domingo, 28 de setembro de 2014

Max - Fidelidade Assassina

Max - Fidelidade Assassina (Man's Best Friend, EUA, 1993)
Diretor: John Lafia
Elenco: Ally Sheedy (Lori Tanner), Lance Henriksen (Dr. Jarret), Robert Constanzo (Detetive Kovacs), Fredric Lehne (Perry), John Cassini (Detetive Bendetti), J. D. Daniels (Rudy), William Sanderson (Ray), Rick Barker (Carteiro), Bradley Peirce (Chet), Mickey Cassidy (Paper Boy), Robert Shaye (Mecânico).
SINOPSE: Repórter que escreve matéria sobre tratamento cruel de animais liberta cão superdotado criado em laboratório. O animal desenvolve seus sentidos, tornando-se uma ameaça para a população, a não ser que o Dr. Jarret e policiais consigam encontrá-lo antes que seja tarde demais.




"A Natureza o criou. A Ciência o aperfeiçoou. Mas ninguém conseguiu controlá-lo" 




Max – Fidelidade Assassina conta a história da jornalista Lori (Ally Sheedy) que, decidida a obter um furo de reportagem, invade o instituto de pesquisas EMAX e encontra vários animais enjaulados e aparentemente sofrendo maus-tratos. Um deles, um cão mastim tibetano de nome Max, chama sua atenção e ela o liberta, sem saber que por trás de sua fidelidade e fofura existe uma fera caçadora e assassina geneticamente modificada.



O filme é uma grande bagunça, não sabendo se caminha para o humor (in)voluntário ou se leva a sério a ideia de um cachorro homicida. A única ideia que o filme brinca de encontrar é com o seu título original. A ideia de “o melhor amigo do homem” é levada a sério se levarmos em consideração a lealdade integral de Max para com Lori, levada até as últimas consequências, literalmente.

Povoado por personagens todos unidimensionais, com destaque negativo para as caricaturas dos policiais incompetentes e para o cientista louco interpretado por Lance Henriksen, que aqui se mostra um tremendo canastrão (diferente de sua memorável performance como Bishop em Aliens – O resgate), o filme escrito e dirigido por John Lafia não consegue se diferenciar de nenhum de seus companheiros genéricos, apresentando a mesma estrutura narrativa e os clichês da época. Mesmo a protagonista interpretada por Sheedy se mostra insossa e aborrecida, e no primeiro ato, se revela um ser de caráter duvidoso, uma quase proto-Gale-Weathers (Pânico), quando invade o laboratório tão somente para conseguir uma notícia sensacionalista, em vez de demonstrar uma preocupação genuína com os animais. 
Assim, quando assistimos aos ataques de Max, não há sequer um compadecimento mínimo com qualquer vítima, já que todas elas se mostram sujeitos desprezíveis que merecem seu destino, do carteiro que joga spray de pimenta em Max até o namorado de Lori que tenta envenenar o cão. Dessa maneira Max acaba se tornando o único personagem da trama que importa para o espectador, se tornando simpático em vez de uma ameaça genuína. E esses pontos denunciam o frouxo roteiro de Lafia. Não sabendo se quer mostrar Max como uma vítima das pesquisas do Dr. Jarret, ou como vilão, ele apela até mesmo para um ataque sexual de Max, quando este estupra (!!!) uma cadela vizinha, com direito à canção de fundo “Puppy Love”, o que confere um ar cômico à cena, mas mais uma vez denuncia a completa falta de tom e senso que Lafia deveria ter encontrado no filme, se desencontrando frequentemente entre a comédia, o horror, o filme reacionário ou o filme-denúncia.



O terceiro ato apela para uma perseguição gato-e-rato padrão e formulaica, mais do mesmo e que culmina num final terrivelmente anticlimático. Mesmo com toda a falta de qualidade, Max se configura com sendo o mais representativo e autoral trabalho do fraco John Lafia, cujo currículo exibe porcarias como o telefilme Ratos em Nova York (2002) e Brinquedo Assassino 2 (1990). Devem apreciar o filme apenas aqueles que lembram com certa nostalgia desse sub-clássico da TV aberta dos anos 90.

