sábado, 31 de dezembro de 2011

O demônio em pessoa no clássico O Exorcista

O Exorcista (The Exorcist EUA, 1973)
Direção: William Friedkin
Roteiro de William Peter Blatty baseado em seu próprio livro
Elenco: Linda Blair (Regan MacNeil), Ellen Burstyn (Chris MacNeil), Max Von Sydow (Padre Merrin), Jason Miller (Padre Karras), Kitty Winn (Sheron), Lee J. Cobb (Tenente Kinderman), Jack MacGowran (Burke Dennings).
SINOPSE: Chris MacNeil (Ellen Burstyn), uma atriz de cinema, começa a perceber que sua delicada filha de 12 anos Regan (Linda Blair) está agindo de maneira estranha e preocupante como o uso de palavrões e rebeldia. Após passar por uma junta de vários médicos chega-se a uma terrível conclusão: Regan está possuída pelo demônio. É feita, então, a escolha pelo exorcismo de Regan.

“O melhor filme de horror de todos os tempos”

O rótulo acima não é meu e sim de uma maioria esmagadora da crítica e público, que, assim como eu, considera O Exorcista uma obra-prima. Único filme de horror indicado à categoria de melhor filme no Oscar, achei o filme ideal para escrever no último dia de 2011 (hehe).

A minha opinião para a razão do tremendo sucesso do filme foi a de O Exorcista não ser apenas um simples filme de horror. Além da temática perturbadora por si só (que virou “moda” nos anos seguintes, gerando filmes de exorcismo até hoje), há um forte pano de fundo psicológico, que transforma o filme em um excelente Drama, apoiado em fabulosas atuações do elenco.

A primeira vez que assisti ao filme foi em 2004, aos 12 anos, na TV Aberta. Assisti por puro entretenimento, querendo me assustar, sem a profundidade que hoje vejo que o filme oferece. E confesso, terminei de assistir o filme e estava completamente aterrorizado, com aquele medo típico de criança de ir ou mesmo e levantar do sofá. Só por isso o filme já ganhou meu respeito na época. Qual é o filme de horror lançado hoje que pode ser considerado ao mesmo tempo sério e assustador?

A trama, adaptada do best-seller de William Peter Blatty, se passa na cidade de Georgetown e conta a história de Chris MacNeil, cuja jovem e doce filha Regan passa, de uma hora para outra, a se comportar de maneira rude, violenta e distante. Chris apela para os médicos, Regan se submete a uma série de dolorosos e invasivos exames, mas a junta médica não encontra seu problema. É quando os próprios médicos sugerem à Chris que tente uma prática paliativa, o Exorcismo, como força de sugestão à Regan, acreditando que isso resolveria o problema. Nesse meio tempo, conhecemos um pouco da história dos padres que realizaram a tarefa: O jovem Karras (Jason Miller), ex-lutador de boxe e que vive com a culpa de ter abandonado sua mãe idosa que depois vem a falecer, juntamente com a perda de sua fé, dessa maneira, chega a ser curioso e inteligente o recurso que o filme/livro aborda em retratar um padre psiquiatra, que naturalmente enxerga motivos racionais nas supostas "possessões", e que, para piorar, passa por uma crise de fé. Temos também o veterano padre Merrin (Max Von Sydow), que parece estar esperando por sua luta final contra o demônio após muitos anos. Na construção de personagens e nas atuações começa a grande qualidade de O Exorcista. Não temos exageros, e sim encarnações perfeitamente realistas por parte de todo o elenco, desde a vulnerável Regan até a apaixonada composição de Jason Miller. 
Não há espaço para o humor involuntário e o filme investe num constante e absurdo crescente de tensão, que choca mais pelo suspense e pelo que ocorre dentro dos personagens, do que pelas imagens violentas que povoaram o imaginário de milhões de pessoas que assistiram ao filme. Apresentando um desfecho que é, ao mesmo tempo, correto, elegante e desolador, o filme, que tem a aparência feia como Pazuzu, se revela um denso drama psicológico que revela a maestria de todos os envolvidos no processo, ainda que o filme tenha infelizmente caído na chacota e nos tabloides sensacionalistas envolvendo casos bizarros de bastidores.


