terça-feira, 31 de outubro de 2017

Crítica: "The Void" (2016)


The Void (2016)
Original: The Void
Ano: 2016
País: Canadá
Diretores: Jeremy Gillespie e Steven Kostanksy
Roteiristas: Jeremy Gillespie e Steven Kostanksy
Produtores: Jonathan Bronfman, Casey Walker
Elenco: Aaron Poole, Kenneth Welsh, Daniel Fathers, Kathleen Munroe, Ellen Wong, Mik Byskov, Art Hindle, Stephanie Belding, James Millington, Evan Stern, Grace Munro, Trish Reinone, Matthew Kennedy.








A trama de The Void tem início quando o viciado em drogas James (Stern)
foge de uma fazenda isolada no meio da mata. Outra mulher não tem a mesma sorte e acaba queimada viva por Vincent (Father) e seu filho (Byskov). Sem muitas explicações, seguimos para a cena onde o policial Daniel (Poole) encontra James se arrastando pela estrada e decide levá-lo ao Hospital local, recém-atingido por um incêndio (boa ferramenta do roteiro para justificar o baixo número de pessoas no local). Lá chegando eles se juntam a um pequeno grupo de funcionários e pacientes. Após Daniel assassinar uma enfermeira após encontrá-la num aparente transe assassinando graficamente um paciente, o caos se instala. Eles não conseguem deixar o local, pois um sinistro grupo de cultistas encapuzados cerca o local, mas descobrem que ficar no hospital tampouco é seguro, pois estranhos seres parecem habitar os porões. O que nem o público e nem as personagens parecem compreender é que há algo muito mais misterioso e ancestral por trás dos estranhos eventos pelos quais passam.
Com um pé em H.P. Lovecraft e outro no clássico O Enigma de Outro Mundo (1982), de John Carpenter, o filme compensa a falta de recursos financeiros (o longa foi levantado via Indiegogo) com muito tesão pelo gênero que homenageia e muita criatividade. Ao optar, por exemplo, em concentrar a ação basicamente num único espaço, os diretores-roteiristas economizam em elenco, locação e ainda exploram com eficiência a claustrofobia do local. Além disso, o investimento em efeitos de maquiagem práticos (praticamente livres de CGI) potencializa ainda mais o efeito grotesco que o filme proporciona em vários momentos. Já as personagens são todas delineadas com o estereótipo padrão, pouco evitável em filmes do gênero. Há o policial durão e herói com um passado traumático, e sua ex-esposa, e todo o resto que não passam de caricaturas. Divertido mesmo é o baita climão instalado pelo longa, que dá toda a impressão de estarmos assistindo a um horror-B dos anos oitenta, sem falar nas referências várias a Clive Barker, David Cronenberg e o já falado Carpenter
No entanto, toda a nostalgia parecer funcionar somente até certo ponto: Por não haver muito investimento nas personagens ou nas subtramas exploradas, ficamos com a sensação de referência de mais em filme de menos, não gerando um sentimento de identidade própria em The Void e decepcionando em seu ato final, embora seus noventa minutos de puro pesadelo vão fazer qualquer espectador se impressionar com o que vê.
Avaliação: 3 caveiras em 5



segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Palhaços Infernais (2016)

"Slasher dos mais genéricos que usa a temática de Palhaços como mero pano de fundo para sua falta de ousadia e seus inúmeros defeitos"

Palhaços Infernais (2016)
Original: Clowntown
Ano: 2016
País: Estados Unidos da América
Diretor: Tom Nagel
Roteirista: Jeff Miller
Produção: Christopher Lawrence Chapman, Jeff Miller, Brian Nagel, Tom Nagel
Elenco: Brian Nagel, Lauren Compton, Andrew Staton, Katie Keene, Jeff Denton, Greg Violand, Maryanne Nagel, Tom Nagel, Kaitlyn Sapp, David Greathouse, Chris Hahn, Ryan Pilz, Alan Tuskes, Beki Ingram, Christopher Lawrence Chapman, Thomas A. Nagel.










