Encarnação
do Demônio (Brasil, 2008)
Direção:
José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins (Josefel Zanatas – Zé do
Caixão), Jece Valadão (Coronel Claudiomiro Pontes), Adriano Stuart (Capitão
Oswaldo Pontes), Milhem Cortaz (Padre Eugênio), Rui Rezende (Bruno), Zé Celso
(Mistificador), Lucy Pontes (Cristina Aché), Helena Ignez (Cabíria), Débora
Muniz (Lucrecia), Thais Simi (Maíra), Cléo de Páris (Dra. Hilda), Nara Sakarê
(Elena), Giulio Lopes (Mário), Eduardo Chagas (Emiliano), Luis Melo (Seu
Américo), Raymond Castille (Zé do Caixão jovem).
SINOPSE: Após
40 anos preso, Zé do Caixão é finalmente libertado. De volta às ruas, o coveiro
sádico está decidido a cumprir a meta que o levou à prisão: encontrar a mulher
que possa gerar seu filho perfeito. Em seu caminho pela cidade de São Paulo,
ele deixa um rastro de horror, enfrentando leis não-naturais e crendices
populares. O filme encerra a trilogia clássica de José Mojica Marins.
"O Sangue é Eterno"
Dizem
que o maior erro do cineasta José Mojica Marins foi o de ao longo dos anos se
confundir com sua maior criação: o personagem icônico Zé do Caixão.
Talvez isso seja verdade, mas é inegável que este personagem deu força para que
Mojica continuasse povoando a mente dos brasileiros e também do público internacional,
mesmo com o seu grande hiato nas telas do cinema (seu último projeto do gênero como
diretor foi o pequeno Perversão (1979)). E podemos dizer que a espera
valeu a pena, pelo menos para o público fã de horror, que conseguiu finalmente
conferir a parte final da trilogia que começou com À Meia Noite Levarei Sua
Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no teu cadáver (1967).
A
própria trama se confunde com o grande período de Mojica fora do cinema, já que
se passa exatamente 40 anos após os eventos do último filme da série. Após um
longo tempo trancafiado em uma penitenciária suja, Josefel Zanatas ou Zé do
Caixão (Mojica) é libertado para desespero do diretor da cadeia, interpretado
por um convincente Luis Melo. Desta vez solto nas ruas da capital paulista, Zé
continua sua busca pela mulher superior que gerará seu filho perfeito, e que
dará continuidade ao seu legado de morte. No caminho terá que enfrentar dois
policiais, um padre em seu encalço e a ira dos fantasmas das vítimas anteriores
de Zé.
Escrito
por Mojica e Dennison Ramalho (do premiado e violento curta-metragem Amor
Só de Mãe), o filme é caprichado tecnicamente, incluindo um crew bastante
profissional, que se distancia dos primeiros projetos de Mojica, como a direção
de arte vistosa de Cássio Amarante, que constrói muito bem o ‘quartel-general’
de Zé, a belíssima fotografia de José Roberto Eliezer e a trilha sonora
enervante de André Abujamra e Marcio Nigro. Além disso, temos a maquiagem de
efeitos de Kapel Furman (também presente no curta de Dennison) que não fica
devendo nada aos americanos. Mesmo com um orçamento maior e uma técnica mais
aprimorada, o longa mantém toda a tradição dos primeiros filmes, que vão desde
o tom declamatório na maioria dos diálogos até a presença de insetos e o
combate às crendices populares. E justamente nas atuações é que mora um dos
problemas. Além de alguns atores serem bem inexperientes, temos o policial
extremamente caricato interpretado por Adriano Stuart e a atuação insana de
Milhem Cortaz, que ora funciona, ora não. O veterano Jece Valadão aparece bem,
ainda que o triste fato de seu falecimento tenha forçado mudanças no já frágil roteiro; também temos as já citadas declamações que soam
muitas vezes anti-climáticas e por vezes constrangedoras. Já as cenas de
tortura são, no geral, gratuitas e remetem diretamente ao subgênero torture-porn, algo que não é um elogio nesse caso, mas Mojica ganhou finalmente o merecido
encerramento de sua trilogia, e a fecha de maneira satisfatória, com direito a
uma edição em DVD recheada de materiais extras distribuída pela Fox Film. E como o plano
contra-plongée de Zé do Caixão numa cena do filme sugere, ele ainda está em uma
posição bastante superior no nosso cinema de gênero, ainda que para essa continuação aspectos desastrosos como o machismo que permeia todo o filme, além dos diálogos expositivos e mal escritos tenham prejudicado bastante o longa, que foge bastante das propostas originais dos primeiros dois filmes de Mojica.
Curiosidades:
- Alguns dos papeis dos filmes foram interpretados por atores com pouca ou nenhuma experiência;
- A cena na qual ocorre a suspensão de um policial por meio de ganchos cravados em suas costas foi feita por um performer de body modification, ou seja, a cena foi real, sem maquiagem envolvida.
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