Sob a Pele (Under the Skin, Reino Unido, 2013)
Diretor: Jonathan Glazer
Elenco: Scarlett Johansson, Paul Brannigan, Jeremy McWilliams, Adam Pearson, Lynsey Taylor Mackay, Dougie McConnell, Kevin McAlinden, D. Meade, Joe Szula, Krystof Hádek, Roy Armstrong, Alison Chand, Ben Mills, Oscar Mills, Lee Fanning, Antonia Campbell-Hughes, Jessica Mance.
SINOPSE: Um alienígena (Scarlett Johansson) chega à Terra e começa a percorrer
estradas desertas e paisagens vazias em busca de presas humanas. Sua
principal arma é sua sexualidade voraz... mas, ao longo do processo, ela
descobre uma inesperada porção de humanidade em si mesma.
No livro Sob a Pele de Michel Faber (2000), que serve de inspiração a este filme, uma alienígena vem a Terra para caçar homens cuja carne, que está "sob a pele", servirá como iguaria (vodsel) em seu planeta. Na obra original, Faber procura criticar a indústria produtora de carne e outros tipos de negócio, política e meio-ambiente. Jonathan Glazer, vindo de um longo hiato após o polêmico Reencarnação (2004, com Nicole Kidman), finalmente volta à direção em um projeto com o qual vinha sonhando há anos. No filme, embora a premissa se iguale com a obra que lhe serviu de base, temos uma ambição muito diferente, que se utiliza de um conteúdo altamente imagético e fraco em diálogos, para sugerir e incitar reflexões sobre as relações humanas, as aparências, a sexualidade e o sentido de ser humano.
Portanto, pode-se dizer que Glazer trocou uma metáfora por outra (ou várias outras), e sua abordagem transforma Sob a Pele em uma experiência única para quem a assiste, gostando ou não ao final da sessão. Ao investir, por exemplo, em diálogos raros e casuais, alguns dos quais gerados por improviso, o diretor se aproxima ao mesmo tempo, de um cinema mais puro, ao priorizar quase apenas imagem e movimento, e também de um cinema documental, realista, ao incluir câmeras escondidas e planos pouco ortodoxos no cinema convencional.
Leva algum tempo para nos acostumarmos com o estilo do filme, que leva um longo período entre uma cena estática e outra (às vezes, mesmo entre um plano e outro). Mas ao longo do filme, isso não é mais um problema, e passamos a acompanhar com interesse e curiosidade a jornada de uma alienígena (Scarlett Johansson) que, misteriosamente resguardada por um motoqueiro ao longo do filme, percorre em sua van as isoladas planícies escocesas (ótima escolha de locação) em busca de homens solitários que sofrem um destino agoniante e nada agradável após aceitarem a carona e entrarem no casebre da alienígena, afundando em uma espécie de lagoa espessa e metafórica, para a escuridão.
Utilizando imagens aparentemente aleatórias e desconexas no primeiro ato do filme, Glazer acaba nos apresentando como se nós mesmos fôssemos a alienígena que aprende a conviver nesse mundo, e é interessante quando, a partir de eventos específicos (o choro de um bebê e o encontro com um homem desfigurado), a protagonista começa a mudar, se humanizando, e passa de algoz a vítima, de observadora a observada, e repare como ela se reserva mais, não conduzindo os poucos diálogos que tem, mas sendo agora conduzida. São também interessantes várias pistas visuais dadas pelo diretor Glazer ao longo da trama, como por exemplo, como a alien passa a observar mulheres de sua van, em vez de homens, em dado instante do filme, como se passasse a querer exemplos para se humanizar em vez de apenas mirar em potenciais presas. Observando essas cenas, percebe-se que não há sequer um plano ou cena gratuitos na obra, e em vários momentos, Glazer e seu parceiro habitual, o diretor de fotografia Daniel Landin transformam imagens em símbolos, como perto da sequência final, quando pinheiros revoltos de uma floresta filmada de cima indicam uma grande perturbação à calmaria que se instala quando nossa visitante dorme em uma cabana no meio da mata.
Assim, uma das coisas mais interessantes no filme é a perfeita harmonia entre os artistas que compõe a obra. Mica Levi, estreante no cinema, nos envolve com sua trilha sonora sombria e enervante, combinando perfeitamente com o clima do filme às cenas de assassinato, mas repare como a partir das mudanças ocorridas na protagonista a trilha também muda; antes robótica e eletrônica, passa a soar mais melódica e humana. Somada a música, temos mais uma vez a fotografia de Landin que aposta frequentemente em jogos de luzes entre fundos completamente brancos e completamente negros, além do dramático desfecho que parece criar uma angústia claustrofóbica causada pelas árvores no meio da mata. Não pretendo revelar mais do que isso, mas o fato é que independente de sua avaliação do filme, é impossível ficar passivo à experiência visual arrebatadora que é Sob a Pele.
Trailer:
Nota: Sob a Pele estreou quinta-feira 15 de Maio, e está em cartaz em apenas 27 salas no Brasil
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