Com todo o recente frisson causado por sinistras aparições de palhaços nos Estados Unidos no ano passado, não demorou para que o cinema se apropriasse do “fenômeno”, e utilizasse a ideia como mote para um filme. Palhaços Infernais, primeiro longa do ator Tom Nagel a partir do roteiro de Jeff Miller, usa e abusa de diversos palhaços como vilões, bem como adota uma estrutura narrativa similar a vários filmes de horror da década 70 e 80 e ainda presta homenagens a clássicos como Halloween - A Noite do Terror (1978) e O Massacre da Serra Elétrica (1974), porém falhando no restante, ou seja, justamente não criando uma identidade própria, se transformando em mais um slasher semiamador dos mais genéricos.
A partir de um breve, gratuito, formulaico e dispensável prólogo, que mostra uma babá (Sapp)
sendo dilacerada após mostrar os seios, e colocar um sinistro casal de irmãos para dormir, somos apresentados à trama principal. Nela, somos apresentados a quatro amigos, estereótipos ambulantes porcamente caracterizados. Brad (Nagel) é o rapaz certinho e apaixonado, que pretende pedir a mão da namorada em noivado (sério mesmo??), sua companheira, Sarah (Compton) é a moça candidata a final girl que vai ficar correndo suada em vários momentos do longa. Seu melhor amigo, Mike (Staton), é o comediante que dá uma de corajoso. E Jill (Keene) é a namorada de Mike que tem uma ou duas falas antes de desaparecer misteriosamente. Estas quatro “personagens” estão indo para um concerto de rock, e parando em uma cidadezinha, descobrem, com informações obtidas pelo Xerife local, que precisam passar por pequenas cidades para chegar ao tal show. Quando o celular de Jill é extraviado, eles descobrem que para ter o aparelho de volta precisam parar em Clinton para se encontrar com o cara que achou o celular. Chegando lá, no entanto, os jovens percebem que a cidade está praticamente deserta, exceto por uma gangue de psicopatas vestidos de palhaços que parecem se divertir às custas do medo dos jovens. Ainda há dois personagens secundários que pouco importam na trama e logo viram bucha de canhão.
Pecando não apenas pela rasa caracterização, as personagens de Palhaços Infernais ainda são interpretadas por um elenco sofrível, que parece estar sempre declamando suas frases, ou utilizando muletas de interpretação, como caretas e maneirismos na intenção de passar mais veracidade, sem sucesso. Além disso, mesmo com a duração enxuta (85 minutos), o longa se arrasta em cenas repetitivas e uma completa falta de ritmo que faz o espectador cair no sono com frequência. Para não ser injusto, há de se destacar o aspecto de Cidade Fantasma da cidade de Clinton, que através da fotografia de Ken Stachnik confere um caráter sobrenatural e macabro que às vezes funciona. Já o design na maquiagem dos palhaços cai na mesmice, não assustando ou incomodando justamente pelo fato de os vilões aparecerem a todo momento, quebrando qualquer chance de mistério. As mortes também são frequentemente atenuadas, mostrando pouca violência ou gore, se isto for o que o espectador estiver procurando...

No entanto, contando ainda com vários dos mesmos expedientes do gênero (sustos falsos quando algum personagem vai investigar um barulho, a providencial chegada de um personagem que achávamos estar morto) e efeitos sonoros risíveis (socos, chutes e golpes soam falsos ao extremo), Palhaços Infernais (a julgar pela quantidade de sobrenomes Nagel nos créditos do filme) parece ter sido concebido como um experimento de família que deveria ter ficado restrito ao círculo dos amigos dos realizadores.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

"A Ilha do Mal" (2017)

A Ilha do Mal (Land of Smiles, EUA/Tailândia/Austria, 2017)
Diretor: Bradley Stryker
Roteirista: Bradley Stryker
Produtorxs: Bradley Stryker, Caitlin Cromwell
Elenco: Alexandra Turshen, Keenan Henson, Caitlin Cromwell, Bradley Stryker, Amie Barsky, Krista Donargo, Brandon Nagle, Leandra Ramm, Kate Stone, Jen Burry, Paul C. Kelly, Charisse Bellante, Luke Ditella.
SINOPSE: Uma jovem mochileira é atraída pelo paraíso do terceiro mundo da Tailândia à procura de sua melhor amiga sequestrada e, sem saber, ela se torna o objeto da obsessão de um sociopata.









