 2013)
Direção: Alejandre Aja
Elenco: Daniel Radcliffe (Ignatius Perrish), Juno Temple (Merrin Williams), Max Minghella (Lee Torneau), Joe Anderson (Terry Perrish), Kelli Garner (Glenna Shepherd), James Remar (Derrick Perrish), Kathleen Quinlan (Lydia Perrish), Heather Graham (Veronica), David Morse (Dale Wlliams), Jay Brazeau (Padre Mould), Alex Zahara (Dr. Renald)
SINOPSE: Um jovem de 26 anos de idade descobre um dia, quando acorda, que sua namorada foi estuprada e assassinada. Ele é imediatamente apontado como principal suspeito, o que o obriga a partir em busca do verdadeiro responsável. Sua arma será o par de chifres que crescem em sua cabeça, e forçam as pessoas que lhe encontram a revelarem seus segredos.





Em dado momento de Amaldiçoado, o protagonista Ig Perrish, interpretado por Daniel Radcliffe – o único suspeito do brutal assassinato de sua namorada – ganha os chifres do título original, e passa então a descobrir de maneira espontânea os segredos de todos com quem conversa, desde uma desconhecida criança birrenta que confessa ao rapaz que desejaria colocar fogo na cama da mãe, até sua própria progenitora (Kathleen Quinlan) que desabafa com o filho que não aguenta mais sua presença. Tais instantes de inspirado humor negro representam a melhor parte do roteiro, que subitamente muda seu tom para um patético suspense que busca desvendar o assassino através do novo dom de Perrish, tudo isso embalado por algum gore e símbolos religiosos martelados sem a menor sutileza. Ainda há espaço para conotações nunca bem desenvolvidas sobre amadurecimento, e uma revelação piegas no terceiro ato, que é capaz de fazer até mesmo os preguiçosos roteiros de telefilmes vespertinos ficarem com inveja.


Baseado em obra de Joe Hill (o filho do meio de Stephen King), a trama segue, como exposto acima, a saga do homem inocente tentando provar sua inocência. A diferença aqui é que, além da previsibilidade e do final anticlimático, o protagonista acaba ganhando adereços inusitados, porém bastante úteis em sua busca por achar o verdadeiro culpado pelo estupro e assassinato de sua namorada.

Sem seguir uma estrutura linear, o roteiro de Keith Bunin parece mudar de direção a cada vinte minutos, criando assim a sensação de nunca chegar lá, seja lá onde quisesse, ainda tendo a inclusão de vários flashbacks. Prejudicado ainda por um elenco no mínimo sem inspiração, já que frequentemente Radcliffe parece aborrecido e declamando suas falas, Amaldiçoado ainda entrega alguns dos piores diálogos já vistos no cinema, que vão do expositivo ao simplesmente constrangedor (I fucked her tight little pussy...). A mão pesadíssima de Aja na direção não ajuda em nada, já que mesmo os instantes de potencial construção de alegorias são esfregadas em tom literal na cara do espectador.



Entretanto, no final das contas Amaldiçoado não chega a ser uma total perda de tempo, já que o longa até consegue divertir e intrigar com suas boas ideias, pena que a maioria delas se perde na verdadeira salada construída por Aja e Bunin.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Enigma do Horizonte (1997)

O Enigma do Horizonte (Event Horizon, EUA/Inglaterra, 1997)
Direção: Paul W. S. Anderson
Elenco: Sam Neill (Dr. William Weir), Laurence Fishburne (Capitão Miller), Kathleen Quinlan (Peters, Técnica Médica), Joely Richardson (Tenente Starck), Richard T. Jones (Cooper), Jack Noseworthy (Justin), Jason Isaacs (D.J.), Sean Pertwee (Smith), Peter Marinker (Capitão John Kilpack), Noah Huntley (Homem queimado/Edward Corrick),  Holley Chant (Claire).
SINOPSE: O ano é 2047. Alguns anos atrás, a pioneira nave de pesquisa Event Horizon desapareceu sem deixar vestígio. Agora, um sinal foi detectado e o Comando Aeroespacial dos Estados Unidos responde. Em busca da origem do sinal está um destemido capitão (Laurence Fishburne), sua tropa de elite e o designer que projetou a nave perdida (Sam Neill). Sua missão: encontrar e resgatar a espaçonave de última geração. Mas o que eles encontram é o terror de última geração; o que eles têm que resgatar são suas próprias vidas, pois alguém, ou alguma coisa está prestes a envolvê-los em uma nova dimensão de pavor inimaginável. © Paramount





