Desespero (Stephen King's Desperation, EUA, 2006)
Diretor: Mick Garris
Escritor: Stephen King
Elenco: Ron Perlman (Xerife Collie Entragian), Tom Skerritt (John Edward Marinville), Steven Weber (Steve Ames), Annabeth Gish (Mary Jackson), Charles Durning (Tom Billingsley), Matt Frewer (Ralph Carver), Henry Thomas (Peter Jackson), Shane Haboucha (David Carver), Kelly Overton (Cynthia Smith), Sylva Kelegian (Ellie Carver), Sammi Hanratty (Pie Carver).
SINOPSE: Quando um xerife prende um escritor, uma família, um casal e um caroneiro, e os trancafia em uma cela, na desolada cadeia da pequena Desperation, eles devem lutar por suas vidas. A caminho do Lago Tahoe, por ansiadas férias, a família Carver é presa quando os quatro pneus de seu trailer furam. Collie Entragian é o xerife encarregado na pequena cidade no estado do Nevada, e um policial cuja maldade transcende sua vida. Mas os Carvers não estão sozinhos. Entragian tem o péssimo hábito de regularmente deter os viajantes na estrada que corta a cidade e cuja população, na verdade, foi formada a partir do seu arbítrio. O xerife também pode mudar de forma e convocar a ajuda de criaturas horripilantes, incluindo escorpiões, cobras e aranhas.
As adaptações
para cinema e TV de Stephen King formam um assunto polêmico,
sobretudo entre fãs do autor. Grandes obras da sétima arte, como O
Iluminado (1980), de Stanley
Kubrick, adquiriram má fama entre os admiradores do “Rei do Maine”
principalmente por inverter passagens importantes do romance,
incluindo o tom da narrativa e o desfecho da obra original (Eu sou um
dos detratores, preciso rever o filme de Kubrick com olhos mais
voltados ao filme em si do que ao livro). O próprio King não gostou
de praticamente nada no filme acima citado. No entanto, é bastante
comum que filmes que se mostram fiéis ao trabalho de King, como O Apanhador de Sonhos (2003) ou
seu filho único na direção, Comboio do Terror (1986)
sejam massacrados pelo público como péssimos filmes. O que talvez
seja possível concluir com tais fatos é que 1) Filmes são
diferentes de livros, copiar e colar o que é escrito pode não
funcionar tão bem, e 2) Não há fórmula perfeita para se adaptar
um livro, exceto, talvez, a tese que Frank Darabont defende: Manter o
tom
da narrativa sem ser escravo do material original.
Se
inicio o texto com essa breve introdução sobre adaptações, é
porque Desespero,
um telefilme de 2006 teve seu roteiro escrito exclusivamente por
King, foi dirigido por Mick Garris, um fanático pelo gênero horror
que já havia dirigido cinco adaptações dele (O
Iluminado,
Dança da Morte,
A Maldição de
Quicksilver,
Montado na Bala
e Sonâmbulos)
algo que só poderia resultar em um produto fiel e de alta qualidade,
certo? Errado. Desespero
estreou
no canal ABC em 23 de Maio de 2006 e obteve pouco sucesso entre
público e crítica, sendo indicado a dois Emmys, mas não ganhando
nenhum.
Um
fato interessante é que Stephen King publicou Desespero
no mesmo ano em que publicou, sob o pseudônimo de Richard Bachman,
seu romance complementar, Os
Justiceiros,
com personagens em comum, mundos em paralelo, e que giram em torno da
entidade Tak, um demônio das profundezas que pode controlar a vida
selvagem e se apossar de corpos humanos, como se fosse um parasita.
No filme, um casal em viagem por uma rodovia no meio do deserto do
Nevada, quando são parados por uma figura pra lá de estranha, o
xerife Collie Entragian (o ótimo Ron Perlman) que detém os dois
pela posse de maconha. Antes de chegar na cadeia, o casal percebe uma
cidade aparentemente deserta a não ser por alguns corpos pelas ruas
e pelos detentos na delegacia local. Collie Entragian se mostra então
um sujeito não somente estranho, mas assassino, misterioso e que
guarda algo sobrenatural na sua existência.
Prejudicado
pelas próprias características que não lhe negam a natureza de
telefilme (fotografia chapada, fade
outs
para os comerciais, edição com muitos cortes secos, que se
distanciam do virtuosismo da montagem cinematográfica, etc.),
Desespero tem
suas únicas qualidades no elenco, com destaque para Ron Perlman
(Hellboy)
que imprime no seu personagem um caráter assustador através de
maneirismos e que aqui funcionam extraordinariamente bem justamente
pela natureza insana do xerife. Curiosamente, quando o personagem
Entragian deixa a trama, o filme cai na morosidade do roteiro, perde
a atmosfera inquietante da primeira hora, e deixa o espectador
entediado com longos diálogos entre os personagens que talvez
funcionaram melhor no livro, e um ritmo lento que vai de encontro ao
início do filme. Além disso, King faz apostas de gosto duvidoso,
como alçar o estereótipo do “pré-adolescente chatonildo” a uma
posição de herói dentro da trama, nunca algo bom. Por fim, Garris
e King ainda terminam o filme com um desfecho morno que não
corresponde em nada ao desespero prometido pelo título.
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