 NOTA: Crítica também publicada no site Boca do Inferno

domingo, 21 de setembro de 2014

Isolados

Isolados (Brasil, 2014)
Direção: Tomas Portella
Elenco: Bruno Gagliasso (Lauro), Regiane Alves (Renata), José Wilker (Doutor Fausto), Débora Olivieri (Paciente psiquiátrica), Orã Figueiredo (Policial Clóvis), Silvio Guindane (Policial Augusto), Juliana Alves (Luzia).
SINOPSE: O filme conta a historia de Lauro (Bruno Gagliasso), um residente de psiquiatria, e sua namorada Renata (Regiane Alves), artista plástica e ex-paciente da clínica onde ele trabalha. O casal sai de férias para uma casa no alto da região serrana carioca. No caminho Lauro ouve boatos sobre ataques violentos que vêm acontecendo na região. As vítimas são mulheres, que estão sendo barbaramente assassinadas. Lauro prefere esconder o fato de Renata, que é muito sensível e se impressiona facilmente. Sem saber do que está acontecendo, ela se torna mais vulnerável. Na mata ao redor Lauro percebe sinais de que os assassinos estão cada vez mais perto e a solução é manter Renata presa na casa. O isolamento torna a situação insustentável e a luta pela sobrevivência desencadeia uma trama repleta de suspense, onde a realidade e a loucura se misturam.




Hoje tive a oportunidade de ir conferir o thriller nacional Isolados. Anunciado há muito tempo, e funcionando também como uma homenagem póstuma ao falecido ator e diretor José Wilker, o longa acompanha a jornada do casal Lauro (Gagliasso) e Renata (Alves). Ele, um médico psiquiatra, acredita que uma viagem para a região serrana do Rio de Janeiro pode servir como alívio aos problemas psicológicos da namorada. Ela, visivelmente perturbada e apática, parece acomodada com qualquer situação que o namorado controlador forneça. Chegando lá, porém, Lauro é avisado por um dono de bar que ataques brutais na mata da região estão ocorrendo, mas Lauro prefere omitir a informação de Renata, temendo que seu estado emocional piore ainda mais, já que esta é facilmente impressionável.

A trama, embora batida e, alguns dirão, nada atraente, se salva primeiramente porque é um esforço quase pioneiro no cinema nacional, e se aqui e ali o diretor e roteirista Tomas Portella (ao lado da também roteirista Mariana de Vielmond) pesam a mão em situações que já vimos em diversos exemplares americanos e peca ao incluir diálogos pobres (o longa funciona muito melhor quando não há falas); por outro lado a equipe técnica de Isolados trabalha em conjunto para construir um ambiente de crescente claustrofobia e angústia, ressaltando o próprio título da obra e a situação desesperadora na qual os protagonistas passam a se encontrar, com destaque para a fotografia sombria e quase desprovida de cores quentes de Gustavo Hadba (Turistas) e o excepcional trabalho de maquiagem de Martín Trujillo (Tropa de Elite 2), que desempenha papel fundamental na compreensão da mudança que ocorre com os personagens da trama e o seu desfecho. 

Utilizando os clichês do gênero algumas vezes com efeitos artificiais (os sustos falsos baseados no aumento súbito da trilha são os principais e os que mais irritam) e criando uma estrutura fragmentada por flashbacks no primeiro ato da trama, o filme perde força, mas recupera toda sua atmosfera de mistério e tensão em seus momentos finais, onde as atuações seguras de Gagliasso e Alves, aliadas a um desfecho que não é tolo como a maioria dos plot twists estadunidenses, funciona bem e é coerente e honesto com toda a história que vinha apresentando até então. No final, posso afirmar que o público menos acostumado às convenções do gênero deve curtir muito Isolados pela novidade, e aqueles mais escolados no suspense devem enxergar uma inovação do cinema nacional ao mesmo tempo em que se divertem e se arrepiam com o enredo.