Curiosidades:

  • O Exorcista foi indicado a 10 Oscar e venceu 2: Melhor som e melhor roteiro adaptado para William Peter Blatty;
  • Orçado em cerca de 11 milhões de dólares, O Exorcista faturou (até 2004) quase 360 milhões de dólares(!);
  • A perturbadora cena na qual Regan desce as escadas de forma estranha termina com ela babando sangue na nova versão do diretor. No original a cena é muito mais assustadora. Confira abaixo: 


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Saturn Award: O Oscar do Horror



Saturn Award

Prêmio anual promovido e oferecido pela Academia de Filmes de Fantasia, Horror e Ficção Científica com o objetivo de prestar homenagem aos melhores trabalhos e nos gêneros fantásticos no cinema, televisão e vídeo. O prêmio foi criado pelo Dr. Donald Reed em 1972, que sentiu que filmes do gênero horror e fantasia nunca tiveram a atenção que mereceriam naquele tempo. O troféu é uma representação do planeta Saturno, circulado por um anel de filme. O prêmio foi e ainda é chamado algumas vezes de “O rolo de ouro”.
O prêmio é quase um Oscar e tem esquema de votação similar. A seguir eu apresento todos os premiados até agora com o titulo de melhor filme de horror, uma das principais divisões da premiação:





ANO:               FILME:                            ANO:               FILME:
1973         O Conde Drácula                      1993         Drácula de Bram Stoker
1975         O Exorcista                             1994         Uma Noite Alucinante 3
1976         Jovem Frankenstein                 1995         Entrevista com o Vampiro
1977         Mansão Macabra                       1996         Um Drink no Inferno
1978         A menina do outro                   1997         Pânico
lado da rua 
1979         O Homem de Palha                  1998        O Advogado do Diabo
1980         Drácula                                   1999        O Aprendiz
1981         Grito de Horror                       2000        O Sexto Sentido
1982         Um Lobisomem Americano
 em Londres                                           2001        Premonição
1983         Poltergeist                              2002        Os Outros
1984         Na Hora da Zona Morta             2003        O Chamado
1985         Gremlins                                 2004        Extermínio
1986         A Hora do Espanto                   2005        Todo Mundo Quase Morto
1987         A Mosca                                  2006        O Exorcismo de Emily Rose
1988         Os Garotos Perdidos                2007        Abismo do Medo
1990         Os Fantasmas se divertem       2008         Sweeney Todd
1991         Aracnofobia                            2009         Hellboy 2
1992         O Silêncio dos Inocentes          2010         Arraste-me para o Inferno
                                                            2011         Deixa ela Entrar
                                                             2012        Millennium
                                                             2013        O Segredo da Cabana
                                                             2014        Invocação do Mal
                                                             2015         Drácula: A História Nunca Contada

UPDATE: Já no passado criticado por ser muito largo e não premiar somente trabalhos que se encaixem no gênero fantástico, o Saturn Award tem se tornado um festival que mistura muitos gêneros, basta visualizar o vencedor de melhor filme de horror/thriller em 2012 que foi Millenium (!!!)

Ele pode sentir o seu medo: Olhos Famintos 2

Olhos Famintos 2 (Jeepers Creepers II, EUA, 2003)
Direção: Victor Salva
Elenco: Jonathan Breck (The Creeper (Criatura)), Diane Delano (Motorista do ônibus), Ray Wise (Jack Taggart), Eric Nenninger (Scotty), Nicki Aycox (Minxie), Travis Schiffner (Izzy), Tom Tarantini (Técnico Dwayne Barnes), Marieh Delfino (Rhonda), Al Santos (Danny Belasco), Kasan Butcher (Big “K” Ward), Gariyaki Mutanbirwa (“Double D” Davis).
SINOPSE: Estamos no 22º dia da matança promovida por uma criatura ancestral que se alimenta de carne humana. De cada vítima, ele fareja e escolhe apenas uma parte do corpo. Falta apenas um dia para este verdadeiro demônio alado cumprir seu ritual e desaparecer novamente. Horrores indescritíveis são noticiados pelo rádio quando um ônibus com um grupo de jovens jogadores e torcida de basquete quebra no meio de um trecho de estrada deserta. Logo eles descobrirão que estão à mercê de seu pior pesadelo: um ser maligno e de instintos animalescos!

“A cada 23 primaveras, durante 23 dias, ele vem para comer”

Como lembro muito pouco do primeiro filme e está quase impossível consegui-lo em DVD, escreverei sobre Olhos Famintos 2 como um filme independente, já que ele é quase isso, embora se passe na mesma “temporada” de caça do filme anterior.

