quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Medo real em "Sem Saída"


Sem Saída (Eden Lake, Inglaterra, 2008)
Direção: James Watkins
Elenco: Kelly Reilly (Jenny), Michael Fassbender (Steve), Tara Ellis (Abi), Jack O’Connell (Brett), Finn Atkins (Paige), Jumayn Hunter (Mark), Thomas Turgoose (Cooper), James Burrows (Harry), Tom Gill (Ricky), Lorraine Bruce (Tanya).
SINOPSE: Steve (Fassbender) pretende levar sua namorada Jenny (Reilly) para um local paradisíaco para pedi-la em casamento. Se recusando a permitir que algo estrague seu final de semana romântico, o casal confronta uma gangue de delinquentes juvenis com consequências terrivelmente brutais.

A RESENHA PODE CONTER SPOILERS



“Mas eles são apenas crianças!”




Escrevo este texto no momento em que acaba de ocorrer no Rio de Janeiro a morte violenta de vários jovens executados por traficantes, provavelmente por eles terem cruzado a comunidade onde tais criminosos são os “reis do tráfico” e também para a propria demonstração de poder dos bandidos. Indo um pouco mais longe nos casos de violência, tivemos a morte do casal Luana Friedenbach e Felipe Caffé em 2003, que chocou a todos pelo fato de os jovens terem sofrido todo tipo de tortura física e psicológica por vários dias nas mãos de seus algozes, entre eles um menor de idade, um fato do qual me lembrei ao terminar de assistir este Sem Saída. A violência urbana e desmedida infelizmente nunca esteve tão palpável como nesses últimos “tempos”.


Se começo o texto desta maneira é porque a violência cometida por crianças/adolescentes e a passividade de seus pais diante de seus crimes é parte fundamental de Eden Lake. No estudo do medo e do cinema de horror cabe fazer a distinção a meu ver de dois “tipos” de medo. O medo real que sentimos todos os dias ao sair (ou permanecer) em casa, o medo de perder alguém querido vítima de violência, ou de sermos nós mesmos vítimas dela, e o medo que nos serve muitas vezes como escapismo ao outro medo, o medo do sobrenatural, o medo que sentimos ao assistir a filmes de terror, onde o compadecimento é compartilhado com os protagonistas apenas em parte. Esse seria um medo “saudável” e que, em contraposição ao outro tipo de medo, serviria inclusive para aplacar nosso stress diário. Por isso mesmo, os filmes de terror mais chocantes sejam aqueles que nos mostram o horror real, que poderia muito bem acontecer conosco (guardadas as devidas proporções), fazendo com que literalmente nos coloquemos na pele dos protagonistas.

Sem Saída é um horror inglês que conta a história do casal Jenny e Steve (Reilly e Fassbender) que sai para um fim de semana romântico à beira de um belo lago. Chegando lá, eles encontram um grupo de adolescentes baderneiros e delinquentes, que logo se tornam uma ameaça real quando ocorre um embate entre eles e o casal. Agora os dois precisam lutar por suas vidas ante a presença dos perigosos jovens.

Sem Saída nos coloca como poucos filmes na pele do casal principal, fazendo além de nos importarmos muito com aquelas pessoas (um pressuposto fundamental do gênero), que nos coloquemos na pele delas, e compartilhemos seu sofrimento, senão físico, psicológico, como mostra uma cena em especial na qual um personagem assiste, sem poder fazer nada, uma tortura dolorosa e gráfica.

Além disso, o diretor de fotografia Christopher Ross cuida bem do visual cada vez mais opressor, apostando em fotografia levemente escurecida no início do filme, e em planos gerais que salientam o isolamento dos protagonistas. Atuações são outro ponto forte, sobretudo a de Kelly Reilly, que traz para sua interpretação o sofrimento e a angústia necessários para que a trama funcione, como na cena em que enfia um caco de vidro no pescoço de um dos adolescentes, mas logo em seguida o toma em seus braços sentindo leve remorso não só pelo ato em si, mas também pela perda de uma vida em desenvolvimento, pois sua personagem é uma educadora infantil.

O único ponto negativo reside em algumas situações forçadas, como na cena onde Jenny precisa se esconder de seus algozes e, num momento está encurralada em volta de um container, e no outro, já está por cima dele, revelando o uso de um clichê básico e prejudicando (mas só por um momento) a realidade da situação.

Por fim, Sem Saída entrega um desfecho brutal e sem concessões, finalizando sua trama com a crueldade que vinha entregando desde o segundo ato. Fica um nó na garganta, uma sensação de impotência e frustração justamente por não termos obtido o desejado final feliz. Ponto para o diretor Watkins (A Mulher de Preto), que não se entregou às convenções hollywoodianas e se manteve fiel à verossimilhança impressa pelo restante do filme, e ponto para o cinema de horror inglês, que vem lançando grandes filmes nos últimos anos.

De quebra, o filme ainda nos passa uma mensagem social nada sutil: crianças podem ser muito perigosas, sobretudo com pais levianos e condescendentes.



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