domingo, 22 de dezembro de 2013

The Woman - Nem todo monstro vive na selva

The Woman - Nem todo monstro vive na selva (The Woman, EUA, 2011)
Diretor: Lucky McKee
Elenco: Pollyanna McIntosh (A Mulher), Brandon Gerald Fuller (Bebê), Lauren Ashley Carter (Peggy Cleek), Chris Krzykowski (Roger), Sean Bridgers (Chris Cleek), Angela Bettis (Belle Cleek), Marcia Bennett (Deana), Shyla Molhunsen (Darlin' Cleek), Zach Rand (Brian Cleek), Carlee Baker (Genevieve Raton)
SINOPSE: Quando um famoso advogado do interior decide capturar uma mulher selvagem que encontrou na mata, o último membro de um violento clã que dominou a costa Norte dos EUA por décadas, e tenta civilizá-la, ele coloca a vida de toda sua família em risco.











O mais recente trabalho do diretor Lucky McKee (desconsiderando o recém-exibido em Toronto, All Cheerleaders Die), é de uma singularidade impressionante. Trabalha com tantos temas e possui uma condução tão estranha que se torna difícil tomar uma posição ao final da trama. Misoginia, aparências familiares e feminismo são alguns dos temas que o longa se propõe a analisar. Vindo de alguns trabalhos menores, McKee volta a investir num pesado drama (grafica e psicologicamente) que apresenta a princípio um plot bastante óbvio, ainda que nada convencional.
‭As evidências de um conto feminista estão por todo o filme. Repare, por exemplo, como Mckee nos apresenta primeiramente à mulher, e não à família afetada por ela, e como a primeira integrante da família a ser apresentada, a filha mais velha Peggy, está em uma posição superior no plano quando é incomodada por um pretendente adolescente, que se mostra um babaca, é claro. Aliás, logo em seguida somos apresentados ao principal antagonista da trama, o advogado inescrupuloso, mas bem-sucedido Chris Cleek; ele, apesar de também estar em uma posição superior dentro do quadro, é apresentado logo de cara como aquilo que é: Um sujeito machista, que não dá a mínima para a esposa submissa ou para as preocupações “fúteis” da filha. Aliás, é também interessante mencionar que todos os personagens masculinos do filme, mesmo os mais jovens, são mostrados como seres desprezíveis, desprovidos de qualquer moral ou empatia, e como as mulheres são postas em uma posição de inferioridade e submissão, e esses extremos de caracterização que o filme aborda são necessários devido ao caráter alegórico que o filme assume. As mulheres que fogem da generalização acima, incluindo a selvagem e a professora de Peggy, são logo alvos da brutalidade do universo androcêntrico de Mckee.



Exemplificando o caráter machão de Chris, temos a óbvia, porém interessante referência às armas e à caça, símbolos quase fálicos em se tratando de cultura americana, e é em uma dessas caçadas que Chris encontra A Mulher do título, tomada como objeto de caça (literalmente), a selvagem é vista sob a ótica subjetiva de Chris, ao mesmo tempo como um objeto sexual e uma ameaça à ordem natural das coisas do universo diegético, que pode ser exagerado, mas nunca fantasioso (tendo em vista o conceito patriarcal e machista que ainda reina em nossa sociedade), e o objetivo de Chris ao caçá-la é civilizá-la (leia-se: domesticá-la), e colocá-la sob o mesmo jugo de todas as outras mulheres do mundo (ou pelo menos, de sua família).

‭A trilha sonora, composta integralmente pelo músico Sean Spillane, é correta e contém pelo menos uma composição memorável, Patient Satellite, incluída em um momento tenso e crucial da trama e que funciona bem também fora do filme. Entretanto não posso deixar de dizer que ficarei eternamente curioso em saber como seriam as composições da talentosíssima parceira de McKee, Jaye Barnes-Luckett, habitual companheira em seus filmes. Na composição dos personagens, Sean Bridgers fornece uma atuação correta, dosando a frieza e a violência de seu personagem com naturalidade, enquanto Pollyanna McIntosh traz toda a selvageria para seu personagem que forma surpreendentemente um caráter tridimensional, assim como todos os membros principais da trama, revelando também um cuidado na direção de atores. Somente Angela Bettis, cujo trabalho admiro muito, tem pouca chance para brilhar, devido principalmente ao caráter reprimido de sua personagem, e ela acaba incluindo infelizmente alguns maneirismos pontuais que desapontam. 
‭Desbancando para o sangrento e o imprevisível no terceiro ato, McKee pode até desagradar ao oferecer várias sequências absurdas em texto e contexto, mas é inegável que consegue atingir o espectador em todos os níveis, e um horror bem filmado e com forte comentário social como este se torna obrigatório para o gênero.



Curiosidades:
  • O livro "The Woman" foi lançado coincidentemente com o filme. De autoria de Jack Ketchum e Lucky McKee;
  • Chris Cleek repetidamente utiliza a palavra "anoftalmia" em referência a uma de suas filhas. Esse termo descreve a ausência congênita de um ou dos dois olhos humanos. 

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3 comentários:

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