Estamos no vigésimo segundo dia em que uma sinistra criatura alada desperta e caça humanos para comer. O filme começa muito bem, mostrando uma isolada casa em meio a uma plantação de milhos no meio do nada. O filho mais novo da família Taggart está colocando espantalhos em meio ao milharal de modo a espantar os insistentes corvos. O clima de tensão logo se instala quando o rapaz percebe que o espantalho do meio é na verdade uma grotesca criatura, mas não há tempo para fuga e ele é levado embora, sob olhos espantados de seu irmão mais velho e de seu pai (Ray Wise).

No 23º e último dia da criatura, um grupo de jogadores de basquete e sua torcida está voltando para casa após a vitória em um campeonato estadual. Um dos pneus fura após ser atingido por um estranho objeto afiado confeccionado com um dente (!) humano no meio. Do rádio do ônibus chegam noticias que remetem aos corpos encontrados no primeiro filme.

Eles decidem partir mesmo com um pneu a menos, e logo um outro pneu é danificado, o que se segue logo após uma espécie de sonho premonitório da personagem Minxie (Nicki Aycox) deixando-os totalmente isolados na estrada deserta. É aí que a criatura aparece, escolhendo suas vitimas pelo cheiro de seu medo.

Olhos Famintos 2 não segue a mesma linha do original, que criava a atmosfera de tensão a partir de itens como um estranho caminhão que perseguia os jovens irmãos. Em lugar disso, este filme está mais para ser classificado como horror teen, o que não é um defeito, visto que apresenta elementos originais como o quase total isolamento e medo dos personagens ante a desconhecida e mortal ameaça. É um bom filme, “curto e grosso” e que renova a nobre categoria de filmes de monstro.


Curiosidades:

  • Quando o personagem de Ray Wise está batendo o martelo em uma bigorna, uma faísca foi parar em seu bolso e pegou fogo. Ele continuou a cena mesmo assim.
  • Apesar de detonado pela crítica, o filme faturou mais de 60 milhões de dólares em todo o mundo, quase oito vezes mais do que foi gasto em sua produção.
  • Jeepers Creepers, o título original do filme e que não tem relação alguma com o título nacional, foi utilizado para “batizar” a criatura (The Creeper) e é também uma expressão americana que indica espanto ou susto, derivada de Jesus Christ! (Jesus Cristo!)
  • A origem da criatura ancestral poderá ser vista em Catedral, terceiro filme da franquia e em fase de pré-produção que se passará no velho-oeste e tem estréia prometida para 2013.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Conta Comigo

Conta Comigo (Stand by me, EUA, 1986)
Direção: Rob Reiner
Baseado na obra de Stephen King
Elenco: Will Wheaton (Gordie Lachance), River Phoenix (Chris Chambers), Corey Feldman (Teddy Duchamp), Jerry O’Connell (Vern Tessio), Kiefer Sutherland (Ace Merill), John Cusack (Denny Lachance), Kent Lutrell (Ray Brower), Richard Dreyfuss (O escritor).
SINOPSE: Em uma cidadezinha do Oregon chamada Castle Rock, quatro amigos – o sensível Gordie, o durão Chris, o destemido Teddy e o acovardado Vern – estão à procura do corpo de um adolescente desaparecido. Querendo ser heróis diante dos amigos e aos olhos da cidade, eles partem numa inesquecível viagem de dois dias que se transforma em uma odisséia de auto-conhecimento.


“Eu nunca mais tive amigos como os que eu tive quando eu tinha doze anos. E meu Deus, alguém tem?”


Como eu já comentei em um artigo anterior, o escritor Stephen King é antes de um escritor de horror um escritor que lida com relações humanas, sobretudo a amizade, que gerou excelentes obras e também filmes adaptados delas. Eis aqui o melhor exemplo destas adaptações, e, surpresa! Nenhum traço de sobrenatural por aqui
 








Conta Comigo é um dos poucos filmes que conheço que se tornou quase unânime entre os cinéfilos. Existem é claro, filmes como O Senhor dos Anéis. O Poderoso Chefão e Matrix que vocês poderiam dizer o mesmo, mas eu discordo: Há uma considerável parcela de pessoas que torcem o nariz para os supracitados clássicos, por vários motivos: por parecerem (ou serem) pretensiosos demais, por não serem feitos para todos os gostos ou simplesmente por antipatia ao filme mesmo. Entretanto, em Conta Comigo o mesmo não ocorre devido principalmente ao filme contar uma história realista, com a qual nos identificamos e por ter como principal tema a amizade e o crescimento.

