Direção:
James Watkins
Elenco: Kelly Reilly (Jenny), Michael Fassbender
(Steve), Tara Ellis (Abi), Jack O’Connell (Brett), Finn Atkins (Paige), Jumayn
Hunter (Mark), Thomas Turgoose (Cooper), James Burrows (Harry), Tom Gill
(Ricky), Lorraine Bruce (Tanya).
SINOPSE: Steve (Fassbender) pretende levar sua
namorada Jenny (Reilly) para um local paradisíaco para pedi-la em casamento. Se
recusando a permitir que algo estrague seu final de semana romântico, o casal
confronta uma gangue de delinquentes juvenis com consequências terrivelmente
brutais.
A RESENHA PODE CONTER SPOILERS
“Mas eles são apenas crianças!”
Escrevo
este texto no momento em que acaba de ocorrer no Rio de Janeiro a morte
violenta de vários jovens executados por traficantes, provavelmente por eles terem cruzado
a comunidade onde tais criminosos são os “reis do tráfico” e também para a propria demonstração de poder dos bandidos. Indo um pouco mais longe nos casos de violência, tivemos a morte do casal Luana Friedenbach e Felipe
Caffé em 2003, que chocou a todos pelo fato de os jovens terem sofrido todo
tipo de tortura física e psicológica por vários dias nas mãos de seus algozes,
entre eles um menor de idade, um fato do qual me lembrei ao terminar de assistir este Sem
Saída. A violência urbana e desmedida infelizmente nunca esteve tão palpável
como nesses últimos “tempos”.
Se começo o texto desta maneira é porque a violência cometida por
crianças/adolescentes e a passividade de seus pais diante de seus crimes é
parte fundamental de Eden Lake. No estudo do medo e do cinema de horror
cabe fazer a distinção a meu ver de dois “tipos” de medo. O medo real que
sentimos todos os dias ao sair (ou permanecer) em casa, o medo de perder alguém
querido vítima de violência, ou de sermos nós mesmos vítimas dela, e o medo que
nos serve muitas vezes como escapismo ao outro medo, o medo do sobrenatural, o
medo que sentimos ao assistir a filmes de terror, onde o compadecimento é
compartilhado com os protagonistas apenas em parte. Esse seria um medo “saudável”
e que, em contraposição ao outro tipo de medo, serviria inclusive para aplacar
nosso stress diário. Por isso mesmo, os filmes de terror mais chocantes sejam
aqueles que nos mostram o horror real, que poderia muito bem acontecer conosco
(guardadas as devidas proporções), fazendo com que literalmente nos coloquemos
na pele dos protagonistas.
Sem
Saída é um horror inglês que
conta a história do casal Jenny e Steve (Reilly e Fassbender) que sai para um fim
de semana romântico à beira de um belo lago. Chegando lá, eles encontram um
grupo de adolescentes baderneiros e delinquentes, que logo se tornam uma ameaça
real quando ocorre um embate entre eles e o casal. Agora os dois precisam lutar
por suas vidas ante a presença dos perigosos jovens.
Sem
Saída nos coloca como
poucos filmes na pele do casal principal, fazendo além de nos importarmos muito
com aquelas pessoas (um pressuposto fundamental do gênero), que nos coloquemos
na pele delas, e compartilhemos seu sofrimento, senão físico, psicológico, como
mostra uma cena em especial na qual um personagem assiste, sem poder fazer
nada, uma tortura dolorosa e gráfica.
Além
disso, o diretor de fotografia Christopher Ross cuida bem do visual cada vez mais opressor,
apostando em fotografia levemente escurecida no início do filme, e em planos
gerais que salientam o isolamento dos protagonistas. Atuações são outro ponto
forte, sobretudo a de Kelly Reilly, que traz para sua interpretação o
sofrimento e a angústia necessários para que a trama funcione, como na cena em
que enfia um caco de vidro no pescoço de um dos adolescentes, mas logo em
seguida o toma em seus braços sentindo leve remorso não só pelo ato em si, mas também
pela perda de uma vida em desenvolvimento, pois sua personagem é uma educadora
infantil.
O
único ponto negativo reside em algumas situações forçadas, como na cena onde
Jenny precisa se esconder de seus algozes e, num momento está encurralada em
volta de um container, e no outro, já está por cima dele, revelando o uso de um
clichê básico e prejudicando (mas só por um momento) a realidade da situação.
Por
fim, Sem Saída entrega um desfecho brutal e sem concessões, finalizando
sua trama com a crueldade que vinha entregando desde o segundo ato. Fica um nó
na garganta, uma sensação de impotência e frustração justamente por não termos
obtido o desejado final feliz. Ponto para o diretor Watkins (A Mulher de Preto), que não se entregou às convenções hollywoodianas e se manteve fiel à
verossimilhança impressa pelo restante do filme, e ponto para o cinema de
horror inglês, que vem lançando grandes filmes nos últimos anos.
De
quebra, o filme ainda nos passa uma mensagem social nada sutil: crianças podem
ser muito perigosas, sobretudo com pais levianos e condescendentes.
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