Espaço Infinito. Terror Infinito


Conrforme o dito popular, de boas intenções o inferno está cheio. Algo que literalmente se aplica a O Enigma do Horizonte, dirigido por Paul -Milla Jovovich- Anderson que só havia comandado antes desse filme a adaptação de Mortal Kombat (1995). Lembro que quando assisti ao filme pela primeira vez, achei a experiência frustrante devido aos elogios (de público) que qualificavam a obra como uma mistura que passava por Alien, Hellraiser e chegava até mesmo a 2001 e Solaris. Exageros à parte, a verdade é que a experiência de revê-lo foi ainda mais decepcionante, embora o longa tenha deixado um legado (vide Dead Space) que poderia ser potencialmente muito maior.


O enredo de Enigma se concentra em uma missão espacial de busca e salvamento encomendada por Weir (Sam Neill, canastríssimo aqui) com equipe liderada pelo Capitão Miller (Fishburne) que envolve a ida deles até a órbita de Netuno, de onde um sinal foi emitido, pertencente à nave Event Horizon, projetada por Weir e desaparecida há sete anos. O problema é que a tal nave não ficou sumida todo esse tempo à toa, já que o mecanismo do veículo envolvia viajar longuíssimas distâncias em espaços de tempo ínfimos usando o conceito da criação de portais através de dobras espaciais e buracos negros. Não é preciso muito para adivinhar que depois da "viagem" a nave agora mais se parece com um navio fantasma, e descobrir o destino da tripulação da Event Horizon é só o começo de uma perturbadora jornada para a equipe de Miller e Weir.

Tendo um design de produção arrojado que remonta ao mesmo tempo ao gótico e ao futurista, o filme lança mão de conceitos interessantes, como a nave em formato de cruz e outros símbolos religiosos, como as referências ao Inferno de Dante e ao próprio conceito de Inferno em si, contando inclusive com a consultoria de Clive Barker durante a pré-produção, deixando claro as influências do universo de Hellraiser no projeto. Além disso, a própria complexidade (inclusive científica) sugerida pela trama, utilizando atalhos no espaço-tempo e a viagem para outras dimensões é algo promissor, pena que quase tudo mal aproveitado pelo preguiçoso roteiro. 
 
E acaba ficando tudo na promessa mesmo. Até mesmo as tais perturbadoras cenas do que teria acontecido aos ocupantes da nave quando viajaram pelo tal portal ficaram em sua maioria na sala de edição, devido aos imensos cortes (mais de 20 minutos) feitos por exigência da MPAA (órgão de classificação de filmes nos EUA) por causa de seu conteúdo violento (cenas que nunca veriam a luz do dia, nem mesmo nas edições em home video). Ou seja, nem mesmo lidando com o gore o filme se sustenta, já que muito pouco impressiona. Pior ainda é quando o filme se leva excessivamente a sério, mesmo com seu atabalhoado roteiro, provocando o riso involuntário em algumas cenas. Destaque para o excesso de frases de efeito que rolam soltas durante a trama, a hilária troca de socos entre Miller e Pinhead-Weir no terceiro ato, e a trilha sonora eletrônica de Michael Kamen, que em vez de auxiliar na criação do suspense, remete mais a telefilmes baratos. Aliás, de todos os defeitos, o mais imperdoável deles é justamente esse. O longa não constrói minimamente o clima de suspense ou terror, provavelmente devido à direção frouxa de Anderson, que acreditou provavelmente estar dirigindo uma adaptação de videogame, com as quais, aliás, ficou acostumado.