O filme começa mostrando uma insólita paisagem e um carro distante. No carro encontra-se o narrador da história (Richard Dreyfuss) que dá o tom ao mesmo tempo dramático e nostálgico ao filme. Em seguida abrimos com o acovardado Vern (Jerry O'Connell) que é quem dá a ideia de todos partirem em busca do corpo de um garoto desaparecido.

Ao longo do filme nos deparamos com, além da jornada cheia de aventuras, com os dramas pessoais de cada um: o violento, porém amado pai de Teddy, os sonhos de um garoto problema e a falta de amor e atenção dos pais de um talentoso e criativo menino.

Para dizer a verdade, não há muito que dizer sobre este filme, fica a sensação de nostalgia da infância e das velhas amizades,  fica também a sensação no final de que sentimos saudade daquilo que nem vivemos. Assista também e se emocione de um jeito como nunca sentiu em um filme.

Curiosidades:

  • O filme custou cerca de 8 milhões de dólares, estreou em apenas 16 cinemas e faturou  mais de 50 milhões de dólares somente nos Estados Unidos;
  • Uma curiosidade que vale mais como dica: Se possuir o DVD, assista com a dublagem em português, a mesma que era exibida nos áureos tempos de Sessão da Tarde, isso intensifica ainda mais a experiência.


domingo, 25 de dezembro de 2011

O mais eficiente serial killer em Premonição

Premonição (Final Destination, EUA, 2000)
Direção: James Wong
Elenco: Devon Sawa (Alex Browning), Ali Larter (Clear Rivers), Kerr Smith (Carter Horton), Seann William Scott (Billy Hitchcock), Tony Todd (William Bludworth), Kristen Cloke (Professora Valerie Newton), Daniel Roebuck (Agente Weine), Roger Smith (Agente Shreck), Chad E. Donella (Tod Waggner), Amanda Detmer (Terry Chaney).
SINOPSE: Pouco antes de decolar, Alex experimenta a aterradora visão de seu avião explodindo em pleno voo. Ele entra em pânico quando desperta da visão e é retirado do avião junto com alguns amigos e uma professora. Pouco depois, o avião de fato explode, matando todos a bordo. Mas isso não traz nenhuma calma, pois meses depois do acidente os sobreviventes começam a morrer em acidentes horríveis por terem desafiado a ordem natural das coisas. 


"Na morte, não há acidentes, nem coincidências, nem contratempos e nem escapatória."

A renovação pela qual passou o cinema de horror nos anos 90 se deve principalmente ao lançamento de Pânico, de Wes Craven, em 1996. Naquele momento o cinema de horror vivia uma apatia sem lançamentos comerciais relevantes e com o encerramento (pelo menos provisório) das cinesséries A Hora do Pesadelo (com O Novo Pesadelo de 1994) e Sexta-Feira 13 (com o filme Jason Vai para o Inferno, de 1993). O filme de Craven retomou os slashers e o tema de serial killers, porém de uma forma mais sutil, envolvendo menos gore e mais voltado ao público adolescente, sendo muitas vezes chamado de Horror teen. Os "filhotes" da fita logo foram aparecendo, tais como Lenda Urbana, Medo em Cherry FallsEu sei o que vocês fizeram no verão passado e as próprias sequências de Pânico.


Em 1999, a New Line Cinema produziu o roteiro de Jeffrey Reddick. O mote parecia simples, mas ao mesmo tempo de uma originalidade admirável: Um jovem tem uma previsão a respeito de um acidente e salva alguns amigos, sendo "perseguidos" pela morte por terem escapado de seu destino. Essa ideia apoiada na excelente criação da tensão foi a principal qualidade da fita elogiada pela crítica. O filme cria uma angústia desde o início (palmas para a trilha enervante de Shirley Walker) e leva você a sofrer com o protagonista, um dos pressupostos fundamentais do gênero horror. E mesmo que sofra de uma apressada evolução de tensão, não sobrando tempo para que haja desenvolvimento de personagens, exceto, talvez, o protagonista Alex (Devon Sawa), o filme de James Wong é hábil ao retratar o acidente de maneira súbita, bem como caprichar na inventividade das mortes e na química entre os personagens de Sawa e Ali Larter. E o mais importante talvez nesse filme é o vilão. Mais do que Jason, Freddy Krueger ou Michael Myers, há certamente um atributo no vilão de Premonição que a faz indefensável. Ninguém está a salvo da morte.