No entanto, uma coisa que me chateou envolvendo o filme foram os discursos de preconceito em relação à obra simplesmente pelo filme ser... brasileiro. E a sessão vazia (3 pessoas) na qual eu me encontrava com certeza foi reflexo disso. Uma pena.

NOTA: Crítica também publicada no Boca do Inferno

domingo, 14 de setembro de 2014

Um Lobisomem Americano em Londres

Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, Inglaterra, 1981)
Diretor: John Landis
Elenco: David Naughton (David Kessler), Griffin Dunne (Jack Goodman), David Schofield (Atirador de dardos), Lila Kaye (Barmaid), Jenny Agutter (Enfermeira Alex Price), John Woodvine (Dr. J. S. Hirsch), Frank Oz (Mr. Collins)
SINOPSE: Dois estudantes americanos estão em uma viagem pela Grã-Bretanha quando são atacados por uma estranha criatura. Um é morto, o outro apenas ferido. Parecendo haver um segredo entre os habitantes do vilarejo, a existência de uma fera é negada veementemente. O estudante que sobreviveu, David, começa a ter estranhos pesadelos e receber a visita de seu amigo morto, Jack, que o alerta sobre os perigos da próxima lua cheia.




"É Noite de Lua Cheia"


Se há uma criatura que considero fascinante no gênero fantástico é o lobisomem. Embora simples na sua concepção, o mito do lobisomem é extraordinariamente quase universal, o que prova o apelo popular de histórias, sejam elas em livros, contos, quadrinhos, e é claro, no cinema, como comprovam os antigos filmes de monstros da Universal. Para quem, como eu, curte esses seres monstruosos, 1981 foi O ano para eles. De uma só vez, três filmes foram lançados ao grande público, sendo lembrados até hoje, embora Lobisomem Americano tenha tido maior sucesso. Os outros dois são Grito de Horror (de Joe Dante) e Lobos (de Michael Wadleigh). Talvez o que tenha feito o sucesso do filme anglo-americano seja a excelente mistura de humor negro e horror sangrento, aliada à inovadora e criativa maquiagem de Rick Baker (que levou o primeiro Oscar da categoria) e à inventiva direção de John Landis, que não se esqueceu da mitologia envolvendo os lobisomens, ao mesmo tempo com pitadas ferozes de comédia, algo que ninguém melhor do que ele para fazer, já que o diretor, especialista em comédias, também teve incursões pontuais, mas marcantes na mistura de gêneros, como no video-clipe Thriller (1983, com o astro Michael Jackson) e no vampiresco Inocente Mordida (1992). 


No filme, dois amigos, Jack e David, fazem um mochilão pela Europa, primeira parada: Inglaterra. Num vilarejo pequeno, os dois buscam refúgio do frio numa taverna chamada The Slaughtered Lamb (algo como 'o cordeiro massacrado'). Embora Jack ache o chamariz para o bar um pouco estranho, David insiste para que entrem. Dentro do bar, os dois notam o estranho comportamento dos clientes, que subitamente param de falar quando os dois adentram. Notando um estranho símbolo na parede, cercada por velas (um pentagrama), Jack pergunta do que aquilo se trata, sendo tratados com aspereza e sendo mandados para fora do local, não sem antes serem alertados para "tomarem cuidado com a lua" e "não andarem pelos pântanos", mas obviamente não seguem os conselhos, e o que se segue é uma tensa cena do ataque do lobisomem, matando Jack e ferindo David. Sendo resgatado e tratado num hospital em Londres, David conhece a bela enfermeira Alex, mas sofre cada vez mais de pesadelos, o que culmina em sua transformação na lua cheia, mais uma vez inovando na maneira como foi filmada, tudo onscreen. Os ataques do lobisomem são outro espetáculo à parte, filmados frequentemente usando o ponto de vista do animal, são cheios de tensão e é impossível não se sentir inquieto com as sequências. Outra escolha extremamente criativa, apesar de parecer óbvia, foi a inclusão de temas na trilha sonora (ótima, por sinal) que remetem diretamente à imponência do nosso satélite natural, como em Blue Moon (três versões no filme), Bad Moon Rising e Moondance.