Utilizar um país “de terceiro mundo” como locação para um filme de terror não é
novidade no cinema de Hollywood. Basta lembrarmos de “Turistas” que usou as terras tupiniquins como território livre para tráfico de órgãos e assassinatos de americanos. Agora é a vez da infame Tailândia virar chacota dos estadunidenses, que aqui mantêm o hábito de tratar países fora do eixo norte-americano e centro-europeu como terras de ninguém, panos de fundo meramente exóticos e violentos para suas narrativas. 
Em “Ilha do Mal”, Abby é uma jovem adulta que, após flagrar seu namorado a traindo, e brigar com sua melhor amiga Penny, decide ir atrás dela na Tailândia, onde logo percebe que sua parceira desapareceu. De repente, ela começa a receber estranhas mensagens e vídeos envolvendo um palhaço que tortura Penny e parece querer propor um perigoso jogo para Abby e seus colegas tailandeses, para que Penny continue viva.
A premissa genérica acima só não é pior que as decisões tomadas ao longo do filme pelas personagens, que parecem levar a sério a convenção que aponta um baixo Q.I. para  papeis de filmes do gênero.  Aliás, o filme todo é uma falta de propósito ambulante. O elenco é fraquíssimo, quase amador, e tenta de todas as formas possíveis passar uma seriedade que não convence, que em vez disso, acaba aborrecendo o espectador com frequência. A seriedade também é pretendida pelo diretor-roteirista Bradley Stryker quando busca talvez uma significação complexa para a montagem psicodélica durante as várias festas que ocorrem no filme, sem, no entanto, um objetivo aparente na trama. Outra escolha duvidosa da direção foi a opção por um found footage misturado com takes filmados com câmera na mão e outros filmados convencionalmente, denotando clara falta de técnica e de sentido em seu roteiro, que em outras mãos, poderia ousar muito mais, ou até mesmo investir num humor negro que vestiria muito bem a proposta do turismo-macabro-com-palhaços.
Apostando na atual moda dos palhaços assassinos, o roteiro não explora bem o porquê do assassino/stalker se vestir dessa maneira, parecendo apenas querer pegar carona na tendência do momento, e enfiando lá pelo terceiro ato uma rave com várias pessoas vestidas de palhaço, sem, mais uma vez, apresentar qualquer motivação para inserção na trama, enchendo linguiça como poucas vezes vistas.
Curiosamente, se há alguma qualidade no longa-metragem (primeiro dirigido por Stryker, ator com mais de trinta créditos no currículo) é justamente o personagem australiano Dale (interpretado por, vejam só, o próprio Stryker), que traz vida e algum bom humor para o arrastado enredo, demonstrando que alguns artistas talvez devessem se manter apenas em frente às câmeras…


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

"Grave" (2016)

Grave (aka RAW, França/Bélgica, 2016)
Diretora: Julia Ducournau
Roteiro: Julia Ducournau
Produção: Jean des Forêts
Elenco: Garance Marillier, Ella Rumpf, Rabah Nait Oufella, Laurent Lucas, Joana Preiss, Bouli Lanners, Marion Vernoux, Thomas Mustin, Marouan Iddoub, Jean-Louis Sbille, Benjamin Boutboul, Anna Solomin, Alexis Julemont, Lich Jass, Charlotte Sandersen, Christophe Menier.
SINOPSE: Na família de Justine (Garance Marillier), todos os integrantes trabalham com a área veterinária e são vegetarianos. No entanto, assim que Justine pisa na escola de veterinária, ela acaba comendo carne. As consequência deste ano logo serão sentidas e chocarão toda a família.








“Teve um momento no qual pararam de falar sobre o meu filme e começaram a chamá-lo de 'o filme mais sangrento já produzido” diz ela.  “Disseram que era um filme feito para chocar, ou um torture porn, mas meu filme não está nem mesmo dentro da mesma família do cinema. Eu comecei a ler manchetes que não faziam o menor sentido. Manchetes dizendo ‘milhares de pessoas desmaiam nos cinemas’. Me desculpe, mas acho uma besteira. É uma pena porque algumas pessoas podiam ficar assustadas em ver o filme, quando poderiam ter aguentado numa boa. E outras pessoas que acabavam esperando por um torture porn vão acabar se desapontando.”


            O trecho que abre esta crítica faz parte de uma entrevista que Julia Ducournau, cineasta que literalmente ‘causou’ nos Festivais ano passado, e nem tanto por ter ganho o prêmio da crítica (FIPRESCI) no Festival de Cannes, mas sobretudo por ter causado desmaios em uma determinada sessão de seu longa-metragem no Festival de Toronto em 2016. Embora tal evento tenha soado como uma propaganda não intencional para que um filme talvez restrito ao circuito de arte atingisse maior atenção do público médio, por outro lado tira em parte o grande mérito deste longa ser muito superior a um mero shocker. Então vamos ao filme.
            Imagine você, uma jovem mulher nos seus dezesseis anos, virgem e recatada, com uma mãe supercontroladora, que decide até mesmo o que vai no seu prato, tendo que cursar a faculdade que seus pais tomaram como profissão, com uma irmã mais velha já veterana no mesmo curso, tendo ainda que passar por uma pesada semana de trote, com professores no seu pé, não tendo nem onde dormir direito, e sendo obrigada a passar por situações como comer fígado de coelho cru, cortesia dos veteranos… Pois é, uma barra bastante pesada para alguém que está saindo da adolescência para enfrentar a vida adulta. E olha que eu nem mencionei canibalismo…
            Grave (mais conhecido por seu título americano, Raw) é o longa de estreia da francesa Ducournau, que se distancia de seus compatriotas de gênero, como Alexandre Aja e Alexandre Bustillo ao investir muito mais em símbolos do que num gore gratuito, embora fique claro, conforme o filme avança, que Ducournau se mostra interessada em discutir questões relacionadas ao corpo (na montagem que faz paralelos com os corpos dos animais, ou na bela cena na qual Justine conversa com uma enfermeira no ambulatório da faculdade), prestando reverência explícita ao body horror dos primeiros trabalhos de David Cronenberg.
            Contando com um mise-en-scène impecável, Ducournau combina com maestria o formalismo estético de uma câmera estática a um naturalismo extremo, com destaque para o trabalho de maquiagem hiper-realista (que não esconde nenhuma mordida, ferida ou arranhão do público) do mago Olivier Afonso, digno de vários prêmios; aí entrando também as atuações do elenco principal, sobretudo da protagonista Marillier, que já em seu primeiro longa consegue transmitir todo o medo e a ansiedade de sua personagem Justine muitas vezes apenas com o olhar. Olhar este que descobre o mundo através do instinto, sem pudores, da atração sexual, do apetite voraz, de seu próprio corpo, de seu próprio lado negro.
            Funcionando em vários níveis (do filme de passagem à vida adulta, passando por questões do que é ser humano) Grave termina com um desfecho elegantemente aterrador, digno dos melhores exemplares do gênero, provando não só o talento de Ducournau, como também mostrando que o gênero não deve se privar de cérebros…
           