Curiosidades:
  • O filme fez grande sucesso, principalmente no Brasil, faturando mais de 50 milhões de dólares em todo o mundo;
  • O ator Tony Todd, da série Candyman, faz uma pequena, porém significativa participação no papel de um sinistro agente funerário.

sábado, 24 de dezembro de 2011

O mal passa por ele: O Apanhador de Sonhos

O Apanhador de Sonhos (Dreamcatcher, EUA/Canadá, 2003)
Direção: Lawrence Kasdan
Baseado no romance de Stephen King
Elenco: Morgan Freeman (Coronel Curtis), Thomas Jane (Henry), Damien Lewis (Jonesy), Jason Lee (Beaver), Timothy Olyphant (Pete Moore), Tom Sizemore (Owen), Donnie Wahlberg (Duddits adulto).
SINOPSE: Quatro amigos de infância marcam todo ano uma viagem para as montanhas onde caçam em conjunto. Maior, porém, que o vínculo afetivo, esse grupo mantém um elo psíquico, que gira em torno da figura de um quinto amigo: Duddits, que lhes deu como gratidão na infância poderes mentais aos amigos. Mas esse ano, a viagem pode não ser exatamente como eles esperam.

"Na infância eles deram o primeiro passo para livrar o mundo de todo mal que ainda estava por vir."

Considerado pela maior parte da crítica uma das piores adaptações de Stephen King, O Apanhador de Sonhos foi também quase um fracasso de público, apesar de ter faturado um pouco mais do que foi gasto em sua produção, conseguindo dessa forma 'se pagar'.

Eu sou uma das poucas pessoas que considera o filme bom. Para poder compreender e apreciar melhor O Apanhador de Sonhos é preciso conhecer um pouco do jeito como Stephen King escreve. Além das obras de horror e suspense, ele também explora um tema muito recorrente em seus livros: as relações humanas, em especial a amizade. O belíssimo conto O Último degrau da escada não contém nada de sobrenatural, no entanto é uma emocionante história. E, claro, a novela O Corpo (do livro “Quatro Estações”), que gerou o quase unânime Conta Comigo, de 1985 também revela uma nostalgia e um sentimento de saudade da infância, lembrando pouco ou quase nada os sentimentos de pavor e medo que os leitores sentem em suas outras obras. E é sobre esse mesmo tema, a amizade, que trata exclusivamente a primeira hora de O Apanhador de Sonhos, cujo título remete a um talismã indígena que afasta pesadelos e é confeccionado pelos amigos do filme em “homenagem” a Duddits, na forma de cinco círculos entrelaçados.

Por salvarem o garoto deficiente mental Duddits de bullies que o estavam incomodando, Beaver, Pete, Jonesy e Henry ganham poderes sobrenaturais, que permitem, por exemplo, conectar seus pensamentos e também fazer previsões do futuro. Esse “presente” é, ao mesmo, tempo, um meio de fortalecer a já sincera amizade e também uma ferramenta para salvar o planeta de uma ameaça alienígena que atacaria a Terra no futuro.

Emocionante e tenso na maior parte de sua projeção, sobretudo em seu primeiro ato e quando envolve o "núcleo" dos amigos, o filme só pecou por usar demais CGI, assim como visto em O Nevoeiro, mas isso é um detalhe irrelevante em minha opinião. Mais importante até do que o aspecto anterior, o filme também perde um pouco o seu tom ao abordar temas em paralelo, como a incursão dos militares, que confunde um pouco a linha narrativa que o filme seguia, incluindo aí uma atuação canastrona de Morgan Freeman. Apesar disso, a trama é apoiada em boas atuações e personagens carismáticos (palmas para o trabalho vocal e corporal de Damien Lewis), o que me faz concluir que O Apanhador de Sonhos é um filme que talvez mereça uma segunda chance.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sweets to the Sweet: O mistério de Candyman

O Mistério de Candyman (Candyman, EUA, 1992)
Direção: Bernard Rose
Baseado em um conto de Clive Barker
Elenco: Virginia Madsen (Helen Lyle), Kasi Lemmons (Bernadete Walsh), Tony Todd (Candyman), Dejuan Guy (Jake), Xander Berkeley (Trevor Lyle), Vanessa Williams (Anne Marie-McCoy).
SINOPSE: Helen Lyle (Virginia Madsen) esta escrevendo uma tese e decide provar que Candyman (Tony Todd), um terrível espírito escravo, não existe, então invoca fantasma lendário chamado Candyman após pronunciar seu nome cinco vezes diante do espelho. Ela então, segue para o local de um terrível crime e o invoca. Para sua surpresa, ele surge iniciando uma série de terríveis assassinatos. 