Pecando apenas em pontuais exageros de interpretação de David Naughton, o filme encerra epicamente, mostrando através da direção de Landis porque é o melhor filme do tema já realizado.



sábado, 6 de setembro de 2014

Voo Noturno

Voo Noturno (The Night Flier, EUA, 1997)
Diretor: Mark Pavia
Elenco: Miguel Ferrer (Richard Dees), Julie Entwisle (Katherine Blair), Dan Monahan (Merton Morrison), Michael H. Moss (Dwight Renfield/O Piloto da Noite), John Bennes (Ezra Hannon), Richard K. Olsen (Claire Bowie), J. R. Rodriguez (Policial no aeroporto), General Fermon Judd Jr. (Policial)
SINOPSE: Richard Dees (Miguel Ferrer), um jornalista de um tablóide sensacionalista sai em busca de um aviador misterioso, uma espécie de vampiro que pilota à noite e vai fazendo vítimas pelos aeroportos onde passa. Dees decide refazer o caminho macabro percorrido pelo piloto e acaba se envolvendo demais, colocando sua vida em risco.






"Nunca publique aquilo que acredita...nunca acredite naquilo que publica..."


Richard Dees (Miguel Ferrer, conhecido por papeis menores no cinema e algumas séries de TV) é um repórter inescrupuloso que trabalha para o tabloide Inside View, que baseia suas notícias e variedades exclusivamente em sensacionalismo e exageros, como “Abdução alienígena” ou “Mães que colocam seus filhos no freezer acreditando que são filhos do demônio”, entre outras várias bizarrices. No presente, o editor-chefe do jornal, Merton Morrison (Dan Monahan, o Pee-Wee da cinesserie Porky’s) oferece um novo caso a Dees, onde um misterioso assassino em um avião Cessna Skymaster está fazendo uma trilha de sangue atacando em pequenos aeroportos rurais sem nunca ser pego, ganhando a alcunha de “O Piloto da Noite”. A princípio recusando o convite, Dees acaba cedendo à oferta e acaba se envolvendo perigosamente no caso, com a suspeita de que o piloto da noite seja, afinal, um vampiro!

Assistir a Voo Noturno é sentir-se em casa em se tratando de adaptações de Stephen King. Inspirado em seu conto “O Piloto da Noite” (presente na antologia “Pesadelos e Paisagens Noturnas – Volume 1”), o longa foi produzido pelo veterano Richard P. Rubinstein, conhecido justamente por produzir diversas obras de terror, como Madrugada dos Mortos e várias adaptações de King, como A Maldição, Fenda no Tempo e Cemitério Maldito. Além disso, o próprio Stephen Kingindicou” o nome do diretor e roteirista Mark Pavia para dirigir a adaptação, pois havia adorado seu curta sobre zumbis de 35 minutos, “Drag” (16mm, 1993, que está disponível no Vimeo). Mark Pavia não dirigiria mais nada após este longa, mas o fato é que a combinação inspirada de profissionais deu muito certo, ainda que Voo Noturno permaneça como uma obra bem menos famosa de King.

Beneficiado por uma trilha sonora enervante composta por Brian Keane (ganhador do Emmy), o longa remete a uma atmosfera dos anos 80, embora produzido na década posterior, e, apesar de esquemático, o roteiro escrito por Pavia e seu amigo Jack O’Donnell consegue surpreender sem deixar de ser fiel ao conto, reproduzindo até mesmo as situações e diálogos existentes na história, e enchendo linguiça com qualidade, explorando alguns momentos que já existiam no material original e ainda brindando os fãs de gore com um festival de mortes e mutilações orquestrado pela equipe KNB de Kurtzman, Nicotero e Berger, com direito a um design de vampiro original e assustador. Ainda contam pontos para o filme o desfecho, que mostra um destino diferente para Dees em relação ao conto, mas que não perde nada da essência da obra literária e ainda dá margens para ironia e para interpretações sobre a sanidade do repórter. Um pequeno cult que vale muito a conferida pelos fãs de horror.

NOTA: Crítica também publicada no Boca do Inferno

 
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