 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Enigma de Outro Mundo (1982)

O Enigma de Outro Mundo (The Thing, EUA, 1982)
Direção: John Carpenter
Elenco: Kurt Russell, Keith David, Wilford Brimley, Donald Moffat, T. K. Carter, Richard Masur, David Clennon, Charles Hallahan, Richard Dysart, Peter Maloney, Joel Polis, Thomas G. Waites, Norbert Weisser, Larry J. Franco.
SINOPSE: O mestre do terror John Carpenter usa de efeitos especiais e muito suspensa nesta versão arrepiante do clássico O Monstro do Ártico. No verão de 1982, um time de doze pesquisadores trabalha numa remota estação na Antártica e descobre um ser alienígena submerso na neve há mais de 100.000 anos. Descongelada, a criatura mutante possui a habilidade de duplicar e se transformar em seu hospedeiro, matando-o em seguida e espalhando o terror. O problema é descobrir quem é ser humano e quem é o possível alienígena.







Pode parecer estranho hoje que um reconhecido clássico de gênero como Enigma do Outro Mundo possa um dia ter sido um fracasso. Mas é verdade. Lançado em 1982, o oitavo longa do mestre João Carpinteiro fracassou de cara nas bilheterias, em parte devido à estreia na mesma semana de outro clássico da ficção científica, Blade Runner – O Caçador de Androides, e em parte devido ao megassucesso de E.T. - O Extraterrestre, que mostrava alienígenas sob um ponto de vista bem mais otimista e amigável do que o longa de Carpenter, e que acabou arrebanhando o público familiar para os cinemas. Não só público mas também a crítica da época sentou a lenha no filme, que só ganhou o merecido reconhecimento após o lançamento em home vídeo e exibições na TV. Opiniões à parte, é inegável a influência desse trabalho em inúmeros outros exemplares de sci-fi horror, desde a construção lenta e gradual do suspense até a trilha sonora enervante e aos efeitos de maquiagem práticos usados aqui sem a menor parcimônia.



Podendo ser considerado ao mesmo tempo um remake de O Monstro do Ártico (1951) e uma readaptação do conto Who Goes There? (1938) de John W. Campbell, o roteiro de Bill Lancaster acompanha uma estação americana de pesquisa na Antártida que se vê ameaçada por uma estranha espécie parasita alienígena que assimila organismos vivos e os imita, criando uma cópia exata daquele, assim gerando uma atmosfera paranoica de quem é realmente humano entre aqueles homens.

Enigma se caracteriza quase como um exercício de gênero, e se sai naturalmente muito bem nesse sentido com a direção segura de John Carpenter. Não há preocupação em desenvolver a maior parte de seus personagens, já que vemos desde o início da trama MacReady (Russell) assumindo o destaque exclusivo da história, quando na primeira sequência é visto isolado do restante de sua equipe, e percebemos seu comportamento impulsivo, mas também de liderança, já que basicamente nenhum dos outros homens questiona suas ações ou suas ordens. Assim, a deficiência na caracterização daquelas pessoas não geraria no espectador a tão conhecida identificação, no entanto, não é o que ocorre, já que o roteiro acaba apostando bem na construção de paranoia e medo, conferindo curiosamente a cada personagem a mesma importância em dado momento do filme, já que qualquer um pode ser a coisa.



Além disso, Carpenter deita e rola com a maquiagem prática criada por Rob Bottin com colaboração da lenda Stan Winston, que confere ao longa um caráter grotesco, mas que nunca soa gratuito, aliando desespero e morbidez ao suspense instalado. Uma aposta corajosa que deu certo, se considerarmos que na maioria das vezes a construção do suspense, em se tratando de filmes com criaturas, consiste muito mais em esconder do que mostrar. A ambientação de isolamento é construída lenta e gradualmente, como em Alien – O Oitavo Passageiro, tendo como auxiliar principal a trilha quase onipresente de Ennio Morricone.