"Eles dirão que eu derramei sangue inocente. Mas para que é o sangue, senão para ser derramado."


Em 1988, o então desconhecido diretor britânico Bernard Rose dirigiu o pequeno notável  A Casa dos Sonhos, que misturava em seu enredo elementos de fantasia, suspense e horror. Durante um encontro casual no estúdio com Clive Barker, que na época estava produzindo o longa Nightbreed, ambos conversaram sobre fazer uma adaptação de um conto de Barker, The Forbidden, presente na coleção Books of Blood, conto do qual Rose gostava muito. 

Alan Paul, da Propaganda Films, em parceria com a Polygram e a Tristar, conseguiram um modesto orçamento para o filme, que se chamaria Candyman. A genialidade de Clive Barker e o talento de um jovem Bernard Rose conseguiram levar ao ambiente urbano, na cidade de Chicago, uma excelente trama que tem por base as lendas urbanas. A possível interpretação racista por parte do publico, que foi uma das principais preocupações dos produtores na época do lançamento, como comentou Clive Barker nos extras do DVD, foi principalmente devida aos violentos protestos ocorridos em Los Angeles por ocasião do caso Rodney King; mas particularmente acredito que o efeito tenha sido justamente o contrário, uma vez que Candyman é, no filme, uma figura ao mesmo tempo monstruosa e requintada, e filmes de horror com protagonistas (ou nesse caso, antagonistas) negros sempre foram raríssimos, com exceção dos filmes blaxploitation, provando justamente nesse filme o contrário de um preconceito do qual ainda se faz uso no cinema e na televisão.
A origem de Candyman contada no filme é a de um filho de um escravo, talentoso artista, que se apaixonou por uma donzela, filha de um rico fazendeiro. Ele a engravida e o pai executa uma terrível vingança: Paga um grupo de hooligans para perseguir e matar Candyman. Ele teve sua mão direita decepada, e o corpo coberto com mel, para em seguida ser picado até a morte por uma colônia de abelhas. Daí o nome Candyman. No presente, Helen Lyle (Madsen) é uma estudante que, juntamente com sua amiga Bernadete Walsh (Lemmons) está escrevendo uma tese sobre a influência de uma lenda urbana (no caso, Candyman) no pensamento coletivo de uma pequena comunidade que vive nos conjuntos habitacionais de Cabrini Green, na periferia de Chicago. No entanto, para o azar de Helen e as pessoas à volta dela, uma serie de assassinatos começa a ocorrer, com a culpa recaindo sobre Helen. Será Helen culpada ou inocente? Candyman é real ou apenas um delírio da consciência coletiva e da própria Helen?

Rose conduz com elegância, ainda que não abra mão de certa dose de gore, o roteiro que teve a colaboração do próprio Barker. Notamos que não se trata de um filme de horror convencional, se distanciando bastante da estrutura narrativa de um slasher padrão. Rose recorre a saltos na história e a utilização de um universo onírico também usado em seu filme anterior, e com isso, cria um conto sombrio e poético. Com a aura de um herói trágico, Candyman representa, ao mesmo tempo, a violência urbana e a vulnerabilidade das classes sociais mais baixas, apresentando também um comentário social muito pertinente quando usa de maneira óbvia, mas inteligente, a representação do conjunto habitacional Cabrini Green como local de "morada" de Candyman. Apresentando ainda atuações envolventes de Tony Todd (com destaque para sua voz profunda e assustadora) e Virginia Madsen, e uma trilha sonora fúnebre e desoladora de Philip Glass (que se encaixa perfeitamente no tom da trama), O Mistério de Candyman é, infelizmente, um filme subestimado e esquecido, mas que se tornou um dos mais expressivos exemplares de um começo de década raquítico para o gênero, e que deve, com certeza, ser conferido pelos fãs do horror.

Confira uma parte do score composto por Philip Glass para o filme, observe a sutileza da música e, caso ainda não tenha visto, corra para conferir O Mistério de Candyman.




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