Trailer legendado:

terça-feira, 22 de agosto de 2017

7 Desejos (2017)

Título Original: Wish Upon
País: Estados Unidos da América / Canadá
Ano: 2017
Diretor: John R. Leonetti
Roteirista: Barbara Marshall
Produtor: Sherryl Clark
Elenco:  Joey King, Ryan Phillippe, Ki Hong Lee, Sydney Park, Shannon Purser, Mitchell Slaggert, Elizabeth Röhm, Josephine Langford, Alexander Nunez, Daniela Barbosa, Kevin Hanchard, Sherilyn Fenn, Raegan Revord, Alice Lee, Victor Sutton, Albert Chung.
SINOPSE: Clare Shannon (Joey King) é uma garota de 17 anos que está tentando sobreviver a vida de estudante, até que seu pai (Ryan Phillippe) encontra uma antiga caixa de música e lhe dá de presente. O que a garota vem a descobrir é que a misteriosa caixa pode lhe conceder 7 desejos e com eles ela pode ter a chance de conquistar tudo o que quer. Porém, tudo tem um preço e ela vai aprender da pior maneira. Faça um desejo! Mas cuidado com o que você deseja, as consequências podem ser fatais.






A ideia de um gênio da lâmpada com habilidades místicas capazes de satisfazer três (ou mais) desejos de seu mestre sempre serviu como premissa para varias histórias na literatura, no cinema, nos quadrinhos e na TV, com temáticas que já foram da simples fantasia infantil até suspenses psicológicos e dramas. E Com frequência o gênio material propriamente dito é preterido em função de objetos inanimados, como caixas mágicas, mas a lógica é a mesma: Pede e serás atendido (a). Quando estamos falando de um filme de horror, no entanto, não existe almoço grátis. E é exatamente esse o mote de toda a trama de 7 Desejos, mais novo trabalho de John R. Leonetti (responsável pela fotografia de Invocação do Mal e Sobrenatural, e diretor do medíocre Annabelle), que prova mais uma vez que não há nada de novo nessa temática e que talvez Leonetti deva ficar apenas no comando da cinematografia dos longas nos quais se envolve.


Estrelado pela fofa Joey King (presente no primeiro Invocação do Mal) no papel da adolescente Clare, a trama acompanha – após o costumeiro prólogo que mostra a mãe da garota se suicidando por algum motivo escuso – seu cotidiano. A garota tem recorrentes pesadelos por ter testemunhado a horrenda morte de sua mãe; sofre bullying na escola por ter um pai acumulador de lixo; tem apenas duas amigas; vive numa casa humilde; é apaixonadinha pelo Cara-mais-popular-da-escola, que obviamente não lhe dá a mínima; e por sua vez Clare deixa o chinês Ryan (Hong Lee) caidinho por ela. Aliás, vale mencionar que justamente uma das poucas qualidades do longa é seu elenco multiétnico e naturalidade que insere temas como a homossexualidade em pequenos diálogos do roteiro.
Pois bem, vivendo nesse inferno astral multiplicado pelo fato de ser uma adolescente, Clare vê cair do céu uma chance de mudança quando seu pai encontra uma antiga caixa com escritos chineses, e dá de presente à filha. Ao que parece o artefato permite ao dono as sete solicitações do título brasileiro. Tudo muito bem, tudo muito bom, Clare percebe rapidamente que seu brinquedo, afinal, funciona, não sem cobrar uma retribuição em sangue para cada desejo concedido.

