terça-feira, 23 de janeiro de 2018

"A Forma da Água" (2017)

A Forma da Água (The Shape of Water, Canadá/EUA, 2017)
Diretor: Guillermo Del Toro
Roteiristas: Guillermo Del Toro, Vanessa Taylor
Produção: Guillermo Del Toro, J. Miles Dale
Elenco: Sally Hawkins, Doug Jones, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, David Hewlett, Nick Searcy, Stewart Arnott, Lauren Lee Smith, Martin Roach, Nigel Bennett, Allegra Fulton, Morgan Kelly, John Kapelos
SINOPSE: Elisa é uma zeladora muda que trabalha em um laboratório onde um homem anfíbio está sendo mantido em cativeiro. Quando Elisa se apaixona com a criatura, ela elabora um plano para ajudá-lo a escapar com a ajuda de seu vizinho.










Cineasta que se tornou globalmente conhecido por suas fábulas fantásticas que frequentemente utilizam criaturas e seres sobrenaturais como alegoria para histórias mais ambiciosas (dentre as quais, O Labirinto do Fauno (2006) e A Espinha do Diabo (2001)), o mexicano Guillermo Del Toro aqui finalmente torna real seu grande projeto de vida, com o qual vinha sonhando há anos, abrindo mão até mesmo do salário de diretor para o projeto poder vir à tona com orçamento abaixo de 20 milhões de dólares. Estamos falando de A Forma da Água, filme visualmente rico, referencial, alegórico e catártico, ou simplesmente cinema em sua forma mais bela.O Ano é 1962. Num cenário de Guerra Fria e Corrida Espacial, o roteiro enfoca um laboratório de pesquisas do governo americano em Baltimore, onde a Zeladora sem fala, Elisa Esposito (Sally Hawkins) descobre um estranho humanóide anfíbio (Doug Jones), capturado na Amazônia e mantido em cárcere para pesquisas que é frequentemente torturado pelo militar linha-dura Strickland (Michael Shannon), e desenvolve pela criatura empatia, afeição que logo se transforma em amor. No roteiro Elisa ainda convive com sua melhor amiga e colega de trabalho, Zelda (Octavia Spencer) e seu vizinho de porta, o artista Giles (Richard Jenkins).
Mantendo o virtuosismo técnico que já lhe é característico, Del Toro cria mais uma vez um incrível universo visual, com riqueza de detalhes tanto em seu desenho de produção quanto em seus figurinos (vale lembrar, inclusive, que o aspecto do anfíbio deve-se a uma roupa especial e ao trabalho de corporal de Jones, com quase nenhuma maquiagem ou efeitos digitais), reconstruindo com perfeição a época na qual se passa o longa, que aliás, é uma homenagem ao próprio clássico O Monstro da Lagoa Negra (1954).
Assumindo um caráter de conto de fadas, A Forma da Água ainda conta com uma sublime trilha sonora original composta por Alexandre Desplat, que combina tons melancólicos com outros que remetem de maneira inequívoca às histórias de princesas. No entanto, não se trata de uma fábula infantil, mas de um conto adulto – e sobretudo, maduro – já que aqui a princesa se masturba, faz sinais obscenos e também faz sexo. Aliás, já que mencionamos a princesa sem voz. Hawkins se despe de qualquer vaidade e maneirismo e entrega uma atuação tocante sem precisar dizer uma palavra, o que se combina perfeitamente com a criatura, que também é incapaz de falar. Richard Jenkins compõe seu papel com sutileza e sem histrionismo, capaz de emocionar até quando atua somente como narrador. Já Spencer, Shannon e Stuhlbarg, sem muito tempo de tela, não comprometem e demonstram a competência de sempre em suas personagens.
Finalmente o roteiro, que muitas vezes vem sendo excessivamente tachado de maniqueísta e simplista, aborda várias questões de fundo com considerável complexidade. Não somente Elisa ou a criatura são tratadas como seres diferentes que sofrem obstáculos, mas igualmente Zelda, por ser negra e mulher, tem seus dilemas retratados na figura de Strickland, que a trata como estereótipo e seu marido, que a trata com indiferença. Já Giles, por ser gay, não demora a perceber que os cidadãos de bem somente o são até que descubram sua orientação sexual. O romance, o conto de fadas e a fábula estão aí justamente para mostrar que não devem existir preconceitos ou barreiras entre as pessoas, somente por essas serem diferentes do padrão. Merecendo todo o reconhecimento e premiações que vem recebendo por este trabalho, Del Toro vem nos mostrar que, assim como a água, o amor não tem forma definida.



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