Independentemente de o longa funcionar ou não como alegoria, como aqueles que citam o filme no contexto da Guerra Fria, o fato é que Enigma do Outro Mundo funciona em vários níveis, do horror repulsivo ao thriller psicológico, algo cada vez mais raro no cinema de gênero atual.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Terror nos Bastidores (2015)

Terror nos Bastidores (The Final Girls, EUA, 2015)
Direção: Todd Straus-Schulson
Elenco: Makin Akerman (Alice Cartwright/Nancy), Taissa Farmiga (Max Cartwright), Alexander Ludwig (Chris Briggs), Nina Dobrev (Vicky Summers). Alia Shawkat (Gertie Michaels), Thomas Middleditch (Duncan), Adam Devine (Kurt), Angela Trimbur (Tina), Chloe Bridges (Paula), Tory N. Thompson (Blake), Lauren Gros (Mimi).
SINOPSE: Max (Taissa Farmiga), uma garota do ensino médio está de luto pela perda de sua mãe, que, quando jovem, foi uma atriz de filmes de terror. A menina se vê, misteriosamente, dentro de um filme da mãe nos anos 1980. No filme, Max está com sua mãe e suas amigas e elas precisam lutar contra um assassino, além de conseguir uma maneira de voltar a vida real.






Terror nos Bastidores é um metafilme curioso. Ao mesmo tempo em que, como fã de horror, me senti bem à vontade com as referências (e a reverência) que o filme esbanja, em especial com relação à enorme franquia Sexta-Feira 13 (1980-2009) e seu icônico vilão, também senti grande frustração ao perceber os rumos que o longa infelizmente acaba tomando.

Dirigido por Todd Strauss-Schulson (O Natal Maluco de Harold e Kumar) o longa tem como protagonista Max (Taissa Farmiga) cuja mãe, a atriz Amanda (Malin Akerman) acaba morrendo em um acidente de carro, e cuja carreira acabara ficando marcada por papéis genéricos em filmes de horror, em especial do slasher cult Camp Bloodbath. Numa espécie de reexibição do tal filme, Max e alguns de seus amigos se unem a uma multidão de aficcionados e lotam o cinema local. O problema é que um súbito incêndio na sala de exibição e o bloqueio das saídas de emergência obriga o grupo de personagens a utilizar uma saída atrás da tela que os transporta literalmente...para dentro do filme que estava sendo exibido, onde acabam se encontrando com os personagens agindo no filme em tempo real, inclusa entre eles Nancy que é interpretada justamente pela mãe de Max. Não demora para que os amigos descubram que tentar fugir do filme é inútil e só há uma maneira de escapar: Uma virgem deve assumir o papel de Final Girl, confrontar e assassinar o maníaco mascarado Billy Murphy cujo passado, máscara, facão e o tema musical que anuncia sua presença remetem diretamente a Jason Voorhees.

Contando com uma trilha sonora que usa e abusa de sintetizadores e uma atmosfera jovial que prestam homenagem aos slashers oitentistas, Terror nos Bastidores é competente nesse objetivo, e mesmo tocante ao incluir a subtrama (ou seria trama principal?) o relacionamento entre Max e sua mãe. Uma pena que, ao tentar acertadamente fugir da mera sátira (vide Todo Mundo em Pânico e congêneres) o roteiro é incapaz de criar uma identidade própria, seu desfecho soando irritante e arrastado. Explico. Os personagens supostamente "reais" da trama soam tão aborrecidos e caricaturais que acabamos nos importando mais com aqueles que, de acordo com a personagem de Nina Dobrev, não são reais. O problema é justamente quando Tina, Kurt e Paula, personagens divertidíssimos e cativantes de Camp Bloodbath, saem de cena e o longa acaba caindo no lugar-comum, com perseguições intermináveis num terceiro ato previsível logo de cara. E mesmo que as pessoas que habitam o longa criassem maior identificação com o espectador, ainda assim a própria estrutura do roteiro deixa claro que tudo não passa de um filme. Ou um filme dentro do filme. Infelizmente com tais características, como o péssimo final e papéis descartáveis, parece que os artistas por trás de Terror nos Bastidores se preocuparam demais em homenagear os slashers e trouxeram junto seus mesmos defeitos.

Trailer: 


 
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