Com o roteiro previsível desde o início, facilmente descobrimos quais personagens irão morrer, em que ordem, e até mesmo de que forma, culpa da falta de criatividade de Marshall (Viral) no roteiro (que emula até mesmo filmes obscuros como Wishcraft – Feitiço Macabro) e de Leonetti na direção, que faz questão de apontar com sua câmera o que vai acontecer na próxima cena do filme, diluindo qualquer tentativa de suspense. Além disso, as poucas inserções de humor dentro da narrativa (que remetem a cinessérie Premonição) são falhas já que a maioria delas está inserta em cenas dramáticas, não permitindo que se aprecie o eventual humor negro oferecido pelo momento, ou que se lamente a morte e o drama das personagens. Além disso, o desastre fica completo com o elenco do filme, que se possui alguma qualidade, esta se perde quando vemos papeis rasos e sem carisma, incluindo até mesmo a protagonista que se revela bipolar (num momento quase beija um personagem para em seguida dizer ameaçadoramente que usará um desejo contra ele) odiosa (pouco se importa se alguém tiver que morrer, contanto que possa manter seus desejos) e extremamente lerda, já que demoram uns quatro desejos para perceber o que se passa a sua volta, o que acaba não ajudando quando percebemos que ainda resta metade da projeção para que o filme termine. Ainda bem que, nesse caso, uma dos defeitos da película ajuda: Assim que as luzes do cinema se acendem, esquecemos o que acabamos de ver.




sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Nunca Diga seu Nome (2016)

Nunca Diga Seu Nome (The Bye Bye Man, EUA, 2016)
Diretora: Stacy Title
Roteiro: Jonathan Penner
Produção: Simon Horsman, Trevor Macy, Jeffrey Soros, Melinda Nishioka
Elenco: Douglas Smith, Lucien Laviscount, Cressida Bonas, Doug Jones, Carrie-Anne Moss, Faye Dunaway, Jenna Kanell, Doug Jones, Michael Trucco, Erica Tremblay, Marisa Echeverria, Cleo King, Leigh Whannell
SINOPSE: Três estudantes universitários se mudam para uma antiga casa e inadvertidamente desencadeiam uma série de eventos com uma entidade sobrenatural conhecida como Bye Bye Man. Os amigos tentam salvar uns aos outros e ao mesmo tempo manter a existência de Bye Bye Man em segredo para salvar outros do mesmo destino mortal.








Curiosamente, The Bye Bye Man fica no meio do caminho ao ser sabotado pela própria ânsia de esconder demais e explicar de menos



Em se tratando de filmes de horror e suspense, alguns dos maiores trunfos que um longa do gênero pode alcançar é manter um determinado clima de mistério, esconder mais do que mostrar, deixar perguntas em aberto no espectador... Aliás, poderíamos até mesmo dizer que tais características fazem parte de grandes nomes do cinema fantástico. Curiosamente, este Nunca Diga seu Nome contém em sua narrativa muitos dos traços acima mencionados. Pena que tal mistério almejado pelo filme se parece mais com uma desculpa para a falta de criatividade.

De estrutura similar a inúmeros filmes que vieram antes dele, o roteiro de Jonathan Penner () nos apresenta a um breve prólogo onde, no ano de 1969, um homem visivelmente transtornado assassina várias pessoas de sua vizinhança, no intuito de não deixar que nenhuma de suas vítimas mencione “o nome que não pode ser dito nem pensado”. Tarefa cumprida, cortamos para o presente, onde Elliot (Smith) se muda com sua namorada, Sasha (Bonas) e seu melhor amigo, John (Laviscount) para uma pequena casa no meio do nada, mas perto de suas faculdades. Após uma providencial descoberta de Elliot em um dos quartos e uma inusitada sessão espírita comandada pela mística Kim (Kanell), coisas estranhas começam a acontecer, como alucinações experimentadas pelas personagens  e comportamento agressivo. A causa para tais eventos pode estar relacionada com uma misteriosa lenda responsável por vários assassinatos no passado.
Com uma trama basicamente idêntica a de qualquer filme de horror lançado no
presente ou no passado, The Bye Bye Man tenta inovar nos sustos (bastante eficientes), na quebra de expectativas na cena final, e na suposta mitologia envolvendo o vilão principal, conseguindo em vários momentos alcançar um ritmo bastante fluído, que ajuda a manter o interesse do espectador. No entanto, o excesso de clichês e convenções (o protagonista cético, a policial-padrão que procura nos lugares errados, a pessoa do passado que fornece respostas no momento crítico da trama...) faz com que o filme perca sua identidade e deixe o espectador com uma grande decepção em não receber aquilo que o longa originalmente propôs. Talvez na sequência...



segunda-feira, 31 de julho de 2017

Alucinações do Passado (1990)


A Terra é o purgatório de Tim Robbins neste pequeno grande clássico do cinema de horror psicológico 



Original: Jacob’s Ladder 
Ano: 1990 
País: Estados Unidos da América 
Diretor: Adrian Lyne Roteiro: Bruce Joel Rubin Produção: Alan Marshall, Bruce Joel Rubin Elenco: Tim Robbins, Elizabeth Peña, Danny Aiello, Macaulay Culkin, Ving Rhames, Eriq La Salle, Matt Craven, Pruitt Taylor-Vince, Jason Alexander, Patricia Kalember, Brian Tarantina, Brent Hinkley, Suzanne Sheperd. 










       A Terra enquanto um literal purgatório. Uma propaganda antiguerra. A vida que
poderia ter sido, mas não foi. Um pesadelo passando diante dos olhos do espectador. Tudo isso é Alucinações do Passado, obra injustiçada de Adrian Lyne na época de seu lançamento, e que depois ganhou status cult, merecendo todas as honrarias possíveis, ainda que póstumas, pois trata-se de uma pequena obra-prima. 
      Tim Robbins interpreta Jacob Singer, um homem pacato, simples e gentil, porém cuja vida passa longe do que pode ser considerado ordinário. Abrimos o filme com uma ágil sequência da Guerra no Vietnã, onde Jacob serviu como soldado. Logo um descontraído momento entre companheiros de combate ganha contornos de horror quando um súbito ataque toma de surpresa o pelotão de Jacob. Mas logo percebemos que tudo não passou de um sonho ruim. Ou será que não? Assim que acorda de seu pesadelo, o pobre homem se encontra solitário num metrô imundo, com estações pichadas e com ares de abandono em Nova Iorque, com avisos antidrogas e outros exaltando a loucura da cidade, aqui vista sob um prisma nada glamoroso. Pessoas comuns que ele encontra no último trem da noite ganham facetas sombrio-demoníacas, já dando indícios de que nada é realmente o que parece ser nesse filme. Perturbado pelos traumas da guerra, pela morte de seu filho caçula (Culkin), por seu divórcio, e encontrando conforto apenas no romance intenso com Jezebel (Peña), Jacob enfrenta uma descida cada vez mais rápida ao inferno, já que suas alucinações parecem se tornar cada vez mais reais e ameaçadoras. Dominado por um tom melancólico e de tragédia, auxiliado nesse sentido pela bela trilha de Maurice Jarre, o longa parece passear por vários significados, dificultando a compreensão do espectador em vários momentos. Não sabemos se Jacob sofre de esquizofrenia, se está tendo um pesadelo muito longo, se está tendo uma bad trip causada por alucinógenos, ou se tudo que o personagem vê é mesmo real. Nem mesmo os sonhos do protagonista escapam de uma interpretação dúbia. 
     
Lyne, conhecido por seus filmes envolvendo uma alta carga sexual (9 e ½ Semanas de Amor, Infidelidade, Atração Fatal), aqui não deixa de incluir o sexo e a nudez também, mas com uma diferente interpretação. No longa o erotismo assume um caráter efetivo de luxúria, de pecado, do proibido. Aliás, aí chegamos num ponto importante. Independentemente da interpretação que se dê ao filme, algo que transforma Alucinações do Passado em mais do que um simples thriller psicológico é justamente o elegante caráter alegórico de tudo pelo que Jacob passa durante o filme. Como se estivesse vivendo num genuíno local de transição entre o céu e o inferno, Jacob enfrenta os demônios literais de suas visões enquanto conta com figuras que representam verdadeiros anjos em sua vida, destacando-se o amável quiroprata vivido por Danny Aiello e a cena em que o médico tem uma conversa justamente sobre o assunto com Jacob, naquela que considero uma das melhores cenas do filme. Influente em seu conceito, que inspirou até mesmo a franquia de jogos Silent Hill, Alucinações é mais um desses pequenos grandes filmes que o infernauta não pode deixar de conferir, ainda mais com um remake já anunciado... 








terça-feira, 6 de junho de 2017

Sereia Predadora (2016)

Sereia Predadora (SiREN, EUA, 2016)
Diretor: Gregg Bishop
Roteiro: Luke Piotrowski e Ben Collins
Produtores: Gary Binkow, Jude S. Walko, Brad Miska
Elenco: Chase Williamson, Hannah Fierman, Justin Welborn, Hayes Mercure, Michael Aaron Milligan, Brittany Hall, Randy McDowell, Lindsey Garrett, Stephen Caudill, Ava Atwood, Patrick Wood, Angel Jager, Blair Redford.
SINOPSE: Uma despedida de solteiro se torna um pesadelo quando o noivo Jonah liberta o que parece ser uma garota inocente presa em uma boate. O implacável captor e proprietário da boate fará de tudo para recapturar seu troféu. Jonah se esforça para resgatar a garota, apenas para descobrir que é ele quem precisa de resgate, pois a garota é, na verdade, um perigoso predador descrito em fábulas, que o vê como um prêmio. Baseado no segmento "Amateur Night" do filme "V/H/S".






"Nenhum homem consegue resistir a ela. Todos deveriam..."

            Algumas coisas funcionam melhor no formato de curta metragem. Foi assim com V/H/S (2012), uma esperta empreitada independente, que além de servir como vitrine para jovens cineastas do gênero horror, ainda se valeu de uma apresentação facilmente consumível pelo espectador médio. A antologia, que já conta com duas sequências, apresentava contos de horror de curta duração com algum fio condutor em comum, apenas para ligar as histórias. Entre péssimos e bons segmentos, no primeiro filme claramente um se destacava. Amateur Night, a primeira fita do longa se beneficiava de um ritmo ágil e do frenesi de uma câmera vacilante aliado ao arrepiante desfecho para atingir em cheio o espectador. Não demorou para que a ideia de um longa-metragem baseado no curta viesse à tona, e o resultado é este bom Sereia Predadora.
            Na trama Jonah (Williamson) é um homem bem noivado com Eva (Garrett). Quando parte para sua despedida de solteiro, o comportado noivo é levado para o mal caminho por seu irmão Mac (Milligan) junto com mais dois amigos, quando surge um misterioso convite para um clube secreto pra lá de esquisito, onde, é claro, coisa boa não vai acontecer. Chegando no tal lugar, Jonah encontra Lily (Fierman) busca libertá-la, acreditando que a “moça” estava no local.
            Feito de tantos erros quanto acertos, o longa dirigido por Gregg Bishop (V/H/S Viral), tenta expandir a mitologia sugerida no curta original ao criar elementos como a natureza sexual do relacionamento de Lily com suas vítimas, mas acaba perdendo tempo demais criando interação entre as vítimas os amigos, e lançando um sem-número de tramas paralelas com pouco objetivo na trama principal, inclusive gerando um efeito colateral de sentimento de empatia com aquela que seria a vilã do filme. Além disso, o alívio cômico representado pela figura do personagem Mac soa artificial e não funciona, aborrecendo com frequência.
           
Por outro lado, o roteiro cheio de situações nunca deixa o longa cair no tédio, que com duração enxuta mantem o interesse do espectador, criando ainda boas sequências de tensão, como quando os amigos entram na boate underground, ou durante a fuga de Lily. O design da criatura, fiel ao estilo original, continua perturbador e capaz de gerar bons pesadelos. E até mesmo o elenco, que é bastante ruim aqui, acaba funcionando justamente por remeter a uma estética e um jeitão de filme B, que lembra em alguns momentos filmes como Olhos Famintos, e que funciona muito bem, sobretudo no arrepiante e ominoso desfecho. Não é um novo clássico, mas é um horror puro sangue.

 

terça-feira, 9 de maio de 2017

O Sinal - Frequência do Medo (2014)

 O Sinal – Frequência do Medo (2014)
Original: The Signal País: EUA  Ano: 2014
Direção: William Eubank
Roteiro: William Eubank, Carlyle Eubank, David Frigerio
Produtores: Tyler Davidson, Brian Kavanaugh-Jones, Lia Buman
Elenco: Brenton Thwaites, Olivia Cooke, Beau Knapp, Laurence Fishburne, Lin Shaye, Jeffrey Grover, Patrick Davidson, Roy Kenny, Robert Longstreet, Drew Sykes.












Nic (Thwaites) e Jonah (Knapp) são dois jovens estudantes e melhores amigos, que manjam muito de computação e programação, e que por algum motivo são contatados por um hacker que se mostra um verdadeiro gênio da informática (e se autodenomina como Nomad). Dispostos a localizar o tal computeiro, eles partem numa viagem de carro até o estado do Nevada, acompanhados por Haley (Cooke), namorada de Nic. Ainda há espaço nesse início de trama para uma crise no relacionamente dos namorados, motivada em parte pela deficiência física de Nic e os planos dos jovens para seus futuros. Quando chegam no tal lugar, os jovens percebem uma área sem iluminação e com apenas uma velha casa aparentando abandono, que é de onde o sinal foi identificado. De repente, Nic acorda num local incerto e começa a ser interrogado por Damon (Fishburne), um sujeito misterioso vestido com uniforme anti-contaminação. O elenco ainda conta com uma subaproveitada Lin Shaye.

O parágrafo anterior tratou apenas dos primeiros vinte minutos do filme. Isto porque a direção de Eubank, inquieta, parece mudar de rumo a cada quinze minutos, não permitindo dessa maneira que o espectador consiga imergir completamente numa das várias linhas narrativas propostas pelo longa. Num momento, ficamos preocupados com a dificuldade de locomoção de Nic, mas isso parece não importar de fato, depois o foco muda para o relacionamento com sua namorada, mais tarde, depois queremos saber quem é o tal hacker e o que o mesmo deseja, em outra hora, a trama muda o foco para instalações militares secretas nos EUA, e em outro momento ainda, alienígenas ameaçam entrar na jogada. Ou seja, se os primeiros vinte minutos (e até o suspense que evoca a instalação secreta onde Nic se encontra) são bastante intrigantes, em outro instante se transforma num amontoado de ideias confuso e, aparentemente sem propósito de uma mente criativa, mas desorganizada. Ainda assim, é admirável que um universo aparentemente tão rico seja criado, além do bom primeiro ato.


No entanto, contando com um desfecho obscuro e sem explicações, O Sinal é mais um desses filmes que valem mais pela curiosidade do que propriamente sua qualidade, entretendo o espectador muito mais nas hipóteses e mistérios que lança durante sua projeção do que por sua confusa conclusão.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Demônio de Neon (2016)

Demônio de Neon (Neon Demon, EUA/Dinamarca/França, 2016)
Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Nicolas Winding Refn, Mary Laws, Polly Stenham
Produção: Lene Børglum, Sidonie Dumas, Vincent Maraval
Elenco: Elle Fanning, Karl Glusman, Jena Malone, Bella Heathcote, Abbey Lee, Desmond Harrington, Christina Hendricks, Keanu Reeves, Charles Baker, Stacey Danger, Jamie Clayton, Rebecca Dayan, Rachel Dik.













            Fazer comparações com os trabalhos anteriores de Nicolas Winding Refn é inevitável quando assistimos a Demônio de Neon, mais recente longa do cineasta dinamarquês conhecido por sua direção virtuosa, que lhe rendeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2011, pelo filme Drive.
            Demônio de Neon apresenta um roteiro (escrito à seis mãos) simples e rapidamente identificável. Nele, somos apresentados a Jesse (Fanning) uma adolescente de beleza única, que aporta em Los Angeles vindo sabe-se lá de onde, e rapidamente chama a atenção de figurões da indústria da moda, fazendo com que ela obtenha rapidamente uma escalada ao sucesso das modelos, e junto com isso também desperte a inveja de outras beldades (Heathcote e Lee), bem como outros tipos de interesse na maquiadora Ruby (Malone). Pronto. É isso. Se o espectador provavelmente já viu algum filme ou produto audiovisual com uma trama parecida com a descrita acima, não é a novidade narrativa que traz algum frescor a Demônio de Neon, mas sim o estilo do diretor Refn, que faz com que uma historinha simples e manjada (a exemplo de Drive, vale lembrar) ganhe um novo valor quando transposta para a linguagem audiovisual. Aqui não é diferente. Visualmente deslumbrante, seu novo longa parece ter sido concebido para ter cada um de seus planos emoldurado e exibido em uma galeria de arte, tamanha perfeição da mise en scène construída pelo diretor. Reparem, por exemplo, na cena em que Jesse encerra um desfile como destaque da coleção, e o jogo de cores (vermelho/azul) e formas, é responsável por criar um ponto de virada decisivo para a personagem. Aliás, assim como naquele filme de 2011, novamente Cliff Martinez retorna como compositor e faz mais uma vez uma trilha sonora impactante, repleta de arranjos eletrônicos.
            Porém aqui alguns problemas saltam aos olhos. Ignorando qualquer interesse sobre suas personagens, o filme se limita a delineá-las de maneira rasa, unidimensional, sem qualquer subtexto, aliás, criando a impressão de que as atrizes e atores do filme não passam de objetos de cena, não criando identificação alguma com o espectador. O filme ainda é cheio de cenas que, enquanto metáfora ou alegoria, falham ao exercer algum sentido na trama, como aquela que mostra uma onça dentro do quarto de Jesse. Outras dessas cenas soam apenas de mau gosto, como aquelas que envolvem abuso sexual e necrofilia.
        
    E já que não há como analisar de maneira profunda o trabalho do elenco do filme, resta avaliar alguma possível intenção de crítica que o longa possa oferecer. E nisso a meu ver Demônio de Neon também fica devendo. Parecendo em diversos momentos criticar a indústria da moda, da fama, e da beleza superficial, o filme acaba sendo vítima do próprio discurso que tenta veicular. Afinal, basta ver, entre outros aspectos, que Refn alimenta o próprio ego ao colocar nos créditos iniciais suas próprias iniciais, como se afirmasse: Ei, este é um produto da grife N.W.R. Ao que parece, a autoindulgência faz mais uma vítima. 


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